Cruel World

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Because you're young, you're wild you're free.

   Eu havia compartilhado meu corpo com você. Meu corpo e minha mente, e agora, era como se tudo tivesse se desfeito, um cigarro que se extingue após ser consumido por todo seu fogo e se dissipa em fumaça. Ainda podia sentir o êxtase de sua presença e de todas as nossas fodas. Você dentro de mim, selvagem, indo de forma adoidada e prosseguindo de forma pior ainda, pois éramos jovens, agressivos e livres. Completamente insanos. Você era nocivo, não?
   Lembro de ver você com garotas, tratá-las como vadias. Suas putas, você dizia. Mal sabia eu em que tamanho perigo eu estava adentrando, mas fiz o que fiz. Você era tão popular. Você gostava de festejar e se divertir, com carros e amigos, bebidas e cigarros. Lembro também de vestir vermelho naquela noite. Aquela noite. Quando vi você em uma festa, envolto por fumaça, pessoas e música. Rock pairava dentro do cômodo, fazendo todos transpirarem agitação. Seus olhos violentos cruzaram com os meus e naquele momento soube que transaríamos na mesma noite. Estava no seu olhar, no jeito com que seus olhos pareceram me despir, imaginado seus dedos tatuados em minha camisa vermelha, me jogando sobre a cama de um motel, animalesco, voraz. Louco, sedento por mim, sem resistir a tentação. Nem tudo sucedeu dessa forma, mas, parcialmente, foi nessa direção.
   Recordo de bebermos uísque e de você tentar me ensinar a atirar. Foi uma puta loucura. Cada dia você afundava mais no lago que era meu corpo, deixando as águas escuras turvarem sua mente. Dançamos juntos no meio do nada, iluminados pelos faróis de seus Mustang. Seus passos me rodeando, dançando em círculos ao meu redor. Meu sol você era. Uísque puro nos guiava pela noite, onde, no capô do carro, você me deitou e se deixou perder em todos aqueles prazeres carnais. Eu estava tão feliz. Ainda naquele dia já havíamos transado e usado heroína, mas ali estávamos, no fim daquele eterno dia, mais um de tão poucos, desfrutando do prazer.
   Mais tarde, poucos dias antes de nosso fim, você ainda se encontrava com suas garotas e pela noite ainda afirmava estar louco por mim. Louco pra caralho, você dizia. Estou louco por você, mesmo que tudo seja uma bagunça, você dizia isso mais ainda. Era como se eu o controlasse, eu tinha sua arma e sua Bíblia, seu corpo e sua mente. Você sabia que eu não estava preso a você, eu sempre estive livre. Parecia mais e mais afogado em paixão louca e ardente, momentânea e súbita, pois são assim os jovens, os viventes do agora, o hoje e tudo que nele há. Eu podia visualizar você se indo após tudo que passamos. Fora bom enquanto durara, mas eu sabia que você amava suas mulheres, suas festas e bebidas. Eu estava feliz agora que você ia.
   Você partiu. Você se foi. Assim como eu também fiz o mesmo. Eu deixaria aquela bagunça para trás. Nova Iorque, Costa Leste, você. Nosso término.

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