Flipside

59 1 0
                                    

Are you gonna hurt me now?
Or are you gonna hurt me later?

Um fio prestes a arrebentar. Um vidro rachado prestes a quebrar. Um prédio prestes a desabar. Um enfermo prestes a descansar. Nosso relacionamento prestes a acabar, a qualquer momento. Frágil, quebradiço, cada passo sendo um possível estopim. Com chegamos nesse ponto? Éramos ótimos no início, tão felizes.
Agora, todos nossos atos pareciam como nossa tábua de salvação. O sexo, o beijo, o bom dia e o boa noite, como se algo pudesse salvar o que já se afundava no final. Transar com você às noites era como uma prova, intenso demais, tenso demais, forte demais, quente demais, brutal demais, amor demais. Fazíamos de tudo para salvar o que existia entre nós, mas não dava mais.
Falávamos em reencontro, quem sabe, um dia tentar de novo, do zero, desde o início, como um casal completamente distinto deste. Podíamos afastar os demônios, esperar tudo se reposicionar. Era uma ilusão. Você seria o mesmo, e eu também. Você, com seu forte senso dramático, e eu com minha prisão no passado. Não daria certo.
Brigávamos tanto nesse fim inevitável. Brigas tolas. Éramos jovens demais? Talvez esse tenha sido o problema. Apressados demais? Também poderia ser. Você me xingou tanto, eu também xinguei você. Era uma enchurrada de ofensas e pequenas agressões, seguidas de sexo selvagem na cozinha, no banheiro, na sala, no quarto, na varanda, em qualquer lugar. Você me jogava contra a parede, tanto nas brigas quanto no sexo, me xingava, em ambos também. Tudo era parecido e eu já não sabia distinguir um do outro. Sua boca agressiva na minha. Suas mãos fortes apertando meu quadril, deixando hematomas. Seu pau me fudendo com força, sem se importar com pequenos protestos de dor ou reclamações. Era tudo uma ruptura. Era brutal, selvagem, tudo que eu já vivera, mas com você parecia pior, parecia o dobro de intensidade.
Eu temia por nós, por minha vida, por minha integridade. Por sua vida e sua sanidade. Era como lutar pelo equilíbrio que talvez nos salvasse. Não, isso não aconteceu. O fio arrebentou. O vidro quebrou. O prédio desabou. O enfermo morreu. Tudo acabou. Você. Eu. "Nós" não existia mais. Mas no último segundo, você ainda murmurava "Ainda podemos no reencontrar. Mais fortes e livres". Não, Barrie, isso não iria acontecer. Eu apenas precisava me afastar, cortar meus laços, ir embora, acabar, finalizar, encerrar o eu, minha essência autodestrutiva precisava extinguir. Eu precisava morrer, para renascer diferente. Me destruir para ser reconstruído. Avançar. Isso era um grande adeus, não para o passado, mas para tudo nele e no presente. Para mim mesmo.

Ultraviolence;Onde histórias criam vida. Descubra agora