Rainha do Drama

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Maxon não costumava ser discreto, e muito menos ter segredos. E sua língua quase não controlava-se sozinha quando ambos saíram da casa do capitão dos Dayton e seguiram na rua silenciosa em direção ao bairro de Pandora. Não ficava exatamente longe dali, mas no fundo Pandora entendia a preocupação de Bryan, nunca se sabe o quando algum psicopata pode aparecer. 
— E então? — Começou ele. 
— O que? — Se fez de desentendida. Deu mais um passo com a muleta presa debaixo dos braços, fitando o asfalto embaixo dos tênis. Tinha vestido o moletom cinza, que engoliu seu corpo.
— Você e o Bryan. — Disse ele. Pan virou o rosto em sua direção, e Max permaneceu olhando para frente. O coração da menina palpitou suavemente, seus olhos vacilaram entre o amigo e o chão e sua garganta coçou, obrigando a limpá-la. — Pan...
—  O que tem a gente? — Comprimiu os lábios. Max riu pelo nariz deixando de caminhar na calçada e depois de uns passos escutou o suspiro alto da jogadora, parando a centímetros dele. Maxon foi até lá, botando uma das mãos sobre seu ombro e procurando os olhos escuros de Del Monaco. — Não é um assunto que eu estou acostumada a falar. Ou... Pensar...
— Você só tem amigos homens, acho que é compreensível. — Falou. — E é uma boa mentirosa também. — Seu sorriso aliviou seus ombros, e ela fechou o cenho.
— As coisas estão ficando complicadas. — Cochichou. — Não é como se eu sentisse alguma coisa séria, é só... — Seus lábios se curvam num sorriso sem graça.— É bobagem. Estamos nos formando Max... Logo o ensino médio vai ser mais uma lembrança longe.
— Está dizendo que Bryan não sonha que você se sente assim? Nunca falaram sobre isso? — Ele pareceu surpreso.
— Bryan dorme todo o final de semana com uma menina diferente. Além disso, eu falei, é bobagem. Fico muito tempo com ele, isso acaba acontecendo, e passando. Sabe?
— Nem sei.
— De qualquer forma, esse assunto nunca existiu, tudo bem?
— Tudo bem.  — Afirmou. — Será que você fica bem até a final?
— Espero que sim. Tenho que ficar. Isso pode me dar uma chance.
— Chance?
— Você sabe, os head coaches, das universidades.
— Você sabe que as chances são pequenas, não sabe?
— Odeio sua sinceridade Max.
— Desculpe. — Sorriu o garoto. Estavam se aproximando do bairro. Era uma parte tranquila da cidade, com um índice de violência baixo e vizinhança calma. Pandora cresceu ali, portanto conhecia cada vizinho, espaço e perímetro. Maxon ficava a algumas quadras mais abaixo; se conheciam desde novos apesar de só terem real contato quando Max entrou para o time. — Você é a pessoa mais rápida que eu conheço Pan, se aqueles caras souberem ver o seu talento, vai ser a primeira garota a entrar pra NFL.
— Pior que sua sinceridade é seu exagero. — Riu ela. Teve vontade de afofá-lo ali mesmo num abraço; mas se conteve. Parte de ter amigos homens era reprimir seus lados empolgados demais como menina; ainda mais com Maxon Wells.

***

— Pandora, o que você está fazendo aqui? — Foi a primeira coisa que ouviu quando pisou no campo. Andar de muleta no gramado era um pouco mais difícil, e não demorou em a lerdeza dos passos e o sol escaldante fazerem suas costas suarem e deixarem-na irritada. O treinador era Hugh Hayes, um senhor gordo que um dia fora tightback de seu time na adolescência; treinador dos Dayton há mais de dez anos, Hugh demorou menos do que todos ali para aprovar Pandora no time; sinto cheiro de sucesso, ele sempre dizia.
— Vim acompanhar o treino.
— Ah... Bom, acompanhar requer olhos, e não movimentos, ok? Nada de ficar nos atrapalhando, quero você boa pras quartas. — Fingiu estar bravo. Pandora concordou, sentando na área coberta ao lado de um saco de bolas. Era um treino extra, sábado de manhã. Tinha sido uma semana desgastante, com três sessões de fisioterapia, um filme na casa de Grott e duas brigas com Bryan. Uma, aliás que tinha acontecido há três dias, e nenhum dos dois dava o braço a torcer para voltarem a se falar.
— A diferença é a sua burrice Eddie. — Resmungou Aaron, vindo na frente do maior. Aaron não costumava falar muito com Pandora, pelo simples fato de que ele sabia o desejo constante que a menina tinha de cuspir na sua cara. Ela nunca aceitou o fato de o lugar no time ter sido comprado pelo pai do rapaz, e muito menos ele jogar pro vento todo o santo dia o quanto era rico e que deveria voltar para a escola privada.
— E o que te faz ser mais inteligente? Essa peruca loira que você usa? Vá a merda Aaron. — Eddie o empurrou, sentando ao lado da menina. — O que veio fazer aqui Pandora?
— Compras. — Debochou. Aaron se sentou a sua esquerda, tirando as luvas das mãos. — Sobre o que vocês estão discutindo?
— Aaron acha que o tight end dos Yells é do meu tamanho. O que só mostra que temos mais um míope na galera. — Falou Eddie, Aaron rolou os olhos, virando-se para o colega.
— Mas... É meio que sim...
— Eu falei. — Sobrepujou o loiro.
— Mano, olha pro meu tamanho Pandora! Eu atropelo o cara em meia jarda.
— Eddie, Aaron, venham, não é hora do chá. — O treinador gritou. Pandora sabia bem o quão terrível era vestir o equipamento em dias de calor como aquele; parecendo que seu corpo definharia a qualquer segundo. Mas era melhor do que o frio, que chegaria em seguida, onde ficar parada como estava era pedir uma pneumonia.
Bryan chegou atrasado. Aos poucos que se aproximava Pandora ia notando as gotas de suor e o motivo do atraso: marcas de batom vermelho em toda a extensão do pescoço descoberto. Quis praguejar quando o rapaz lhe virou o rosto e seguiu em passos rápidos até onde os colegas corriam ao redor do gramado. Hayes xingou Bryan no caminho, empurrando-o quando passou mais perto.
Pelas contas ainda tinham dois jogos importantes antes da final, e o mais próximo seria dali um mês, as quartas. Tinha uma faísca mínima de esperança que pudesse competir; o tornozelo estava sem inchar a um bom tempo, e as dores vinham amenizando com a fisioterapia gradualmente. Mas sabia que para Hayes escalá-la teria que fazer muito mais do que largar a muleta e sorrir.
— Nunca te vi tão quieta. — Pandora escutou Bradley chegar, ainda com pouco fôlego da corrida.
— Haynes não me deixa nem chegar perto. — Sorriu para o amigo. Brad Johnson tinha sido transferido do Texas no ano anterior, e ainda tinha muito sotaque apesar do período que já estava em Ohio. Pandora o considerava hiperativo, e um ótimo amigo, apesar de que quando junto com Tyler perdia os limites da brincadeira. Bradley era um dos poucos no time que já tinha ganhado oferta para a universidade, e nos últimos tempos estava se empenhando bem mais em manter as notas boas para não correr perigo.
— Tem que ficar boa mesmo pra final. — Concordou ele, os cabelos em pé por causa do capacete recém tirado. — Você não foi ontem à aula.
— Não, dormi demais.
— E os caras já te contaram?
— Contaram o que? — Ergueu as sobrancelhas. Brad tentou arrumar os cabelos com os dedos, sem muito sucesso.
— Um garoto do segundo ano, os pais vão viajar no final de semana.
— Uma festa? — Pandora chutou uma pedra próxima ao seu pé saudável. — Você sabe que eu odeio festas Bradley.
— Não vai ser hoje que vou desistir de te convencer. — Ele deu os ombros. — Além disso, o ensino médio tá acabando, você deveria curtir um pouco mais ou vai acabar se arrependendo. — Brad bateu seu ombro no dela.
— Eu fico sentada comendo salgadinho dividindo um sofá minúsculo com um casal nojento. Não vou me arrepender de ter negado isso pra maratonar uma série em casa. — Retrucou, já fechando o cenho. Era um pouco mais do que "Pandora odiar festas", os garotos sabiam o quanto ela se sentia deslocada em ambientes como aqueles. Pelo fato de seus amigos serem exclusivamente homens, nas festas Pan não tinha ninguém pra fazer companhia; já que estavam todos à caça. Às vezes Eddie ficava com ela, mas em outras o grandão também preferia ficar no conforto do próprio sofá.
Desde que entrara para o time, era uma coisa ou outra; apesar de ninguém explicitamente falar, você não podia ser uma completa garotinha se jogava futebol americano. O pensamento mais retrógrada, preconceituoso e desesperador que não havia concerto; ela sabia.
— Vou ter que apelar pro Bryan?
— Por que você quer tanto que eu vá? Quem é a azarada? — Argumentou e Brad riu.
— Mas que falta de respeito Pandora, um rapaz não pode simplesmente querer muito ter a companhia de sua amiga numa festa animada? — Ele ergueu a mão ao peito forçando um timbre dramático.
— Vocês não são rapazes, são animais selvagens. E nem tente falar com o Bryan, brigamos e eu não vou fazer as pazes.
— Caramba Pandora, vocês brigaram? — Brad continuou com a mão na área onde ficava seu coração. — Meu Deus, mas isso é uma catástrofe! Jamais pensei que algo semelhante aconteceria...
— Vai a merda Bradley. — Queixou-se sem esconder o sorriso.
— Mas sério Pan, você deveria aproveitar. Se eu prometer ficar metade da festa do seu lado você vai?
— Você tá tentando convencer a Pandora a ir à festa do garoto do segundo ano? — A sombra de Eddie chegou antes que o próprio. Pandora logo sorriu em sua direção, contente de ver o amigo.
— Olha que absurdo! — Disse ela.
— Mais um pra abortar meu plano. Tyler, chega aqui!
— Pandinha! — Tyler começou a gritar ainda no meio do campo.
— Ah não... — Pandora fez um beiço em direção a Eddie.
— O que tá acontecendo? — Quis saber Tyler com o sorriso mais conhecido pela garota: zoação — Que carinha é essa? — Tentou apertar a bochecha da menina que se esquivou do corpo suado do center. — Você tá tristinha? Se liga aqui Max!
— Não... — Choramingou, mesmo sendo difícil parar de sorrir. Ao mesmo tempo que odiava quando todos eles concentravam suas mentes perversas para incomodá-la, amada a atenção dos colegas.
— O que tá havendo? — Perguntou Maxon.
— A Pandora não quer ir na festa do segundo ano. — Respondeu Brad.
— E aparentemente ela tá bem triste. — Prosseguiu Tyler. Pan procurou o rosto tranqüilo de Eddie, que esticava numa boca risonha.
— Tá tristinha é? — Provocou Max. — Por que será? — Bagunçou os cabelos da amiga. — Acho que é falta de treino.
— Você acha Max? — Bradley ergueu a sobrancelha e del Monaco sabia que o teatro estava armado. — O que será que poderíamos fazer?
— Só consigo ver uma solução... — Continuou Tyler.
— Cooper! — Berrou Max.
— Meu Deus, sério, não chama ele.
— Bryan, vem aqui, rapidão. — Insistiu Max.
— Não quero que ele venha aqui. — Cochichou.
— Hey Cooper! — Foi a vez de Tyler gritar. Pandora ergueu o queixo pra visualizar o campo, para onde os garotos olhavam. Com o intervalo do treino os jogadores dos Dayton estavam dispersos, espalhados em diversas partes do gramado e estrutura. Mais perto da end zone a sua direita, Pandora conseguiu enxergar o semblante concentrado de Bryan para o treinador, que explicava-lhe alguma coisa. A sombra da trave escondia o semblante de Hayes, mas o alvoroço dos rapazes fez com que ambos saíssem do lugar para irem ao encontro deles.
— Maxon. — Falou ela.
— É brincadeira Pan...
— O que tá acontecendo aqui? — Hayes questionou com as mãos na cintura. Bryan vinha logo atrás, com passos lerdos e a terrível sobrancelha arqueada. Pandora odiava quando ele fazia aquele semblante, geralmente quando estava disposto a ser mais orgulhoso do que ela.
— Estamos tentando deixar Pandora feliz. — Rebateu Tyler.
— Está triste Monaco?
— Não treinador... — Rolou os olhos. — Eu vou pra casa, nos vemos segunda. — Se apressou em dizer. A muleta contribuiu quando conseguiu firmar seu pé e começar a se afastar antes da chegada do melhor amigo. Não era loucura sua, com a vinda do final do ano a relação deles parecia estar sob pressão o tempo inteiro; e isso causava muito mais do que brigas com gritos ou crises de arrogância, Pandora sabia que tanto ela, quanto Bryan estavam machucados com as diferenças que aumentavam entre eles, e não havia mais do que dois caminhos a se seguir. A dor maior era ter certeza que estavam indo para o pior deles.
Quando a wide alcançou o meio do campo sabia que Bryan tinha chegado aos amigos. Como ninguém insistiu em segui-la apressou o passo até o estacionamento atrás da escola. Seu tornozelo incharia com o forçar, mas que se danasse, só queria poder entrar em casa e aproveitar de verdade o final de semana. 

Pra começar, nem deveria ter saído da sua cama.

Às vezes queria não ter só um time de garotos como amigos.
— Onde você pensa que vai? — Os dedos fecharam no seu braço antes que pisasse no meio fio. Não precisou virar para trás para identificar Bryan somente pelo perfume, que ainda era predominante mesmo com o suor do treino. — Tá fugindo de mim?
— Eu só quero ir pra casa. — Murmurou, já sendo solta. Não se deu ao trabalho de encarar o rosto dele, já que pra isso teria que enfrentar um sol quente e forte. Bryan suspirou, coçando um dos braços.
— Pandora, o que tá acontecendo?
— Não entendi.
— A gente, brigando assim. Eu nem lembro o porquê da ultima briga.
— Você nunca lembra. — Sorriu sem entusiasmo. — Da pra me deixar ir?
— Tá vendo? Eu tento resolver e você fica fazendo isso aí, fazendo seu drama.
Meu drama...
— Tenha dó Pandora. Se eu sou seu melhor amigo e tenho que aguentar essas coisas imagina quando você namorar alguém. Se é que vai namorar. — Soltou. Pandora encontrou vontade para enfim olhá-lo. Pestanejou contra os fortes raios solares e visualizou um Bryan arrogante e presunçoso. O mesmo que ela vira nas primeiras semanas em que conviveram antes de se tornarem o que eram. O mesmo que metade da escola odiava, e outra metade idolatrava. O quarterback com um futuro brilhante, mas um caráter entortando.
— Você me deixou trancada na sua casa, porque se esqueceu de mim lá enquanto ia pra alguma festa, com alguma garota. Foi por isso que brigamos! — Balançou um pouco a cabeça. — Você tá agindo comigo como age com qualquer estranho.
— Meu pai chegou uma hora depois Pandora... — Retrucou. — Pandora... — Falou para as costas da menina, que já mancava em caminho de casa. — Ah vai se ferrar! Você quer sempre sair de vítima nessa merda.
— É isso que você acha? — Virou o rosto.
— É, é isso que eu acho. — Disse ele.
— Então tá ótimo!

Como Não Se Apaixonar Por Um QuarterbackOnde histórias criam vida. Descubra agora