VIII

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•Wonwoo•

O tempo que antes se arrastava começou a passar depressa. Dias viraram semanas, o mês passou rápido e as tarefas duplicaram. Todos os dias somos obrigados a carregar e escoltar os lotes de armas que chegam à cidade. Tudo bem que nossas armas não estão mais em perfeitas condições, mas encomendar caixas e mais caixas de todos os tipos e tamanhos não é normal.

Isso só pode significar uma coisa: Vão nos mandar em alguma missão. Uma das grandes.

— Viram o carregamento de pistolas? — um dos guardas diz empolgado. — Com uma belezinha daquelas eu fico realizado.

Não consigo conter o risinho sarcástico, que graças aos céus está escondido, pistolas são muito trabalhosas de usar, até carregar com todas as balas e a pólvora já te desarmaram.

— Wonwoo! me ajuda a fechar os portões. — Ouço a voz de Mingyu que corria em direção a entrada. Corro para alcançá-lo e o ajudar com o mecanismo dos portões, que foi fechado logo depois da carruagem deixar o Castelo.

— Obrigado, eu nunca consigo fechá-los sozinho. — Bato em seu ombro para confortá-lo, ganho apenas um olhar cínico do meu amigo.

— Sem problemas, melhor do que ouvir os outros falando sobre armas e o quanto eles adoram essa adrenalina e blá blá blá. — Ele ri e nega com a cabeça.

— Falando em adrenalina, armas e blá blá blá, estou precisando treinar um pouco, só vejo os noviços treinando, mas eu não faço nada. O que acha de uma batalha bem amigável?

— Não sei, você pode ser muito competitivo quando quer. — Arqueio a sobrancelha e ele ri da minha feição desconfiada.

— Juro que não vou levar tão a sério assim. — ele diz levantando a mão direita e colocando a esquerda sobre o peito.

— Vamos antes que eu desista.

Nós caminhamos até a pequena arena que usamos para treinar, passando pelo corredor que leva aos jardins quando uma escrava passa quase esbarrando em mim.

— Me desculpe. — Ela diz e se curva seguindo seu caminho logo depois sem nem ao menos parar para olhar com quem está falando.

Não foi difícil reconhecê-la, tanto a voz, quanto o cabelo mal preso, até o olhar que não sai da minha cabeça a um tempo. Acho que eu a reconheceria em qualquer lugar. Ela anda mancando, como se sua perna direita estivesse machucada. Deve ter sido punida recentemente pela Imperatriz.

Um sorriso involuntário surgiu quando vi a capa cobrindo suas roupas e por um momento fiquei apenas assistindo ela se afastar.

— Ei! Está me ouvindo? — a mão de Mingyu mexendo freneticamente na frente do meu rosto me acorda do breve devaneio. — Milagres realmente acontecem. Quem diria Jeon Wonwoo encarando uma mulher.

— Pare com isso. — Ele ri enquanto eu o empurro. — Não é o que você está pensando.

Pelo menos eu acho que não.

Ele continua rindo e entra na arena, que por sorte estava vazia, mas ninguém usa ela durante a noite então já esperávamos a companhia do silêncio e das armas solitárias e esquecidas aos cantos do amplo espaço.

— Então me explique. — Ele diz retirando a espada da bainha e o paletó azul do uniforme se posicionando no meio do salão.

— Por que eu deveria? — deixo o paletó em cima da arquibancada e vou ao seu encontro com a espada em punho, desenhando um círculo a nossa volta com a ponta afiada.

— Vai me deixar mesmo a mercê da curiosidade? — ele faz uma expressão triste quando vê que não vou o responder. — Tudo bem então, se eu ganhar você me conta e se você ganhar eu descubro o que você quiser sobre ela.

Tentador... Mingyu é muito bom em descobrir e investigar, mas não acho que minha curiosidade vá tão além.

— Você deu sua palavra que não ia ser competitivo.

— Meus dedos estavam cruzados, não foi uma legítima promessa. — Não podia ver seu rosto inteiro, mas tinha certeza de que havia um sorriso ali.

— Por que eu ainda confio nas suas promessas?

Ele apenas sorri e me espera, mal eu piso no círculo e ele já começa a atacar. Sua espada se cruza com a minha fazendo o som de metal retinir pelos meus ouvidos, não usamos golpes físicos para não sairmos machucados, mesmo assim ainda é quase inevitável.

Ele desvia da minha rasteira e volta a apontar sua espada, antes de eu conseguir me preparar para o próximo ataque ele aproveita a brecha para revidar e no minuto seguinte meu rosto vai de encontro ao chão saindo do círculo desenhado.

Filho da mãe.

— Então... vai falar agora? — ele estende a mão e me ajuda a levantar.

— Sinto em te desapontar, mas não tem muito o que dizer. — Mingyu me encara entediado e se senta ainda me encarando. — Tudo bem... Eu a ajudei com o Mi Kwan, ele estava a agarrando e eu não pude ficar parado sem fazer nada... ela não teve medo de mim, me encarou com a cabeça erguida como se me desafiasse ou fosse me matar se tivesse a chance, não sei explicar, mas tenho certeza que ela esconde alguma coisa.

E isso não sai da minha cabeça a algumas semanas.

Ele começa a rir escandalosamente olhando para o meu rosto como se eu estivesse vestido de palhaço.

— Ela pode até ter segredos, todos temos, mas não acho que seja o único motivo desse seu interesse. — Ele me olha sugestivo, no entanto se desaponta com a confusão estampada no meu rosto. — Isso, meu caro amigo, só tem uma explicação: O puro e genuíno desejo.

Foi minha vez de rir, enquanto ele mantinha uma expressão de tédio, logo sinto meu paletó voar no meu rosto.

— Vai rindo, mas o que eu disse não deixa de ser verdade. A quanto tempo você não se relaciona com alguém? Exato, tem bastante tempo, já estava na hora de alguém quebrar um pouco dessa sua máscara de coração de gelo e soldado perfeito, que convenhamos, você não é. — tudo bem, pelo menos isso faz algum sentido. A lembrança de um antigo amor reabre antigas feridas, mas não me abalo mais. Já faz muito tempo de qualquer forma.

Ela é muito bonita, não há como negar, mas quando penso nela tudo o que vem a cabeça é o quanto eu quero descobrir sobre ela, tenho certeza que ela quer ser livre e isso é o que mais me deixa tentado a saber a verdade, mas no fundo sempre tem aquele pensamento perverso e nada puro que me faz pensar que eu sou um perseguidor pervertido.

Que feio Wonwoo... que feio.

— Senhores, o general está chamando. — Um dos guardas em treinamento chama nossa atenção.

Nós o seguimos até o pátio, que não ficava tão longe. Outros soldados da nossa idade se encontravam reunidos esperando o general se pronunciar.

— Rapazes se preparem! — a voz do homem baixinho e musculoso soa pelo lugar e percebo que ele estava perto das caixas de armas que descarregamos mais cedo. — Porque daqui a algumas semanas teremos trabalho a fazer.

Ao ouvir isso as comemorações começaram e descobri que minhas suposições estavam certas.

Temos uma nova missão.

Behind the Mask  » » Jeon WonwooOnde histórias criam vida. Descubra agora