SETEALÉM || H.S

6°- CAPÍTULO ✝

Noite passada tentamos explicar tudo para Niall, que se mostrava cada vez mais descrente sobre esse lugar, e as pessoas. Ele não pestanejou ao aceitar se juntar a nós depois de quase ter morrido. Passamos algum tempo conversando até que a mulher que se dizia sua "mãe de Setealém", veio o buscar, de alguma forma, sabendo que ele estava aqui. Tentamos transparecer normalidade para que ninguém desconfiasse do que aconteceu, mas, a verdade é que essas "pessoas" de Setealém não parecem se importar. Angeline sequer questionou o estado em que Eve e eu retornamos, ela simplesmente agiu como se nada tivesse acontecido, ou, talvez, só não ligasse mesmo, aqui não é o mundo real e as coisas não funcionam da mesma forma.

Mais um dia havia se passado nesse lugar e eu ainda não consigo acreditar em tudo que aconteceu e em tudo que teremos que fazer para ir embora. Setealém está fazendo com que o nosso passado retorne e isso não é nada bom. Aquela coisa, Sammy, eu realmente quero entender o que isso é.

– Meninas, já estão prontas? – Angeline abre a porta de "nosso" quarto, me fazendo trocar um olhar significativo com Eve, que acena discretamente.

– Sim. – Eve responde, antes de se levantar da cama em que estava sentada. E, assim como ontem, fomos obrigadas a vestir outro uniforme.

– Angeline por que temos que ir para escola? Já somos maiores de idade. – Pergunto, me levantando também.

– Ora, meu amorzinho, essa escola não tem nada a ver com educação fundamental. Vocês precisam aprender a conviver com gente como nós e, eventualmente, se tornaram um de nós também. Nada melhor do que uma reeducação convivendo com moradores de Setealém.

Ela sorri, mostrando todos o amarelado de seus dentes.

– Agora sem mais perguntas porque precisamos nos apressar. Hoje será um dia diferente. – Angeline aperta os olhos, fitando especificamente a mim, fazendo um mau pressentimento percorrer meu corpo.

Conto mentalmente, tentando me acalmar antes de ir com Angeline e Eve. Nós saímos do quarto e seguidos por um pequeno corredor de madeira - como tudo na casa -, dobramos a esquerda, dando de cara com a familiar sala de estar, e assim como da primeira vez que estive aqui, ela continuava suja e destruída. Mas, nada disso importava, pois, a única coisa que me chamou atenção nesse momento, era a pessoa sentada sobre o sofá velho.

– Bom dia, Mae. – Harry sorri assim que me vê.

Ele estava sentado, com os cotovelos apoiados sobre seus joelhos, enquanto se inclinava para frente, parecendo conversar com Jack, que estava a poucos centímetros dele.

Meus passos cessam no momento que ele fala comigo, me deixando totalmente sem reação. Olho aflita para Eve, que estava tão perdida quanto eu.

– O que ele está fazendo aqui? – Me viro para Angeline, deixando que toda minha aflição se aflore para que ela entenda.

– Harry cuidará de você de agora em diante, meu amorzinho.

– O quê? – Dou um passo para trás, sentindo Eve segurar minha mão, tentando me passar um pouco de calma.

– Isso não é sério, é? Ele tentou machucar ela. – Eve toma a frente, transbordando irritação, enquanto lançava um olhar carregado para Harry, que não se importava.

– Isso é sério, Eve. – Jack responde seriamente, dando alguns tapinhas no ombro de Harry. – Tenho certeza que ele vai cuidar muito bem da Mae.

– Não, por favor não. – Sinto meus olhos arderem, enquanto encaro Angeline.

– Não se preocupe, filha. – Ela segura minha mão, me puxando para longe de Eve. – Você ficará bem. Passar um tempo com Harry só irá te ajudar a se encaixar em Setealém mais rápido. – Ela praticamente me arrasta para perto dele, e mesmo que eu tente relutar, é em vão.