Capitulo 2 : Um dia de chuva

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Chuva. 

Pela primeira vez no outono, a chuva caiu em Lork. 

O que era um fenomeno estranho visto que as chuvas começavam apenas na primavera ou no inverno. 

Mas aquela chuva tinha um motivo: a morte do rei.

O corpo do rei seria velado na capela de Monttanna, e todos do reino de Lork e Vermênia estavam na porta da capela chorando a morte do rei Henrique de Ferraz. 

Todos, menos seu filho Benjamin.

Benjamin era incapaz de deixar uma lágrima cair, era um menino forte. Apesar do que se passou não queria demonstrar fraqueza na frente do povo que ele agora governaria. 

Mas por dentro o jovem príncipe estava destroçado. Sua cabeça estava confusa com os varios acontecimentos da noite anterior. Assim que tudo se acalmou, os convidados resolveram que a estadia no castelo, como era o previsto, não poderia mais acontecer. 
No meio da madrugada, ao longe, varias carruagens podiam ser vistas saindo das terras de Lork e voltando para seus reinos. Os unicos monarcas que ficaram no castelo foram aqueles que tinham uma viagem mais longa pelo mar. Benjamin havia se trancado em seu quarto, enquanto admirava um retrato onde ele e o pai foram pintados juntos quando o jovem ainda tinha seus dez anos de idade. As lembranças foram divagando por sua mente e às lágrimas foram inevitáveis.


Depois do funeral, o corpo do rei foi levado para o mausoléu da família, onde sua mãe, pai e mulher estavam enterrados.
Mas uma vez, Benjamin via uma pessoa que amava muito ser enterrada naquele mausoléu. Quando viu sua mãe a dezesseis anos atrás sendo enterrada ali, o garoto não tinha compreensão do que se passava. 

Mas agora com seu pai, a dor era infinitamente maior, pois agora ele entendia o que era a morte.

Quando tudo acabou e todos foram embora do local, só Benjamin e Barbara ficaram ali. A princesa não queria deixar seu noivo sozinho nem por um segundo. A ideia de velo sofrer sozinho nem passava pela sua cabeça, por mais que soubesse que ele iria precisar de um tempo.

Barbara: Vamos meu amor. Você precisa descansar.- Ela fala encostando sua cabeça em seu ombro, e sendo correspondida por um abraço carinhoso e um beijo no topo da cabeça.

Benjamin: Vá na frente, eu quero ficar um pouco sozinho aqui.- Ele fala com o olhar baixo e dando um leve beijo em sua mão.

Barbara: Tem certeza? Não quero lhe deixar sozinho aqui. Não lhe faz bem ficar remoendo essas mágoas que você tem.- Ela fala olhando fixamente em seus olhos. O príncipe a olha fazendo um gesto com a cabeça concordando. Barbara havia entendido o recado, estava na hora, a hora que ela não queria que chegasse. A hora do príncipe ficar sozinho.

Benjamin ficou um bom tempo a frente do mausoléu, o olhando fixamente. Vendo cada momento de sua vida passando em frente de seus olhos. Recordações, lembranças e pensamentos voavam pela sua cabeça. Cada momento, cada dia, cada segundo que passou com o pai, passava a frente de seus olhos.

Finalmente as lágrimas se permitiram cair. Lágrimas discretas, lagrimas que continham dor e sofrimento pela morte de alguém que amava, lágrimas que se misturavam com os pingos de chuva que caiam do céu. Os olhos azuis que puxaram a mãe.
Benjamin lembra que sempre que o pai falava que o filho ia chorar seus olhos não se permitiam ou não queriam chorar. Ele sempre falava que ele tinha os olhos da mãe. Como ele queria ter conhecido a mãe, o máximo que Benjamin tinha da mãe eram cartas e um quadro pendurado na parede da sala do trono.

Esses pensamentos foram atrapalhados por passos que Benjamin ouviu as suas costas. Ele cogitava a possibilidade de ser Barbara. Então falou sem nem perceber que quem estava as suas costas era outra pessoa.

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