XXIV

411 59 4
                                    

•Wonwoo•

— Você está péssimo! — A voz alta de Soonyoung faz minha cabeça doer, mas não reclamo, me limito a aceitar a xícara de chá que ele me oferece e tentar acordar. Meu corpo dói e me esforço para sentar a sua frente sem demostrar o quão difícil foi pegar no sono essa noite e por isso apaguei assim que ele me ofereceu uma cama.

— Isso é animador. — Ele ri do meu tom sarcástico. — Quanto tempo eu dormi?

— Tempo suficiente amigo. Já é de tarde e nos resta pouco tempo para sair da cidade. — Quase me engasgo com o chá. Como assim já é de tarde? — eles já evacuaram boa parte dos bairros ao redor das principais estradas, tropas virão e eles estão se preparando para mais uma batalha.

Suspiro sentindo tudo novamente. Como um covarde eu dou as costas e fujo de tudo mais uma vez.

— Aliás, por que você não está com eles?

Um arrepio percorre minha espinha, a pergunta que eu não queria ouvir foi feita e o motivo da minha insônia voltou à tona. Suspiro e desvio meu olhar do de Hoshi, me concentrando apenas na xícara à minha frente para tentar ao menos organizar meus pensamentos, mas apenas consigo ouvir a voz dela, se repetindo várias e várias vezes.

Egoísta...

— Eu descobri algo que eu não deveria ter descoberto e preferi sair antes que tudo desabasse. — Sinto que ele me encara, provavelmente tentando entender o que acabei de dizer, mas eu não queria explicar toda essa história.

Me levanto a procura de um espelho para constatar o quão mal meus machucados estão e tirar as ataduras que provavelmente não eram mais necessárias. Os hematomas estavam mais evidentes e os cortes não sangravam mais, o que era bom, mas não tirava o fato de que tudo ainda doía e que ficaria marcado por um bom tempo.

— Não é minha intenção atrapalhá-lo, mas temos que ir, agora. — Ouço sua voz vindo da sala então apenas verifico se minhas armas estão no lugar, termino de juntar minhas coisas e o sigo.

Sua casa não ficava longe da estrada principal, por isso tivemos que sair pelos fundos.

— O que está acontecendo? — pergunto ao meu amigo que caminha à minha frente, mostrando qual caminho seguir.

— Como eu havia dito, uma tropa armada por alguns generais está vindo para a cidade. Imagino que para tentar recuperar o Castelo numa tentativa desesperada. — Ele para de falar e coloca a mão na minha frente antes que eu possa sair do beco pelo qual estávamos passando. Um grupo a cavalo passa por nós sem se dar o trabalho de nos notar. — Enquanto você estava dormindo eu fiquei sabendo que armadilhas irão receber as tropas, entende o que quero dizer? Pólvora, barris e mais barris que irão explodir assim que os soldados chegarem. Por isso boa parte da cidade foi evacuada. Muitos irão morrer hoje.

Fico em silêncio e faço de tudo para esconder que suas palavras me afetaram. Sempre foi tão fácil, por que não consigo simplesmente fingir que não me importo?

"Vou impedi-los nem que eu morra tentando."

Não consigo evitar, minha respiração se torna pesada e eu me preocupo. Me preocupo com Mingyu e Chan, que estão machucados e cansados de lutar, com Seungcheol e Vernon, que provavelmente vão ficar encarregados de algo grande, mas principalmente me preocupo com HaeWon. No fundo eu sei que ela fará de tudo para acabar com os dois, não pensará duas vezes ou medirá esforços.

"Não é você que vai me impedir, não agora."

— Wonwoo? Você está bem? — Não, não estou. Olho para ele querendo dizer tudo, no entanto mais uma vez nada sai. — Está preocupado com eles. Não está?

Sou pego de surpresa por ele ter percebido, mas acabo assentindo e parando de andar. Sinto sua mão sobre meu ombro, mas não consigo encará-lo. O vento sopra e a chuva começa a cair em pequenas gotas que mal nos molham.

"nesse meio tudo pode acontecer e não saia de perto da sua companheira quando a hora chegar."

— Na verdade você está preocupado com ela. - Finalmente olho para ele que apenas sorri e balança a cabeça. — Não sei se já te disseram isso, mas você fala enquanto dorme. Se eu não me engano seu nome é HaeWon. Estou certo? Você chamou por ela algumas vezes.

Isso não me surpreende. Mal dormi durante a noite, pensando nas palavras afiadas dela, que apesar de duras são verdadeiras.

— Tem razão, eu me preocupo. — Admito em voz alta dessa vez e um peso sai das minhas costas. — Tenho medo de nunca mais vê-la. Ela vai se arriscar para salvar a todos e eu nem consegui dizer a ela que eu...

— Você a ama? — Hoshi pergunta de súbito me interrompendo e não sou capaz de mentir. Assinto certo do que estou afirmado, tive muito tempo para refletir sobre o que eu realmente sinto por ela, e no fim, não me restam dúvidas. — Então ela deve ser a primeira a ouvir essas palavras saindo da sua boca... Por que não vai atrás dela? Vai deixar que escape do seu alcance assim? Vai desistir da mulher que ama tão fácil?

— E o que você sugere? Não posso ficar pedindo a você que me espere ou se arrisque por mim sempre que algo assim acontecer. — Isso não é toda a verdade, é a maior parte dela pelo menos, mas não queria admitir que estava sem coragem para encará-la depois do que aconteceu, contudo não queria me separar dela. Eu não sei o que fazer. Hoshi apenas ergue as sobrancelhas e me olha incrédulo.

— Sabe o tamanho da dívida que tenho com você? Quantas vezes você livrou o meu pescoço? Eu devo minha vida a você é não há melhor maneira de pagar minha dívida do que te ajudando a ser feliz. Você está com um problema e eu vou te ajudar do jeito que eu posso. — Meneio a cabeça com sua fala e sinto a chuva aumentar e me molhar. — O que eu sugiro? Vá atrás dela, antes que seja tarde demais.

Behind the Mask  » » Jeon WonwooOnde histórias criam vida. Descubra agora