Capítulo 1

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" Em uma terra de deuses e monstros, eu era um anjo vivendo no jardim do mal" — Lana Del Rey

A vida é um constante ciclos de começos e fins.Uma coisa que aprendi com minha mãe foi para não subestimar pequenos começos,pois o destino pode te surpreender.

—Estou com muita fome.— Lex resmunga mexendo em sua bolsa —Meu Deus,será que estou com verme?!

Desvio os olhos da janela minúscula do avião.Nem fazia nem 10 minutos que ela havia triturado um pacote tamanho família de batatas Ruffles.

—Você repetiu isso umas quinhentas vezes. — fungando o nariz -O que diabos tem na barriga,menina?Já tomou seu remédio de lombriga?Não creio que seja possível uma pessoa sentir tanta fome...

Alexia era minha melhor amiga.Sabe aquele tipo de pessoa a qual você ligaria no meio da noite para esconder um cadáver?
Era a Lex a qual eu ligaria.Era ela que sempre esteve ao meu lado,em todos meus momentos bons e ruins.Ela sempre esteve presente em todos os momentos da minha vida.

Nos conhecemos aos 5 anos,no jardim de infância.
Mamãe viajou para o Rio de Janeiro em busca de uma vida melhor e foi aí que conheci a menina do cabelo cacheado.
Moramos no mesmo condomínio,porém Lex não foi flor que se cheire no início.Ela QUEBROU MEU NARIZ EM UM MURRO.
Motivo?Porquê achei que estava encarando ela,sendo que eu sou míope e o tipo de pessoa que pode se enquadrar em estar focada em um ponto aleatório quando na verdade sua cabeça viaja em outra dimensão.

Sim,Lex era uma vaca,vez por outra psicótica e bipolar.Porém,agora ela é minha vaca.Ela era minha pessoa.Sempre foi.

Fizemos amizade pouco tempo depois e desde então nunca nos separamos.
Cursamos o pré juntas,o fundamental,colegial e nos formamos juntas.Eu em enfermagem e Lex em publicidade ao mesmo tempo que cursava marketing,a qual eu meio que esperava,pois a danada é comunicativa ao extremo e te venderia um par de meias sujas,se desejasse.

—Puta que me pariu hein,Lilica?Tenho culpa se meu estômago não tem relógio?— me olha balançando as sombrancelhas —Tem uma barrinha de chocolate?Qualquer coisinha já me ajuda...Será que vai demorar muito para servir comida aqui no voo?Pelo preço,deveria ter um carrinho passando por mim a cada 5 minutos!

Ri querendo chorar.A aeromoça que passava por perto arregala os olhos ao ver que a minha amiga havia comido um salgadinho,uma lata de refrigerante e uma maçã para equilibrar sua dieta.

—Lex,você come demais! —mexendo em minha bolsa e encontrando uma barra de chocolate.

Estendo e ela pega feito um Zumbi de The Walking Dead sentindo cheiro de humano.

—É por isso que você vai para o céu e eu te amo!- manda beijinhos —Você sabe que quando estou ansiosa como tudo o que vejo pela frente.Claro,depois,vou morrer em uma dieta laxativa,tentando fazer fotossíntese e entrar em um manequim impossível.

Meu semblante muda.Eu sabia o porquê da ansiedade de Lex,mais do que isso,compartilhava dessa ansiedade pois estávamos a caminho de uma cidade desconhecida,sem ao menos saber se daria certo.

Meus olhos começam mais uma nova fase de choro.Desvio a atenção para a janela novamente.Eu não poderia ser fraca,não poderia voltar atrás de nossa decisão.
Mudar para a Itália foi a decisão mais difícil que tive que tomar.Mas,não havia nada que me prendia ao país.
Mamãe faleceu ano passado de câncer de mama,no auge dos 40 anos.
No começo,me agarrei a esperança de que minha mãe sairia daquele estado,lutei gradativamente contra a luz se apagar,mas nada adiantou.Em uma tarde de domingo,o coração da minha mãe parou de bater e naquele dia tive a certeza que por alguns segundos o meu parou de bater também.

Nunca pensei que enterraria minha mãe tão cedo.Meu coração se partiu em mil pedaços e tive que reconstruir caquinho por caquinho....sozinha.
Eu não tinha escolha a não ser lutar e vencer.

Em minha breve vida não tive a oportunidade de conhecer meu pai.Sempre que perguntava para minha mãe sobre ele,ela desviava o assunto.Meu genitor era uma verdadeira incógnita.
Depois que cresci desisti de perguntar ou pesquisar.Se ele me amasse de verdade teria me procurado.

Elisa Sarabelly foi minha heroína e trabalhou arduamente até ver sua filha formada.Quando finalmente me formei,ela encerrou sua vida sem ter a chance de me ver na Colação de Grau.

—Está chorando de novo?—Lex pergunta triste,os olhos automaticamente se enchem de lágrimas.

  Eu odeio ser sentimental ao extremo.

Seco as lágrimas rapidamente.

-Não.- forcei um sorriso —Não é nada,Lex.

Ela para de comer a barra Nestlé,colocando-a de lado.

—Quer mandar essa desculpa,logo para mim,a Rainha dos nós em pingo de água?- aperta os olhos em constatação.— A própria Cleópatra reencarnada?

Maneio a cabeça para o lado.

-Sei lá,Lex.Será que estamos certas em deixar o Brasil?- questiono insegura.

O rosto da morena se espreme em uma carranca.

—É claro que sim,mana.Milão é uma cidade rica e as clínicas sempre pegam enfermeiras brasileiras.No nosso caso,Milão é perfeito!- sua mão alcança a minha e a segura tentando passar a máxima confiança. — E eu nunca vi alguém ser tão boa quanto você,Olívia.

A idéia de ir para Milão partiu de Lex.Fizemos nossos planos há 2 anos,juntando dinheiro aos poucos,investindo totalmente até os últimos recursos.
Começamos a aprender inglês,francês e espanhol sozinhas através de aulinhas de YouTube e depois com aulas presenciais no cursinho.
Hoje,estamos indo rumo a Itália,mais especificamente em Milão.

—Eu estou com medo.—confesso chorando.- Tipo,me borrando de medo. E se a gente terminar sem nada,Lexi?Como iremos viver?Mendigando?

Quando mamãe morreu,Lex cuidou de mim.Ela sempre morou sozinha então me levou para sua casa sem que eu pagasse nada.
Ela foi a irmã que a vida me deu.Foi a pessoa a me estender a mão sem cobrar nada em troca.

—Sempre estou aqui ao seu lado,Lilica.Vamos fazer essa parada dar certo,partiu? —enxuga as lágrimas de meu rosto. —Nem que eu tenha que virar uma vagabunda de luxo,prostituta de ponto de ônibus ou que seja.Nunca te deixei sozinha e não ficará.Mas,em todo caso eu sei o endereço da Embaixada Brasileira na cidade nova.Partiu,gata?

Finalmente eu ri,limpando as lágrimas salgadas que escorriam em minha face.

—Partiu. - abri um sorriso esperançoso.

O que o futuro nos preparava?O que a vida havia reservado para nós em uma cidade nova?

O que o futuro nos preparava?O que a vida havia reservado para nós em uma cidade nova?

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