Eu estava no píer.
Era uma bela construção de madeira que avançava para o lago. Meu pai o construiu para ancorar o barco que pretendia comprar.
Eu me sentei na borda, às lagrimas não paravam de cair, meus pés estavam mergulhados na agua gelada. Não importava o horário, a agua sempre era gelada.
Estava sendo difícil digerir tudo o que aconteceu, todas as informações, tudo o que eu descobri. Meu pai havia mentido pra mim por toda a minha vida e agora estava morto e eu o odiava por isso, o odiava por ter perdido o controle do maldito carro.
Minha vontade era de gritar, mas nem isso eu conseguia, tudo aquilo estava engasgado e eu só conseguia chorar.
Ouvi passos rápidos sobre a madeira. Alguém se sentou ao meu lado.
Ed.
Ele mergulhou os pés na agua sem se importar com as calças, depois me embalou nos braços me fazendo deitar a cabeça em seu ombro. Ed costumava fazer projetos com o meu pai, então sempre nos visitava.
-- Porque não me chamou antes – Sua voz era rouca e baixa.
Silencio.
-- Jimi... – Continuou após notar que eu não ia responder. – Você não precisa passar por tudo isso sozinho. Fala comigo.
Silencio.
-- Quando Diógenes me falou sobre a morte do seu pai, eu corri para cá, pra ver como você estava. Não imaginei que o corpo já havia sido enterrado. Eu não entendo, por que não me chamou?
Por mais próximo que Ed podia ser, ele não fazia parte da família, sempre foi eu, meu pai e Diógenes. Sempre. Eu não o chamei porque no momento não passou pela minha cabeça que ele se importava, não imaginava que outras pessoas poderiam se importar. Meu pai sempre dizia que eu não podia confiar em ninguém, que as pessoas eram perversas e que não havia espaço no mundo para pessoas como eu, que eles não entenderiam e que eu estava melhor sem ninguém. Eu confiei nele, acreditei em tudo o que disse. Ed não era importante, isso era o que eu pensava.
-- Desculpa. – Falei quase em um sussurro, eu não estava me sentindo culpado, mas era o que ele queria ouvir. Ed se importava, agora eu sabia.
-- Esta tudo bem. – Ele afagava as minhas costas, por mais frágil que eu pudesse estar, eu não estava acostumado com a presença dele ainda, estranhei e me afastei.
Ele era uma boa pessoa, e nós conversávamos sobre muitas coisas nas inúmeras visitas que ele nos fez.
Eu não tinha muita gente para conversar, então sentia falta quando ele não vinha. Mesmo assim, eu ainda o considerava um estranho.
-- Ele mentiu pra mim. – Falei depois de um tempo de silencio, onde somente o barulho do vento balançando as copas das arvores pode ser ouvido.
-- Seu pai? – Ele pareceu não entender.
Assenti.
-- Ele me disse que minha mãe tinha morrido no parto. – Meus olhos fitavam a outra margem do lago, mas minha mente estava longe.
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A Casa de Jeremy rily
Mystery / ThrillerDois irmãos gêmeos, uma família estranha, uma fazenda distante em algum lugar esquecido. Um mau outro bom. Um humano e um fantasma. Jimi é um garoto que acaba de perder o pai e descobre que a mãe, que pensava estar morta, vive em uma fazenda no int...