Capítulo 46

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Após destruir minha vida, ela finalmente me deixou.
Eu vi seus olhos se fechando pela última vez, e, mesmo sendo seus últimos segundos de vida, a maldade ainda estava nítida em sua face.
Tudo que ela fez em minha vida foi planejado, tudo de caso pensado, seu principal motivo para viver era me fazer morrer.
Morrer aos poucos. Por dias ela me viu ainda criança implorando a morte por não aguentar mais sofrer, e ela apenas sorria, porém, o amor que eu sentia por ela me deixava cega ao ponto de não perceber suas maldades.

Ah Dona Maria, como eu te amei, eu te amei da forma mais intensa que uma neta poderia amar uma avó. Eu só queria cuidar de você na sua velhice, te dar carinho e proteção, mas infelizmente a amargura que existia em seu coração não deixou que você recebesse de mim o que eu tinha de melhor para você: MEU AMOR.
Queria nesse momento dizer que sinto muito pela sua morte, mas não consigo. Não consigo sentir a dor da morte por uma pessoa que fez tanta maldades a mim desde que eu era apenas uma criança, uma pessoa que teve a capacidade de ajudar a estuprar sua própria neta, que teve a  coragem de tirar a vida de seu próprio bisneto. Uma pessoa que não teve o mínimo de humanidade, compaixão e amor ao próximo.

É inexplicável a forma como a maternidade muda a gente. Prova disso é que a minutos atrás eu amava minha avó incondicionalmente, e a partir do momento em que ela disse e alto e bom tom que havia tirado a vida do meu filho todo esse amor que eu sentia por ela se transformou em raiva.

Agora, depois do choque de realidade, caminho pelos corredores em busca do médico responsável pelo caso da minha avó para dar-lhe a notícia de seu falecimento. Ela já havia me alertado do seu estado de saúde, e não me deu garantia alguma de sua melhora.

Faleceu? -Pergunta o Doutor com tristeza nos olhos, receoso coma  reação de Mia em relação a morte de sua avó.

Sim, faleceu. Estavamos conversando e ela começou a se sentir mal e  não resistiu. O senhor mais do que ninguém sabe que o estado dela não era dos melhores.

Eu sinto muito, meus pêsames.

Não sinta.

Irei dar uma passada no quarto dela, para dar uma última olhada. Depois, podemos dar continuidade aos procedimentos para a realização do enterro.

Sempre fiquei imaginando como seria no dia que eu perdesse minha avó, esse dia chegou e não está sendo nada da forma como imaginei.
Não posso dizer que estou feliz com sua morte, pois se eu estivesse feliz com a morte de alguém eu seria tão ruim quando minha avó, e não sou assim.
Sempre tive muito medo de perde-la, mas hoje aqui nesse hospital, eu conheci um lado da minha avó que eu não conhecia, minha decepção foi tanta que eu não consigo ser quer sentir pela sua morte. Não estou feliz, acho que estou aliviada em saber que ela não poderá mais cometer aquelas monstruosidades contra mim.

Dei a notícia a Crhis, a princípio ela tentou me conformar, mas ao perceber que não estava abalada como deveria, ela mostrou a mesma calma que eu. No fundo ela nunca suportou minha avó, porque ela sabia que minha avó não era flor que se cheire, só eu não percebia mesmo.

Crhis e eu cuidamos de tudo, a respeito do velório e o sepultamento. Por mais que ela tenha  feito tudo o que fez não posso deixa-la assim.
Optei por favor um pequeno velório de uma hora no máximo, até porque minha avó não tem amigos (a não ser aqueles crápulas de Mirella e Rico), então acredito que quem irá no seu velório será apenas Crhis e eu.
Minha avó passou a vida toda sozinha e morreu sozinha.

CORES DO DESTINO (EM REVISÃO)Onde histórias criam vida. Descubra agora