Bem-vindos de volta. E obrigada por aparecerem para a parte dois.
Se você está escutando esse lado da fita, uma das três coisas acaba de acontecer. A: você é extremamente curioso e não consegue se conter. B: você é o meu amado Isaac e, depois de ouvir sua historinha, quer ouvir quem é o próximo. Ou C: você se sente culpado e quer saber se a próxima historinha é a sua. Pois bem..Rafael Müller, essa é a sua vez.
Você me disse uma vez que não acreditava em clichês, mas... nós dois não eramos um tremendo clichê?Quando se está no ensino médio, a cena mais frequente a ser presenciada é a de pessoas fazendo de tudo para serem notadas, mal sabendo elas da sorte que tem por passarem despercebidas.
Na hierarquia popular eu era a garota que tentava ser invisível. Ah, você deve estar se perguntando: por que alguém iria querer ser invisível? E eu te pergunto de volta: por que alguém não iria querer ser invisível? Quais são as vantagens de ser visível?Por mais que quisesse, eu nunca consigo ser invisível.
Talvez sejam minhas roupas largas.
Talvez seja minha mania de me meter em confusão.
Mas eu sempre acabo ganhando a visibilidade que eu tanto detesto.
Acho que o universo adora tirar uma onda com a minha cara. Tipo, ah, a garota estúpida detesta atenção? Rá, tome muita atenção... que tal mais uma confusãozinha básica?
E foi nessa do universo de mais uma confusãozinha que a nossa história começa.Havia matados minhas duas últimas aulas de matemática para dar um passeio por Elliot, o parque central da cidade. Aquele era o último parque que se manteve de pé, os outros foram demolidos para a construção de de shoppings e prédios indústriais. Enfim, aquele era o meu tipo de lugar favorito: arborizado, silencioso e cheio de luzes e formas.
Enquanto caminhava, cantarolava uma música qualquer, segurando as alças da mochila com as mãos.
O dia estava lindo.
O sol brilhava como à tempos não fazia.
Aquele tinha tudo para ser mais um passeio, mas aí você apareceu.Eu nem tinha te visto, até você esbarrar em mim e me sujar com o seu sorvete de limão.
— Cara, você é cego ou o que? — perguntei, irritada, tentando limpar o sorvete que havia manchado minha blusa preta.— Desculpa aí — você disse. —, mas não ando olhando para o chão, baixinha.
Bufei, ainda esfregando minha blusa.
— Me provoque mais um pouco que eu mostro a baixinha.Pude ouvi-lo gargalhar.
— O que vai fazer? — você perguntou, debochadamente. — Vai chutar minha canela?
Abri um sorriso maligno e pela primeira vez eu te vi.
Seus olhos eram de um azul tempestuoso, mas no momento brilhavam de diversão. Seu cabelo branco contrastava sutilmente com a cor avermelhada de seus lábios. Você definitivamente sempre foi muito lindo, eu admito, mesmo contra minha vontade.Voltei a minha realidade lhe dando um chute nas canelas.
— Aí — você choramingou, curvando-se para alisar a parte que eu havia chutado.Eu apenas dei risada e corri sentido contrário, imaginando que nunca mais te veria novamente.
Como sempre, eu estava muito enganada.
Porque no dia seguinte eu te encontrei no colégio, faziam menos de quarenta e oito horas que você havia se mudado de cidade, e iria estudar conosco.
Na minha turma.
Sentado na cadeira ao lado.
Assim começou nosso clichê.
Aquele estúpido garoto do sorvete sorriu para mim e parte de minha já havia sido entregue à ele.Eu me entreguei a você, Rafael.
Entreguei meu tempo.
Entreguei meu corpo.
E entreguei meu coração que mesmo quebrado, fodido, despedaçado, era tudo o que me restava.
Mas não foi o suficiente, não é mesmo?
Eu não era o suficiente para fazê-lo ficar. Então você se foi, e mais uma vez eu tive que aprender a refazer meu mundo sozinha, solitária e agora com o vazio que todos vocês haviam me deixado. Por que quando alguém que amamos se vai de alguma maneira, querendo ou não ele deixa um vazio.A vida é uma sucessão de decepções.
Isaac e Rafael foram os primeiros mencionados, meus vazios recentes, mas, quem foram os primeiros?
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Todas as faces de Luna [CONCLUÍDA/EM REVISÃO]
Novela JuvenilLivro 1. Segundo ao pai dos burros e indecisos; vulgo dicionário; reviravolta é a mudança repentina de situação para pior ou para melhor. Em outras palavras: é a perigosa jogada do universo que pode melhorar ou ferrar ainda mais com a sua situaçã...