Ultraviolence

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Give me all of that ultraviolence.

Do que você me chamava mesmo? DN? Isso mesmo, um dos nomes para a beladona. Folha de veneno puro. Tóxico. Nocivo. Era assim que você me via? Cheio de veneno? Mas, ainda sim, agraciado de beleza e fúria juvenil. Você apreciava tanto tudo isso. Lembro de me beijar e acariciar, e, em algumas noite, me agredir com seus punhos cerrados, dos quais eu não fugia, eu apenas me deleitava com o súbito. Uma metáfora bela. Sabia que aquela violência era pura analogia, uma forma de mostrar o quão seu amor me derrubava, difícil de suportar. Você, Jim, me trazia de volta ao mundo, me lembrava da infância, com cada beijo seu, era como se você me elevasse.
Tudo soava como violinos, em uma dança perfeita de passos descompassados. Seguido de sirenes, mostrando o fervor daquilo tudo. Você sempre me dava mais e mais de sua violência. Me chamava de hera venenosa. Mais uma de suas plantas? Eu me desmanchava de tê-lo ao meu lado, como se o torpor de seu ser transmitisse tudo aquilo que fizera comigo. Amar você parecia não ser o suficiente. Você era, de certo, inatingível.
Viajamos para Nova Iorque uma vez, onde zombamos e vimos todos aqueles esnobes, xingando e batendo. Cambaleantes pelas ruas, chapados. Era incrível ver que após o Woodstock ainda estávamos de pé e ativos, buscando mais, caçando ação, adrenalina, mais daquilo que ferisse e destruísse o que nos restava de inocência e juventude. Eu só implorava por mais, mais e mais. Queria voltar para tudo isso que vivemos, quando você era só beijos, bebidas e sexo, pois no momento era difícil amar e lidar com você.
Você mantinha suas palavras seduzentes. Frases melodiosas e atrativas, assim como as de um certo líder de um certo culto. Você era meu líder, e eu um simples cantor de jazz, dominado. Chorei por você. Lutei por você. O único que parecia compreender e lidar comigo, lendo nas entrelinhas de meu ser. Te amei no momento em que o vi, e te amei até o segundo em que você se foi. Continuei desejando sua violência, seu corpo no meu, seu amor, eterno e caloroso. Eu queria tudo de novo: Sua ultraviolência. Era tudo que eu conhecia. Fora tudo que eu vivera.
Você, um tal de Jim Jones, mexeu com minha mente, me seduziu. Como pude deixar? Era loucura, mas sua violência me atingia com tanto amor. Você queria me destruir para me reconstruir. Você era insano. Você era tudo que eu conhecia.

Ultraviolence;Onde histórias criam vida. Descubra agora