Eu sinto muito Pandora

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Matthew Boyer:

Não quero pedir para que Carl abra a porta da casa dele.

Na verdade, não queria precisar nunca mais fazer isso.

Então ponho o celular de volta ao bolso e dou uma olhada em volta. Maxon já se foi há pelo menos cinco minutos, e continuei onde fui deixado na mansão da família do meu melhor amigo. Cogitei pedir para que Max tivesse me levado até o asilo; já que quanto menos pessoas dos Dayton souberem detalhes dessa farsa melhor. Mas meu primeiro impulso foi ficar longe do West Waves também. Minha avó desde que soube de tudo tem me ameaçado indiretamente para que eu me afaste logo de Pandora. Como se não fosse tarde demais pra isso.

E me pareceu menos pior cruzar a cidade para chegar em casa do que enfrentá-la sozinho. Então estou fazendo o caminho reverso, meus pés fazem barulho a medida que caminho pelo silêncio do meu antigo bairro. Ainda é estranho andar por aqui; e por isso prefiro vir de carro todas as vezes; já que posso evitar lembrar que essa era a minha vida. O lugar onde fui criado, educado e que pertenci até meus quinze anos. Nossa antiga casa ainda está a venda; sem corte na grama e cuidado dos empregados há muito tempo, evito olhar para o que mais se parece com uma mansão mal assombrada. Também não gosto como posso ser visto agora; não é como se o assunto fosse propagado. Famílias ricas mantêm seus segredos entre elas; mas esse é o território onde qualquer um que me veja sabe que falimos. E que agora não pertenço mais a esse mundo. Há alguns meses atrás, a vergonha poderia facilmente me desesperar; mas já faz algum tempo que não me importo tanto.

Minha mochila começa a pesar uma tonelada a medida que ando. Faço alguns atalhos para chegar mais depressa; porém a medida que avanço isso não é tão animador. Meu carro está estacionado na frente de casa; tão desigual com o que chamamos de lar que qualquer um pensaria que não me pertence. Respiro fundo, como se fosse embarcar em uma viagem difícil. O que não é uma mentira; entrar nessa nova realidade sempre parece uma jornada nova, e a qual eu não queria nunca ter começado.

- Mãe? - Murmuro quando abro a porta com minha chave. O chão irregular com a madeira antiga quase me faz tropeçar pela minha pressa em deixar minhas coisas na cadeira vazia. Não há muito nesse primeiro cômodo, já que o que conseguimos tirar da mansão já foi vendido. Os móveis sofisticados que sobraram gritam contra a casa pequena e precária. Todos os dias ainda parece só uma brincadeira que meu avô fez conosco antes de morrer.

Mas não é uma brincadeira.

Summer gastou nosso dinheiro.

Meu pai faliu a empresa.

Nós estamos acabados.

O primeiro que encontro é ele; pelo cheiro. O álcool já parece ser seu aroma natural enquanto ele se joga em qualquer canto. Minha mãe tenta fazer o trabalho que nunca aprendeu, então nossa casa ainda está suja mesmo com seus esforços. Meu corpo está dolorido do treino, e meu celular vibra no meu bolso há mais tempo do que percebo. Encontro ela na cozinha, com os braços apoiados na pia; parece ter acabado de lavar a louça. Isso tem se tornado cada vez mais insuportável para ela; e sei disso. Por isso quando se vira, não cogito sair, mesmo sabendo o que vem em seguida.

- O que está fazendo em casa?

- Ah, tive alguns problemas na escola - Digo, escorando a cintura no outro armário. A cozinha é tão pequena que eu não conseguiria ficar na frente dela agora; já que o espaço entre os móveis só cabe uma pessoa.

- Claro que teve. Escolas de pobres sempre tem problemas. - Resmunga, tirando o cabelo que grudou em sua testa. - Mas você tem que ir pra aquele maldito asilo, mesmo assim não deveria estar aqui.

Como Não Se Apaixonar Por Um QuarterbackOnde histórias criam vida. Descubra agora