6| Como iludir um idiota.

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    As pessoas deste lugar realmente levam o fardamento obrigatório a sério

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    As pessoas deste lugar realmente levam o fardamento obrigatório a sério. Notei isso assim que saí do dormitório, pois não havia uma alma viva que não estivesse usando o uniforme completo certo. Cadê a rebeldia desses adolescentes? Inadmissível esse tipo de coisa.
   Após passar na secretaria, esperar uma eternidade, porque a secretária é lerda e entregar meus papéis com as matérias extracurriculares escolhidas; artes e desenho, aulas de português e basquete; porque somos também obrigados a escolher um esporte; me dirigi ao bloco II, atravessando o extenso gramado verde.

   Agora cá estou eu, no suposto Hol de entrada do lugar; um enorme espaço com paredes cor gelo e milhares de cartazes ridículos com frases do tipo: estudar é bom, uma escadaria GIGANTE, quatro elevadores e algumas máquinas de lanche; o que aumentou ainda mais a minha fome; tentando me localizar em uma placa de bronze que serve como mapa. Ao todo, o bloco tem nove andares — se você contar com esse Hol — e em cada andar tem seis salas incluindo um laboratório para cada andar. Os quatro primeiros andares são os do ensino fundamental (Sério que aqui tem pirralhos?), os outros três são para o ensino médio, e o último é a biblioteca.
    Sendo do segundo ano, minha sala fica localizada no sétimo andar, ou seja, seis andares acima.

    Antes de subir para meu primeiríssimo dia de aula(Isso é tão empolgante que quero soltar fogos de artifício), caminho até as máquinas de lanche e compro um doritos, uma coca cola e uma garrafinha de água para tomar o maldito remédio.
   Por puro sedentarismo, me dirijo até o elevador, entro, aperto o botão para subir, mas uma mão atravessa a porta do elevador e a faz abrir novamente.

    Ele me lança um olhar malicioso ao entrar.
   Faço uma careta.
— Por que esta me olhando com essa cara? — pergunto, jogando uma boa quantidade de doritos na boca. — Vai me estuprar?

    Ele riu.
— Eu não sou um canalha — o lancei um olhar indagador e ele ergueu as mãos em sinal de rendição. — Não desse jeito. Credo!

   O elevador continuou parado. Motivo: o idiota entrou, não apertou botão algum e se colocou em frente ao painel, me impedindo de ter acesso a qualquer botão.
    Enquanto comia, ele continuava me observando.
    Revirei os olhos.
— Eu sei que a minha companhia é muito agradável — falo de boca cheia e ele faz careta. —, mas será que da para você fazer o favor de apertar a droga do botão, meu filho?

    Ele abriu um sorriso irônico.
— Fazer o favor? — perguntou rindo. — Achei que desconhecia tais palavras.

    Paro de comer e simplesmente lhe dou dedo no meio, que para deixar claro estava todo sujo pelo corante do Doritos.
— Desconheço, mas estou comendo e comer é um momento sagrado que merece todo o meu respeito — me benzi de maneira teatral.

    Ele riu novamente.
— Então me lembre de só falar com você quando estiver comendo alguma coisa.

     Faço uma careta engraçada.
— Nunca mais eu como nessa vida!

    Ele fez beicinho.
— Você ainda não me disse seu nome — subitamente mudou de assunto. Bipolaridade masculina. Nunca vou entender.

— Só digo se você sair da frente.

— Mas primeiro diga seu nome!

— Não, primeiro saia da frente.

— Não, primeiro seu nome.

— E como vou saber se você vai sair da frente?

— E como vou saber se você vai me dizer seu nome?

— Você é homem, oras. Poderia me obrigar.

    Ele soltou uma gargalhada de deboche.
— Não tente bancar a moça delicada comigo, garota! — exclamou. — Pensa que eu esqueci do chute que você deu no Juninho?

    Tive que conter a risada. Juninho era mesmo o nome do...? Meu Deus!
— Quem é Juninho?

— Quer que eu te apresente? — perguntou, abrindo um sorriso malicioso.

— Se me deixar passar, você pode me apresentar depois... — abri um sorriso inocente.

    Seu sorriso se alargou.
— Então faço questão de apertar o botão — anuncia alegremente. Coitado, se ilude com tão pouco. — Qual andar, madame?

— Sétimo.

    Ele se virou para apertar o botão e logo estávamos subindo.
    Joguei o saco e a latinha de coca cola, ambos vazios, na mochila.
— Esse é meu andar também — informa.— Qual turma?

   Faço uma careta, rezando mentalmente para que a dele não seja a mesma que a minha.
— Segundo A.

   Quando o elevador parou e abriu as portas, ele passou os braços sobre meus ombros, me abraçando.
— Bom, acho que ficamos na mesma turma — anunciou, abrindo um largo sorriso.

Todas as faces de Luna [CONCLUÍDA/EM REVISÃO]Onde histórias criam vida. Descubra agora