TRÊS MESES E VINTE E DOIS DIAS

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Você sabia que seria assim?

Desde o início, isso já passava pela sua cabeça?

Quando éramos só eu e você, sem todas aquelas pessoas, sem todos os nossos títulos, você já sabia? Que eu te desconheceria, e que voltaríamos a ser somente estranhos? Que a traição seria a maior dor que alguém poderia receber? Que quando você decidiu ir pela primeira vez, não era nada mais do que um prenúncio da loucura que nos enfiaríamos?

Todas essas perguntas são frescas pra mim.

Todas elas machucam minha alma, porque não consigo mais dar um só passo. Não consigo mais olhar para nós, nesses porta-retratos pendurados juntos aos meus com meu pai. Até que ponto isso era mentira? Até que ponto você não cruzou todos os limites e me rompeu pra sempre? Nós nunca mais seremos os mesmos. E agora, eu só espero essa represa quebrar de uma vez por todas; e toda essa farsa ser silenciada; como deveria ter sempre sido.

- É um belo vestido. - O ouço dizer. O cabelo ainda bagunçado pelo recém tirado capacete. Acho engraçado o destaque que suas bochechas ganham pela corrida, e como o tom rubro também já cobre o seu pescoço e possivelmente colo. - Eu deveria ver ele agora?

- Eu não sei - Sorrio, pondo a roupa de volta na sacola. Meu corpo queima debaixo do uniforme, apesar da temperatura estar despencando a cada dia que passa. Ele arranca a sacola da minha mão, e me puxando pela outra, entrelaça nossos dedos. Não me queixo enquanto sou arrastada pelo campo, com Hayes gritando para que façamos o trajeto mais depressa. Meus olhos vão do gramado bem aparado até o número da camisa dele. Qualquer um pode identificar seu porte de quarterback mesmo se ele não a estivesse usando. Nós alcançamos os outros em poucos segundos; Hayes faz parecer agora cada treino como a final da próxima semana, e isso nos deixa ainda mais exaustos.

Queria que ele percebesse.

Queria que qualquer um percebesse.

Max beija o topo da minha cabeça quando passa por nós. Seu piercing rasgou seu septo essa manhã e ainda tem sangue em cima da sua boca. Quero perguntar se ele precisa de ajuda, mas sou puxada mais uma vez. Meus dedos estão cada vez mais gelados, e quero culpar a temperatura por isso. Mas não é. Não é nada como eu gostaria que fosse.

Ele nos observa de longe. Eu sei. Eu sinto.

- Vou buscar água. - Me diz o capitão, tocando os lábios rapidamente nos meus. Ele leva a sacola com o vestido junto, sem perceber. Enquanto eu sento debaixo da proteção, na área dos reservas. Há pouco movimento ‏na arquibancada. As líderes de torcida sentem ainda mais frio do que nós, e parecem um bando de animaizinhos tentando se aquecer, perto uma das outras.

Ele está lá.

É claro que está.

Ele sempre está.

Como Não Se Apaixonar Por Um QuarterbackOnde histórias criam vida. Descubra agora