Eu te salvei

6.3K 627 293
                                    

ATENÇÃO: AVISO DE GATILHO

Esse capítulo contém: comportamento sociopata e psicótico; abuso psicológico e abuso físico. Caso você não se sinta bem em ler, por favor, preze por sua saúde mental e comece a partir da narração do personagem 'Matthew Boyer' mais abaixo.

***

Pandora del Monaco:

Eu costumava montar minhas equipes com os parafusos na garagem. Me sentava no chão ao lado de papai enquanto ele trabalhava e roubava suas peças para fazer meus próprios wides e running backs. Eles geralmente eram compostos de meninas; porque era animador imaginar um time cheio de mulheres e só alguns homens; era quase um alívio, mesmo tão nova, pensar que eu não era a única jogadora que eu conheceria. Então as horas passavam, minhas pernas doíam de ficar tanto tempo cruzadas enquanto eu gastava tempo criando estratégias; dando gritos com touchdowns imaginários numa linha de giz que traçava ao chão. Era tão fácil acreditar em mim naqueles momentos; acreditar no futuro e no que ao natural parecia impossível. Meu pai me chamava quando terminava o serviço, calmamente me dizendo que o jogo deveria acabar. Ele perguntava quais as posições dos parafusos um a um enquanto eles voltavam para a caixa. Hoje eu sei que Joel del Monaco não queria saber, muito pelo contrário, aquilo lhe trazia péssimas lembranças. Mas mesmo assim o fazia; e talvez se não o fizesse, a falta de esperança teria começado muito mais cedo na minha vida.

Há duas frestas de luz; tão finas que mal iluminam meus olhos e um pouco de testa. É o suficiente para indicar o tempo do lado de fora; deve estar no meio da tarde; o calor transpassa as paredes de madeira, deixando o lugar quente, abafado e com um cheiro forte fervilhando a umidade do chão. Meus dedos sentem o mofo em qualquer parte que encoste; a sensação de contraste, gelada do concreto sem revestimento e a textura nojenta do bolor que se forma como um tapete na sala precária me dá calafrio. Com a temperatura aumentando, os fios do meu cabelo grudam no meu rosto, assim como o vestido é sugado pelo suor se acumulando nas minhas costas. Meu rosto também está quente, já contei seis vezes que minha pálpebra esquerda tremeu. Maxon dizia que isso acontece quando se está ansioso.

Em oposto disto, minhas mãos não poderiam estar mais frias; e depois de algum tempo tenho certeza que não é somente a falta de circulação pelas cordas apertadas nos meus pulsos. O medo é como um sistema de resfriamento; canalizando todo o pavor em sensações térmicas.

Os fios grosseiros da corda roçam meu rosto quando eu limpo mais uma fileira de lágrimas. Estão descendo mais devagar agora; não porque não sinto mais necessidade de chorar, mas porque tenho medo de perder algum detalhe que seja fundamental para eu sair daqui.

Já fazem mais de quatro horas, isso tenho certeza. Do momento em que saí do banheiro do Dayton High School; meus sapatos faziam um barulho engraçado no assoalho do corredor. Não tinham muitas pessoas, me lembro de três meninas que reconheci serem da turma que irá se formar no próximo ano. Meu celular tocava no bolso do vestido; e eu devo ter parado no outro corredor, o que dava passagem para a escola e algumas salas de aula para checá-lo. Um número novo tentava uma chamada; dessa vez eu conseguia ver os números; ainda assim não parecia inteligente atender depois de tantas ligações estranhas. Lembro de ter aberto a mensagem que evitei fazer em frente a Matthew, caminhando um pouco mais pra frente. O número continuou insistindo. Não havia festa naquele lado; as poucas pessoas que cruzavam minhas costas eram rápidas já que seus destinos eram o banheiro ou a volta ao salão barulhento.

"Você vai ser uma Hurricanes?" A mensagem dizia.

Uma mensagem nova chegou, do número que estava ligando.

Como Não Se Apaixonar Por Um QuarterbackOnde histórias criam vida. Descubra agora