Levantei cedo, mal dormi pensando nos acontecimentos da noite que se passou. Todos ainda dormiam. Olhei pela janela, os primeiros raios de sol deixava a cor ocre do capim seco ainda mais viva.
Senti falta da minha casa, do lago e do Steve.
Tomei um banho, me vesti e desci.
A casa estava silenciosa. Decidi andar um pouco lá fora. O vento frio, não tanto como nas manhas na varanda da minha casa, mas o suficiente para fazer me arrepender de não ter pego um casaco.
Saudades do chocolate quente.
Saudades da varanda.
Saudades de Diógenes.
Saudade das paredes de vidro.
Saudade do meu pai.
Eu queria voltar pra casa, voltar para o meu quarto e esquecer toda está historia. O que eu estava fazendo ali afinal? Conhecendo minha família? Não. Eles não eram minha família. Não cresci com eles, não os vi envelhecendo, não tirei fotos com eles. Eles eram a família dele, do Jeremy.
Só mais dois dias. – repeti isso varias vezes em minha cabeça, numa tentativa de deixar mais suportável aquela sensação de deslocamento que eu sentia. Aquele definitivamente não era o meu lugar.
Continuei andando sem prestar atenção no caminho, preso nas memorias do meu pai, da minha casa, do Steve. Como eu queria poder ver o Steve agora, ele significava lar.
Um barulho quebrou meus pensamentos.
Era um som ritmado.
Toc.
Silencio.
Toc.
Silencio.
Toc.Madeira e metal. Machado e lenha.
Segui o barulho por curiosidade, até chegar ao quintal da casa que vimos na noite anterior. Uma casinha pequena, mas muito bonita. Paredes de madeira e teto alto, uma chaminé que cuspia fumaça no céu, janelas de vidro, porta de madeira grossa. A casa fora pintada de creme e vermelho. Ao redor flores, muitas flores de todas as cores, uma estradinha de pedra que levava até um tronco grosso onde um rapaz jovem cortava a lenha.
Ele não parecia ser mais velho do que eu, apesar de ser maior e mais forte. Pele clara, ombros largos. Estava usando uma camisa verde lodo e calças jeans. Ele não me notou ali.
Parei de andar. Ele era o rapaz que discutia com Tereza na noite anterior. Eu não queria incomoda-lo. Quando decidi dar meia volta ele virou-se para minha direção.
-- Vejo que esta de volta Rily. – falou visivelmente mau humorado. Senti como se eu tivesse feito algo errado.
Ele parecia bravo.
Olhou-me brevemente e depois se virou novamente, continuou cortando a lenha.
Rily? Ele me chamou de Rily? Será que ainda não sabia sobre a morte de Jeremy?
-- Não. – Falei um pouco tenso. – Sou Jimi, você esta me confundindo com o Jeremy.
Ele parou de cortar a lenha e se voltou pra mim novamente, agora com olhar de surpresa.
-- Jimi! – Ele me fitou por dois segundos, aparentemente incrédulo. – Claro que é você, me desculpe.
Fiquei confuso. Ele parecia surpreso, assustado. Parecia esperar por outra pessoa.
-- Me desculpa. – Ele falou novamente agora com um sorriso. – Você deve estar pensando que eu sou algum tipo de louco. É que o Jeremy morreu a pouco tempo e você chegou de repente aqui... Não me acostumei muito bem com a morte dele ainda e... Bem... Vocês se parecem muito. – Se explicou. – Sou Calebe Espinosa.
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A Casa de Jeremy rily
Misteri / ThrillerDois irmãos gêmeos, uma família estranha, uma fazenda distante em algum lugar esquecido. Um mau outro bom. Um humano e um fantasma. Jimi é um garoto que acaba de perder o pai e descobre que a mãe, que pensava estar morta, vive em uma fazenda no int...