5| Coloquei lenha na fogueira e acabei me queimando.

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    Acordei com vozes ecoando no dormitório

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Acordei com vozes ecoando no dormitório.
Enterrei a cabeça debaixo do travesseiro, numa tentativa malsucedida de abafar os ruídos feitos pelos meus queridos colegas de quarto.
Sendo vencida pelo barulho, bufei jogando os travesseiros para fora da cama e pulei do beliche.

Comei a dar risada assim que vi Rafael e Isaac de uniforme. O uniforme é composto por uma calça vermelha, uma camisa branca com uma gravata vermelha e dourada, e uma jaqueta também em vermelho. Eles estavam parecendo mordomos de circo(Coisa que acabei de criar na minha imaginação).

Isaac fez careta ao me ver rindo, mas Rafael me lançou um olhar debochado.
- Você não viu o uniforme das meninas, né? - minha crise de risos parou imediatamente.

Isaac caminhou até sua cama e me jogou um embrulho; meu uniforme.
Fiz careta, mas comecei a desembrulha-lo.
O uniforme feminino não era feio. Não, ele era horrível. Consistia em uma saia vermelha, uma blusa branca super pequena e apertada com uma gravatinha borboleta dourada, e uma jaqueta vermelha que não chegava sequer nos quadris.
Eu odiava saias, entretanto, odiava mais ainda roupas apertadas e super pequenas. Esse era o principal motivo para usar roupas masculinas: elas eram mais bonitas e extremamente confortáveis.

Fiz cara de nojo para a saia, a segurando como se fosse algo repugnante.
- Eu não vou usar essa coisa - resmunguei. - Isso aperta!

Rafael apenas deu risada, Isaac abriu um sorrisinho de lado.
-Sinto muito, Lu - lamenta, mesmo não lamentando porra nenhuma. -, mas o uniforme é obrigatório se quiser assistir alguma aula.

Estava prestes a arrancar aquele sorrisinho com um pontapé, porém, assim como nos desenhos animados, uma lâmpada pareceu acender em cima da minha cabeça e uma ótima ideia me surgiu.
Abri um sorriso malicioso.
- Eu conheço esse sorriso! - exclamou Rafael, assustado.

- E morro de medo dele - acrescenta Isaac, e Rafael assente com a cabeça.

Corri até o armário, na parte dos garotos e procurei, procurei e procurei mais um pouquinho, até que encontrei o que queria.
Os idiotas me observavam, mas não disseram nada.
Voltei até minha parte, tirei o que precisava, joguei tudo sobre a cama debaixo do meu beliche e corri para o banheiro.

Tomei um banho rápido, porque estava empolgada demais com a ideia. Me sequei, vesti uma lingerie e sai do banheiro sem me importar em estar de sutiã e calcinha.
Rafael e Isaac haviam saído do quarto, então aproveitei meu momento de paz para me arrumar.
Vesti a calça do uniforme de Isaac - que ficava meio larga - e coloquei um suspensório vermelho, deixando a blusa apertada de lado, vesti uma de Rafael - Que me cobria até a altura dos joelhos - com uma gravata vermelha escura, e por fim calcei um all star preto meio desbotado.

Estando pronta, caminhei até minha cama para juntar as coisas que levaria para a aula, que seria de história e só em pensar nela meu sono já estava voltando.

Isaac e Rafael entram no quarto conversando, mas param ao me ver.
- Que foi? - perguntei, guardando meu inseparável caderno azul na minha mochila velha e encardida. Apesar de estar a usando por muitos e muitos anos, eu gostava dela; ela tinha muita história para contar.
Além do meu caderno azul, joguei outro para as anotações escolares, alguns - muitos - lápis bem apontados, uma caixa de lápis de cor e meu maldito vidrinho de remédio.

- Que remédio é esse? - pergunta Isaac, pondo-se atrás de mim e me dando um enorme susto. Lhe dei um soco forte no ombro. - Aí! - choramingou massageando o local em que eu bati. - Que remédio é esse?

Subi no beliche novamente, para pegar meu celular e os fones de ouvido.
- Anticoncepcional - respondi depois de um tempo. Eu obviamente estava brincando, mas eles não sabiam disso.

- O QUE? - perguntaram em uníssono.

Tive que conter o riso.

- Como assim anticoncepcional? - perguntou Isaac.

Revirei os olhos novamente.
- Sabem, crianças, aquele remedinho... - Rafael me interrompeu.

- Nós sabemos o que é um anticoncepcional, Luna - resmungou Rafael. Apenas cruzei os braços e me sentei na pontinha do beliche. - Queremos saber o porquê de você estar tomando ele.

Abri um sorriso maligno.
- Por que quando você me deu pela primeira vez eu gostei e decidi continuar tomando - Rafael de repente parecia ter achado o azulejo do chão muito fascinante, já Isaac arregalou os olhos e parecia estar tentando decidir para quem olhava primeiro; decidiu olhar para o amigo.

- Do que ela está falando? - perguntou confuso.

Resolvi me meter na conversa.
- Ele não contou à você? - perguntei, abrindo um sorrisinho.

Isaac virou-se para me encarar. A veia de seu pescoço parecia que iria explodir.
- Contou o que?

Meu sorriso se alargou. Rafael fazia sinais para que eu ficasse calada, mas eu o ignorei.
- Que nós transamos, oras - respondi simplesmente. - Muitas vezes, se quer saber.

Isaac virou-se para o amigo furioso.
- Você não me contou isso!

Eu, como a boa endiabrada que sou, resolvi colocar mais lenha na fogueira.
- Você sabia que ele foi o meu primeiro?

Subitamente, o olhar mortal de Isaac foi dirigido em minha direção.
- Como é? - perguntou irritado.

- É - concordei com uma falsa animação. - Eu perdi minha virgindade com o famoso Rafael Müller! Isso não é fantástico?

Isaac não parecia achar nada daquilo fantástico, muito pelo contrário.
O som da sirene anunciou que o horário das aulas havia começado.
Pulei do beliche e coloquei a mochila nas costas.

Rafael ainda encarava o azulejo e batia os pés freneticamente no chão. Isaac parecia pensar em algo.
- Mas você prometeu que só se entregaria à alguém que amasse de verdade - lembrou ele quando eu já estava na porta do dormitório.

Voltei meu olhar para o dele.
- É, prometi - admiti e abri um sorriso completando falso. - E esse é o meu maior problema: eu sempre cumpro as minhas promessas, Isaac. Diferente de você.

Todas as faces de Luna [CONCLUÍDA/EM REVISÃO]Onde histórias criam vida. Descubra agora