ÚLTIMO CAPÍTULO ✝

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– Então, você está mesmo indo agora? – Ainda que Valerie tente esconder, eu podia ver em seus olhos uma pitada de tristeza.

– Sim. Você sabe que eu preciso ir. – Levo minha mão esquerda até seu ombro, dando um leve aperto.

– Eu estarei rodando por aí. – Valerie suspira. – Passei tanto tempo presa naquele lugar que agora quero ver tudo que perdi por aqui. – Ela sorri minimamente fechado.

O grande trem atrás de mim, apita, anunciando que logo partiria. Olho para cima, contemplando a bela noite estrelada e fria que se estendia por nossas cabeças.

– E você, Mae, vai mesmo fazer isso?

As palavras de Valerie me fazem olhá-la outra vez.

– Não vou deixar Sammy estragar minha vida justamente agora que eu consegui voltar. Eu vou fazer isso, Valerie. – Respondo, série e convicta.

Valerie suspira profundamente.

– Se alguma coisa acontecer, me ligue e eu vou te encontrar, tudo bem? – Seus olhos preocupados me encaram e eu assinto, tentando tranquilizá-la.

Eu realmente espero que Valerie possa ser um pouco mais feliz, ela não deveria se preocupar comigo. Nós retornamos ao mundo humano e nem ao menos podemos procurar nossos familiares, que pensam que fomos mortas pelo assassino de Hollow Grow, já que era isso que a polícia falava todas às vezes que alguém desaparecia misteriosamente, assim como foi quando perdi meu ex-namorado. A polícia do mundo humano tinha conhecimento de Setealém, mas não podia abrir essa informação ou seria um caos, então, o assassino de Hollow Grow foi criado como álibi. Valerie já sofre por isso, por ter se tornado uma vítima desse "assassino", sem direito a ir atrás de sua família, por isso, ela não deveria se preocupar comigo.

– Nós precisamos ir agora, o trem já vai partir. – A voz grave a rouca, avisa atrás de mim.

Olho por cima dos ombros, encontrando Harry vestindo roupas do meu mundo, todas na cor preta; uma blusa de gola alta, calças jeans e botas da mesma cor. Suas tatuagens estavam cobertas, só os seus piercings eram visíveis. Seus cabelos estavam despenteados como sempre, e sua pele tinha mais cor, talvez, porque tenha vindo para o mundo humano comigo. Seus olhos ganharam um tom único de verde, sem manchas brancas, mesmo que ele sempre fosse um morador de Setealém.

Aceno para ele, que pega da minha mão direita a mala que eu segurava.

– Eu acho que vou indo. – Seguro minhas mãos na frente do vestido de mangas longas, que ia até os meus joelhos, cobrindo todos os meus machucados que ainda precisavam cicatrizar.

Valerie solta outro suspiro e se aproxima de mim, me envolvendo em um abraço. Seu suéter azul era macio contra o meu rosto assim que apoio meu queixo em seu ombro.

– Se cuida. – Ela pede, quando se afasta, mantendo as mãos em meus ombros.

– Você também. – Sorrio para aquela que foi minha amiga nos piores dias da minha vida. – Nós ainda vamos nos encontrar, não é uma despedida.

Seguro na mão do Harry, e sorrio para Vale, que permanece parada nos vendo partir.

Caminho até o trem com Harry, que entrega o meu bilhete ao bilheteiro. Ele nos dá passagem assim que o trem apita de novo, enquanto uma grande quantidade de fumaça saia da máquina, fazendo meu vestido balançar. Juntos, entramos no trem, e Harry me guia pelo carpete vermelho preso no chão; B24, B25, B26, B27, B28 e B29, onde ficaríamos. Mark já nos esperava sentado no assento B24.

– Como se sente? Feliz? – Pergunto para meu pequeno irmão, vestido em um macacão preto e uma blusa de gola na cor branca.

Me sento no assento B25 e Harry do meu lado, no B26.

Mark acena repetidas vezes com a cabeça, voltando sua atenção para a janela do trem, que começava a se movimentar. Para ele tudo no mundo humano era novo e fascinante. Sorrio para o garotinho de costas para mim, e passo a mão por seus cabelos lisos e loiros, que ganharam um tom mais escuro, assim, como, seus olhos e pele. Percebo, ao lado do Mark, um pequeno recorte de jornal, o mesmo que eu havia trazido comigo, mas que meu irmão pediu para ver. Sutilmente, pego o recorte de jornal largado no banco do Mark, e encaro com seriedade a foto estampada nele: Ellinora e seu marido com os três filhos.

Assim que voltei ao mundo humano, segui todas as instruções da minha versão de Setealém, e acabei por chegar no casal e sua fascinante história de superação, pelo menos, era assim que o mundo os conhecia. Mae me contou toda a verdade, cada mínimo detalhe de suas histórias e do que eles eram. Talvez, eu estivesse me envolvendo em um grande problema indo atrás deles, mas, pelo que Mae me contou, eles fazem a limpeza desse nosso mundo, eliminando toda e qualquer tipo de criatura ou pessoa ruim. E, talvez, eles possam me ajudar com Sammy.

E pensar que algum tempo atrás eu estava assistindo a história desses dois. Eles, com certeza, criaram um império, sua história até mesmo foi parar em um cinema, mas de forma mentirosa, é claro. Eles são grandes, são conhecidos, mas escondem toda a verdade e só aqueles que os conhecem como são, são os únicos capazes de irem atrás de seus serviços. Cinco anos no comando do Sanatório Waverly Hills, com certeza, eles estão no topo das criaturas sobrenaturais.

Se há uma chance de sumir com Sammy para sempre, mesmo que eu precise procurar por um anjo caçador e um demônio, eu farei isso. Tenho grandes planos, minha vida com o meu Harry e com Mark não pode ser ameaçada.

– O que foi? Por que está olhando de forma estranha esse jornal? – A voz de Harry me desperta, fazendo o barulho do trem em movimento, vir para primeiro plano.

Seus olhos verdes me observam, e quase sorrio por isso.

– Nada, só estava vendo como o marido da Ellinora se parece com você, não acha? – Inclino minha cabeça para o lado.

Harry me encara com julgamento, e tento não rir. Deixo o recorte de jornal sobre meu colo, e seguro no braço direito do meu namorado.

– Não se preocupe, eu estou bem apenas com você. – Digo, e fecho os olhos, encostando minha cabeça contra seu braço.

Alguns segundos bastam para que eu sinta uma respiração quente contra meu rosto, e logo depois, lábios contra os meus. Abro os olhos, dando de vista com os cabelos de Harry caiando para baixo com a maneira que ele se inclinou para me beijar. Não posso conter meu sorriso, e deixo que meu namorado o vislumbre. E ganho em resposta um lindo sorriso adornando por um provocante piercing no canto da sua boca.

Espio Mark, que ainda mantinha sua atenção na janela do lado de seu assento, atento a todas as paisagens que passavam por nós. Harry coloca seu braço ao redor dos meus ombros, me trazendo para mais perto. E assim, seguiríamos nossa viagem.

Percebo quando uma mulher em um uniforme azul, aparece na entrada do corredor do trem. Ela junta suas mãos cordialmente e sorri antes de falar:

Trem com destino final para Hazelwood.

– Trem com destino final para Hazelwood

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