Cartas da Faculdade

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Bryan Cooper:

Estão todos errados.

Errados a ponto de não enxergarem o que eu vejo com clareza. Não posso estar louco; ou achando desculpas para alimentar o que tenho sentido. Tampouco acho que isso não seja mais do que o suficiente para dar um jeito e salvá-la enquanto é tempo. Porque não posso deixar as coisas assim; não posso perdê-la como perdi minha mãe. E ambas me pertenciam. E Pandora ainda é minha.

É claro. Fácil. Simples de entender.

Vou tirá–lo do lugar que me foi roubado. Vou tomar de volta minhas posições.

Arrasto minha perna com menos força do que deveria; fazer esforço para isso acarreta dores em outras partes de meu corpo; como as costelas que latejam em dor. Mas resisti o desejo de ir até o hospital e cheguei em casa depois de alguns minutos dentro do carro tentando manter o controle. Meu pescoço ainda parece queimar, assim como o resto do meu rosto com ódio. E sei que isso está, como um vírus rápido, se propagando em mim.

Quando finalmente me deito na cama desorganizada que deixem antes de ir para a escola, tudo o que consigo pensar é em como esse silêncio me engole. Talvez mais algumas horas sejam o suficiente para acalmar o mar de desordem; que sussurra para que eu faça algo e logo, ou vou acabar morto e sozinho.

Tem uma pilha de envelopes abertos ao lado da cama. "Bryan Cooper, devido seu mau desempenho nas funções com o time, sua aprovação foi cancelada" eles repetem. Aproveitam a oportunidade para também me deixar sem nada. Só queria que alguém concordasse sobre a culpa não ser minha. Que alguém me garantisse que não vou me tornar como ele, por mais louco que eu pense que estou ficando. Qualquer pessoa, eu só preciso disso. Mas não tem mais ninguém aqui. Ah, sinceramente não dou a mínima.

A campainha toca pela terceira vez.

Demoro a conseguir me mexer e descer as escadas. E com o silêncio quando consigo chegar até a porta, penso que quem veio, já se foi. Eu tiro o capuz ainda da minha cabeça quando mesmo assim a abro. Devo ter uma expressão horrível, já que por mais cuidadosa que a enfermeira da escola tenha sido, não consigo enxergar nada com o olho esquerdo onde Matthew fez mais esforço em bater; e o corte nos supercílio vazou sangue por debaixo do curativo. Limpo com meu moletom antes que ele escape pelo queixo e manche o chão.

– O que você está fazendo aqui? – Pergunto sem olhá–la. Pandora parece não me ouvir, com os olhos parados no meu rosto. Sei o porque de eu não retribuir isso. Sei o que eu fiz como seu rosto enquanto batia em Matthew. Não quero vê–la.

Preciso me inclinar um pouco até ficar na sua altura e apesar disso me machucar é a única maneira de chamar sua atenção. Pan suspira, encolhendo um pouco os ombros com a aproximação e me obrigando a encará–la. Seu rosto ainda parece inchado no lado que meu braço bateu. Não quero vê–la.

– Perguntei o que você quer aqui?

– Vim ver como você tá. – Me responde, sem a mesma defesa cruel que eu lhe dou – Fiquei preocupada.

– Eu estou ótimo Pandora – Sorrio; mas deve ser tudo menos um sorriso, já que meus lábios também incharam com a surra que levei. Ela permanece séria, com as mãos juntas e hesitantes sobre como deve reagir ao meu sarcasmo. – Era só isso?

– Não foi você, foi? – Agora nos olhamos. É inacreditável o processo de desconhecê-la; como ele tem sido rápido e rasteiro e num segundo nós dois já parecemos ter anos de separação. Ao mesmo tempo que quero implorar para que fique, também quero que ela vá embora. Pelo menos agora, que ainda é completamente cega por Matthew. Essa Pandora, não é a minha. – Que pegou minha agenda. As nossas fotos. – Seu tom diminui, e eu devagar me apoio na batente, cruzando os braços com cuidado por cima das minhas costelas doloridas.

Como Não Se Apaixonar Por Um QuarterbackOnde histórias criam vida. Descubra agora