capítulo 14

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A escuridão nos sega.
Ela nos deixa frágeis e vulneráveis.
Para muitos, sempre vai existir uma luz no fim do túnel, mas para os menos sortudos, que se perdem do caminho, tropeçam, caem e jamais voltam, a luz não vai estar  lá.
Ninguém sabe quando vai morrer, mas sabemos que vamos morrer.
Perder alguém é uma dor suportável, mas eterna. Nunca vamos nos livrar da saudade, da falta. Perder alguém é cruel. Morrer é quase inaceitável.

Otto me levou até o sótão.
A família estava toda lá.

-- O que estão fazendo? – Gritei.

Odel, Odete, Catarina e velha O’ Donel estavam trajando vestidos acinzentados. Eu não sabia ao certo se aquela cor era a cor do tecido ou se ele era branco e estava sujo. Otto usava um belo terno preto.
A senhora que estava sentada em sua cadeira de balanço, segurava a boneca mórbida em uma das mãos e na outra uma faca de cozinha. Isso me causou um arrepio. Ela era assustadora. Seus cabelos desalinhados, sua pele ressecada, enrugada e manchada. O’donel parecia uma bruxa dos clássicos contos de fadas.

Ele me pôs sentado em uma cadeira de frente para a cama de Jeremy e me segurou enquanto sua mulher e filha me amarravam. Parei de gritar, não iria resolver, mas continuei me contorcendo, tentando me livrar das amarras.

Maldita família.

Cada um tomou o seu lugar formando um semicírculo atrás de mim. 

-- O que estão fazendo?

Não havia velas, nem símbolos estranhos no chão. Não tinha esqueletos ou qualquer outra coisa macabra espalhada pelo cômodo. Exceto ela.
O’donel.

A velha de repente virou os olhos pra mim. Seu olhar parecia penetrar muito além da minha alma. Gelei. A boneca esquisita escorregava de sua mão ao mesmo tempo em que os seus ossos estalavam enquanto ela se levantava lenta e dificultosamente de sua cadeira de rodas.
Eu olhava aquilo com um misto de medo e ódio.

A velha deu alguns passos  até a cama de Jeremy e com a faca cortou a palma da mão dele. Uma grande quantidade de sangue sujou os lençóis. Ela limpou o sangue da lamina com os dedos e veio em minha direção lentamente, a cada passo parecia querer cair.

Catarina se aproximou, segurou meus cabelos e puxou minha cabeça para traz, mantendo- me imóvel até que a velha sujasse a minha testa com o sangue do neto.

-- Por que esta fazendo isso Catarina?
Eu não sabia a finalidade daquele ritual, mas não criei esperança de escapar vivo de tudo aquilo.

-- Apenas quero o meu filho de volta. – Sua voz era fria.

Ela soltou meus cabelos.
O’donel tentou abrir minha mão, mas mantive o punho cerrado enquanto seus dedos esqueléticos tentavam fazer os meus se abrirem. Então sem paciência ela levou a faca até o meu braço. Senti a lamina rasgar a minha pele propositalmente de forma lenta.

A xinguei e os amaldiçoei.

-- O que acha que esta fazendo velha insana? – Perguntei em gritos de fúria.

Ela levantou o braço e bateu no meu rosto com as costas da mão. Senti minha bochecha arder. Apesar de não aparentar ela ainda tinha força.
A olhei com ódio. Eu queria rasgar a garganta dela.

A Casa de Jeremy rily Onde histórias criam vida. Descubra agora