||28|| A história repetida.

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   Maratona 2/3

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   Maratona 2/3.

  Me ajeitei ao lado de Isaac e fiquei esperando, em silêncio. Faziam uns cinco minutos que havíamos nos soltado do abraço e eu estava esperando ele começar a falar.
     Não o pressionei ou exigi que falasse de uma vez, apenas fiquei sentada ao seu lado esperando pacientemente.

    Isaac suspirou, estalou os dedos de maneira nervosa, em seguida suspirou outra vez.
— Você... Lembra da minha história, certo? Do meu pai... — Concordei com um aceno de cabeça, o deixando falar. — Há alguns meses atrás, meus pais adotivos receberam uma ligação do presídio — Suas mãos tremiam fracamente, então as segurei. Ele me olhou, com o rosto molhado. — Meu pai está morto, Luna. E.. Por mais que ele tenha sido um monstro, eu não consigo aceitar que ele tenha morrido sem que tenha conversado com ele, sabe? Eu... Queria ter conversado com ele! — Naquela altura do campeonato, ele já chorava intensamente.

    Aperto suas mãos.
— Talvez tenha sido melhor assim, Zack. Ele poderia ter te machucado e você sabe que eu não estou falando apenas de machucar com palavrasA história de Isaac era infelizmente mais comum do que deveria. A mãe e o pai de Isaac se conheceram na adolescência, na época do colégio. Namoraram, casaram-se e pouco tempo depois tiveram Isaac. Pelo que sei, o pai dele se envolveu em um problema na empresa que trabalhava e perdeu o emprego. Com a crise, ele não conseguia achar outro, então ficou desempregado. A mãe dele continuou trabalhando e aos poucos teve que assumir as contas de casa, já que seu marido com o decorrer dos meses desempregado começou a beber diariamente. A bebida se tornou um vício e aos poucos o homem carinhoso se transformou em outro totalmente o oposto. As brigas eram rotineiras, sempre por motivos fúteis, e geralmente acabam em agressões tanto em Isaac quanto em sua mãe.
    Em mais uma briga, o pai de Isaac perdeu o controle e... Matou a esposa. Isaac foi trancado no quarto, mas mesmo assim pode ouvir os gritos e pedidos de socorro da mãe. Isso era o que ele geralmente sonhava quando tinha pânico noturno; ele sonhava que um garotinho era trancado no quarto enquanto ouvia sua mãe sendo assassinada pelo monstro que um dia lhe jurou amor eterno.
  
   Isaac assentiu devagar, como se mesmo sabendo que eu estava certa se negasse a aceitar que aquilo era verdade.
— Mesmo assim... Foram anos preso lá, ele pode ter mudado... — Eu particularmente não acreditava nisso e preferia que ele não criasse falsas esperanças; não lhe serviriam de nada. — As pessoas podem mudar, né? Ele... Pode ter se arrependido, pode ter pensado em me pedir perdão e eu... Não estava lá para perdoá-lo.

   O interrompi antes que ele continuasse.
— Isaac, para — Ele me olhou. — Eu e você sabemos muito bem que algumas pessoas mudam, mas isso não se aplicam à todas as pessoas do mundo. Talvez, só talvez, ele possa ter se arrependido após passar tanto tempo sem o álcool lhe comendo os neurônios, mas isso não muda o que ele fez — Isaac tentou dizer alguma coisa, mas eu não permiti que ele falasse. — Por favor, pare de imaginar o que talvez possa ter acontecido, não está lhe fazendo bem. Tente pensar mais em você.

   Ele suspirou.
— Eu estou tentando... Mas não é tão fácil assim. O tempo todo eu fico achando que ele pode ter se arrependido antes de morrer e eu não estava lá para perdoá-lo — O abraço apertado.

— Para de se culpar desse jeito, por favor — Pedi, em um sussurro. Detestava vê-lo daquele jeito. — Algumas coisas não há como prever ou como mudar, e essa é uma delas.

— Mas e se eu... — O interrompi novamente.

— Não, para! O se é a pior palavra. Você fica o tempo todo pensando no que poderia ter feito e não fez, ao invés de pensar no que pode e deve ser feito. Seu pai morreu, Zack, e se ele se arrependeu eu duvido muito que fosse querer vê-lo nessa maneira. Está entendendo? — Ele assentiu, com a cabeça encostada contra o meu pescoço. Beijei sua cabeça. — Também não quero te ver assim. E não vou.

    Novamente, ficamos em silêncio.
    Isaac estava com a cabeça apoiada contra o meu pescoço, enquanto eu lhe fazia cafuné.
— Luna?! — Me chamou, um tempo depois.

— Estou ouvindo.

    Ele ergueu o olhar e abriu um sorriso fraco.
— Não sei o que seria de mim sem você.

   Lhe dou um peteleco na ponta do nariz.
— Ah, você estaria fodido! — Falei em tom de brincadeira, mas no fundo, ambos sabiam que aquilo era verdade.

    Ele riu baixo, se curvando para frente e esse simples movimento o fez fazer uma careta de dor.
— Merda — Resmungou.

    O olhei fixamente.
— O que houve?

   Isaac desviou o olhar.
— N-nada.

   Reviro os olhos.
— Você mente mal — Antes que ele tivesse tempo de impedir, ergui sua camisa e fui surpreendida com o que vi. Esse era o motivo dele estar tão estranho; os cortes na superfície da costela. Haviam muitos, alguns recentes, outros já haviam se tornado cicatrizes. — Quando pretendia me contar?

   Ele abaixou rapidamente a camisa, parecendo envergonhado e triste.
— Eu... D-desculpa não ter contado, é difícil, sabe? Não queria ser julgado por você também — Abaixou a cabeça, mas eu a ergui novamente.

— Eu nunca julgaria você por isso — Ele pareceu não acreditar. — Isaac, todo mundo lida com a dor de uma maneira diferente. Não posso julgar isso, mas posso tentar te ajudar se quiser. Já tentou parar?

   Ele assentiu em concordância.
— Tentei várias vezes, mas é como droga; viciante. No início, eu me cortava quando tinha minhas crises e estava sozinho. Isso acontecia com frequência, então quando tentei parar já não conseguia.

   Segurei sua mão.
— Seus pais adotivos sabem?

— Sabem, eles até já tentaram me levar à um psicólogo, mas eu não quis ir. Então quando falei que queria estudar aqui por causa do basquete, eles viram como A oportunidade de me ajudar.

— Mas não funcionou, não é? — Ele assentiu. — Você devia procurar um psicólogo.

— Eu não estou maluco! — Retrucou.

    Revirei os olhos.
—  Psicólogos não são feitos para malucos, se quer saber. Muita gente vai apenas para entender e se entender melhor. Ajuda bastante.

— Ah, é? Como sabe que não é só perda de tempo? — Resmungou.

    Encarei o chão.
    Deveria dizer a verdade? Não, não devia, mas ignorei a vozinha que gritava para que ficasse calada e respondi a verdade dessa vez:
— Porque eu vou ao psicólogo desde que tinha oito anos.

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(Estou há muito tempo com um maldito bloqueio, então me perdoem por qualquer coisa).

Olá, pessoas!
Capítulo pesado, né? Eu sei, mas com a atual situação do Brasil principalmente, resolvi abordar um tema tão frequente como este; há vários Isaacs por ai. Então, se você está passando por uma situação parecida, não fique em silêncio. Procure ajuda.

O próximo capítulo conclui a maratona e consequentemente acelera o processo de finalização da primeira temporada. Fiquem aguardando, pois os próximos capítulos prometem! (Literalmente).

Até a próxima!

Todas as faces de Luna [CONCLUÍDA/EM REVISÃO]Onde histórias criam vida. Descubra agora