capítulo 04

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Eu dormia debaixo daquele edredom branco.  Era madrugada.  Senti um sopro frio no rosto, como se alguém respirasse bem próximo a minha pele.

Abri os olhos.

A minha frente estava um par de olhos brancos que me fizeram pular. Era eu ali, ao lado da cama.  Não. Era ele.

Jeremy Rily.

Sua pele estava pálida e o rosto sem expressão. Ele se ergueu, mas não tirou os olhos de mim.  De pé me fitava e eu devolvia um olhar assustado. Respirei fundo.
Era apenas um fantasma.

Apenas um fantasma.

Fantasmas não machucam.

São como fotografias, lembranças de um passado.

Eles apenas aparecem e vão embora logo depois.

Apenas um fantasma.

Apenas um fantasma.

Era idêntico a mim.  O rosto o corpo. como estar de frente a um espelho.

Estava petrificado, imóvel.  Me olhava com seus olhos brancos, mas podia me ver. Estava usando roupas normais, uma camisa cinza escondida debaixo de um moletom verde e calças jeans. 

Convencido de que não era nada demais acendi o abajur e quando a luz iluminou o quarto ele simplesmente desapareceu. 

Apaguei o abajur e voltei a deitar. Fechei os olhos. 
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Silencio.
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Ouço o barulho de ranger das dobradiças da porta.  Ligo o abajur e a porta estava aberta. Eu tinha certeza de tê-la fechado. Sim, eu a fechei.

-- Jimi...  – Uma voz cantou meu nome no corredor.  Era a minha voz.

Me levantei receoso, sabe lá o que me esperava lá fora. Nunca um fantasma falou antes, isso não parecia normal, não era normal.

Fantasmas não falam.

Eles são silenciosos, nunca emitem som algum e a porta... Como ele abriu a porta?  Fantasmas não abrem portas, eles não tocam nas coisas.
Que tipo de fantasma era Jeremy Rily?

A meia luz do corredor me deu calafrios, a porta do quarto de Ed estava fechada, assim como todos os outros quartos.

-- Jeremy? – Chamei baixinho.

-- Jimi... – Sua voz era calma e melódica, suave, mas não diferenciava muito da minha que o chamava com voz baixa no corredor.

O corredor era grande, varias portas de ambos os lados, quartos desnecessários a julgar pelo tamanho da familia. As paredes eram verde, o teto creme e o assoalho de madeira marrom assim como todas as portas. A ultima porta porem era um pouco menor que as outras. Estava entreaberta. 

-- Jimi. – Dessa vez a voz não foi melódica, foi como um sopro no meu ouvido, um sussurro alto que me fez pular.

Novamente o bagulho de ranger de dobradiças. A porta que antes estava apenas entreaberta agora estava totalmente aberta. Jeremy queria me levar ate lá. Dei alguns passos na direção da porta, me aproximei lenta e cuidadosamente pra não acordar ninguém.

-- É bom ter você aqui!  -- Novamente aquele sussurro, que me fez pular mais uma vez.

Meu coração pulsava tão forte que parecia querer sair do meu corpo.  Fiquei irritado. Continuei indo em direção à porta quando outra se abre e por ela sai Odel vestindo uma camisola branca de seda.

-- Esta tudo bem?  -- ela perguntou quando me viu no corredor.

Forcei um sorriso e assenti.

-- Pensei ter ouvido um barulho.

Ela olhou para a porta aberta foi ate lá e fechou rapidamente.

-- Não se preocupe, casas velhas costumam fazer barulhos estranhos às vezes. – falou sorrindo, mas um pouco nervosa.

-- Tudo bem... Eu...  Vou voltar para o quarto.

-- Vou pegar agua você quer?

-- Não obrigado.  – falei indo em direção ao meu quarto. – Boa noite.

Entrei e fechei a porta.

Andei de um lado ao outro do quarto algumas vezes tentando imaginar o que havia atrás daquela porta. O que Jeremy queria me mostrar? E afinal como ele era capaz de falar e abrir portas? E por que Odel pareceu nervosa?

Alguma coisa muito estranha estava acontecendo.





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