II

995 105 15
                                    

•Wonwoo•

Eu não tenho muito tempo. Apenas alguns longos minutos até acharem o menino desertor, suas pegadas iam para oeste do lugar escuro.

Isso se o acharem.

Eles provavelmente vão demorar a noite toda para achá-lo, se ele souber aonde ir. As catacumbas cobrem o subsolo de quase toda cidade, indo das terras próximas ao Palácio até quase os limites da cidade, muito embora muitos lugares estejam soterrados e sejam de difícil acesso.

Creio que ninguém venha para leste, não se o acharem, mas por via das dúvidas sigo por um caminho mais árduo e desconhecido daquele lugar nada agradável.

Me sinto mal por usar a fuga de outra pessoa para realizar a minha, mas eu não tenho outra escolha. Passei a vida servindo ao Império e quero apenas correr daqui sem olhar para trás.

Vamos, foco.

Eu ando tentando não fazer muito barulho, mantendo os passos quase inaudíveis, mas as botas pesadas não ajudam nessa tarefa e a descrição e cautela se tornam um grande obstáculo.

Ouço passos vindo da minha direita, no entanto continuo a seguir meu caminho. Logo sinto algo trombar com as minhas costas e em reflexo eu me viro, pronto para acertar quem quer que esteja ali para atrapalhar meus planos. O jovem menino respira com dificuldade e trava ao ver em quem tinha esbarrado. Antes que ele faça qualquer coisa que possa entregar onde estamos eu coloco a mão sobre sua boca e o impeço de fugir.

Sua estatura baixa e corpo magro não o ajudam a escapar do meu aperto então tento acalmá-lo. O uniforme cinza se encontrava rasgado, imagino eu, que seja por causa de sua fuga. Ele esteve se esgueirando por esse lugar a noite toda. O cabelo recém cortado gruda em sua testa e o pano que deveria cobrir seu rosto estava destruído e pendia em seu pescoço. Não o conhecia, afinal não era um dos meus recrutas, não devia ter mais do que quinze anos e os meus já são veteranos.

— Se acalma, respira fundo. Eu não vou te entregar. — Falo baixo e instantaneamente ele congela. — Quero te ajudar... Então eu vou te soltar e você vai seguir naquela direção, é a saída mais próxima você só tem que seguir reto, cuidado com seus rastros e preste atenção nos seus arredores eles ainda estão te procurando. — Aponto para a passagem à minha esquerda e ele assente, o solto e vejo o rapaz respirar fundo.

— Obrigado. — Ele me olha ainda desconfiado, mas faz o que eu digo e sem demora some da minha vista.

Espero que consiga.

Caminho até uma cripta antiga e nela encontro minha bolsa, arrumada com alguns suprimentos para me manter durante a minha longa viajem para qualquer lugar longe daqui.

Eu sei que fugir nunca é a resposta, mas quando você é obrigado a fazer coisas horríveis para um Imperador tão horrível quanto, tudo o que você quer fazer é dar as costas à tudo o que tem ligação com esse império.

Alguns soldados gostam dessa vida, afinal, nós vivemos nesse meio desde pequenos, tivemos que aprender a conviver e sobreviver. Eles gostam de ser temidos.

Eles podem até gostar, mas eu não.

Procuram crianças pelas ruas e nos levam para um dos quartéis espalhados pelo país, somos treinados como máquinas, aprendemos a ser impiedosos e cruéis e a ver armas como extensões de nosso próprio corpo. Muitos não aguentam e acabam morrendo ou desertando, um desertor não tem outro destino se não a morte.

Os que sobrevivem são obrigados a fazer o trabalho sujo do imperador. Lutar contra a resistência, matar seus inimigos, controlar o povo e manter a segurança. Mesmo que isso vá contra seus ideais e vontades. Nunca desconfiaram de um guarda já treinado e formado, por isso essa é minha única chance de fugir do meu posto.

Behind the Mask  » » Jeon WonwooOnde histórias criam vida. Descubra agora