21°- CAPÍTULO ✝

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Seus olhos castanhos-esbranquiçados, não paravam de me julgar; eles não paravam de seguir cada suspiro de dor que eu soltava; eu não posso mais aguentar; eu os odeio.

Eu odeio Sophie.

Essa maldita passou o que eu acho serem horas, me encarando e perguntando qual foi o motivo que me trouxe até esse mundo. Eu não queria lembrar, mas ela me empurrou até à borda e me jogou de volta no passado. Eu odeio tudo sobre o meu passado, eu odeio tudo que eu fiz e odeio as minhas "razões" por ter agido feito uma criatura descontrolada.

Eu odeio aquela noite.

Eu simplesmente não era a mesma, os meus sentimentos eram diferentes, eu não podia me reconhecer. Jamais mataria alguém daquela forma, mas eu não podia controlar, tudo dentro de mim era diferente, mas não posso explicar isso, eu não sei o que houve.

Não me sentia no controle.

– Eu não me importo de continuar aqui. Nós temos tempo. – De volta, encostada sobre o feno alto, Sophie sustenta seu olhar pesado e vibrante em minha direção.

Fico em silêncio, sentindo os meus lábios tremerem e meus olhos se enxerem pelas lágrimas que eu tento segurar. Meu corpo nunca esteve tão fraco, e não havia uma parte sequer dele que não doía.

– Vamos lá, Mae. Sua amiguinha já está dormindo, nós podemos conversar a sós, ela não vai escutar nada do que você me contar. – Sophie cruza os braços sobre seu vestido preto, deixando um pequeno sorriso pintar seus lábios pálidos.

Involuntariamente, viro minha cabeça para o lado, vendo a imagem desacordada de Valerie. Sua cabeça estava pendida para baixo, junto com alguns fios de cabelo que me impossibilitavam de ver seu rosto. Seus braços estavam marcados por cortes fundos e sangrentos e suas pernas ajoelhadas estavam um pouco inclinadas para frente, assim, como, seu tronco.

– Você está com medo? – A nova pergunta de Sophie me faz voltar a encará-la, e em resposta, encolho meu corpo no lugar. – Por que está tão hesitante em me contar a verdade? Está com medo que eu te julgue... ou está com medo de encarar os seus pecados?

Sinto como se suas palavras pudessem me machucar ainda mais.

Eu não posso apagar tudo que fiz. Passei os últimos três anos da minha vida sendo atormentada, me sentindo complemente amedrontada em minha própria pele, sem acreditar que um dia fui capaz de matar alguém daquela maneira tão cruel, e ainda arrastar minha irmã para o meio do meu caus.

– Acho te fazer abrir a boca sobre isso, é tão prazeroso quanto te machucar.

Sem qualquer chance de segurar todas as lágrimas acumuladas nos meus olhos, transbordo todos os meus sentimentos, me sentindo a pior pessoa do mundo, exatamente como foi quando acordei na manhã seguinte daquela maldita noite que eu não posso esquecer.

A porta do galpão faz alguns barulhos, e Sophie se afasta dos fenos. Em seguida, uma pequena fresta de luz entra pela porta, e junto dela, a imagem de Zayn invade a construção alta de madeira. Ele deixa a porta entreaberta, antes de caminhar em direção a Sophie.

– Você é uma completa perturbada. – Zayn diz para Sophie, enquanto encara todo o trabalho que ela fez aqui dentro.

O olhar vibrante no rosto de Zayn desfaz qualquer sinal de incredulidade que suas palavras forçam para tentar passar.

– Não acha que está pegando um pouco pesado demais? Assim você vai matar ela.

– Não vou matá-la antes do previsto. Só estou me divertindo, ainda tenho duas semanas. – Sophie sorri para mim.

SETEALÉM || H.SOnde histórias criam vida. Descubra agora