SETEALÉM || H.S

8°- CAPÍTULO ✝

– H-Harry? – Minha voz sai totalmente falha, me obrigando a virar de frente para sua figura alta de pé atrás de mim.

– Te achei. – Ele diz, totalmente inexpressivo. – O que aconteceu com você? Por que está assim? – Harry coloca as mãos dentro dos bolsos das calças, enquanto encara cada parte machucada do meu corpo.

Penso em dizer o que a maluca da irmã dele fez, mas se tudo que Sophie disse for mesmo verdade, então, não é muito inteligente dizer que tem como ele recuperar a namorada morta se me matar.

Sem uma boa desculpa para dar, escolho pelo silêncio, enquanto seus olhos não desviam de mim.

– Não quer falar? – Ele dá uma curta risada nasalada. – Vamos embora daqui, vem. – Harry faz um gesto de cabeça para que eu o siga e, em seguida, se vira para começar a andar.

Fico de pé, deixando meu casaco molhado na terra.

– Você acha mesmo que eu vou com você? – Pergunto exasperada, o vendo parar de andar. – Para começar, eu nem estaria desse jeito se você não tivesse aparecido hoje de manhã.

Ele mantém suas mãos dentro dos bolsos, virando sua cabeça para me olhar sobre os ombros.

– E você vai ficar sozinha nessa floresta esperando alguma criatura te achar e te comer viva? – Ele sorri de lado, antes de virar sua cabeça para frente e voltar a andar.

Agarro na barra da minha saia, sentindo meu corpo se arrepiar com suas palavras. Olho para os lados, enxergando as árvores e matos de maneira ameaçadora, os barulhos dos insetos se tornam cantigas assustadoras e o céu escuro parece ter ficado mais sombrio do que antes. E não sabendo qual das opções era a pior, acabo por correr até Harry, temendo que sua irmã louca me ache no meio dessa floresta e me arraste de volta para a cabana com aquela criatura assustadora.

Me mantenho a três passos de distância de Harry, e sempre me atento a tudo ao meu redor depois das palavras dele.

Apesar de Setealém parecer muito com Hollow Grow, há muitas coisas nesse mundo que não conheço, e não posso me dar ao luxo de andar por aí como se soubesse de tudo, ou posso acabar morrendo. Já não bastam os moradores desse lugar serem ameaças para os humanos.

– O que vocês estão fazendo aqui?

Salto em meu lugar, olhando assustadamente para o lado, vendo uma velha senhora de estatura baixa e cabelos longes e esbranquiçados. Ela tinha muitas tatuagens por seus braços, que mais pareciam com símbolos de rituais, mas, com certeza, seus olhos castanhos eram os mais marcantes em sua aparência. Apesar de ser uma cor muito comum, eles eram penetrantes, se diferenciando de tudo que vi até agora em Setealém.

– Quem é você? – Harry pergunta, se virando para a senhora e, involuntariamente, caminho para mais perto dele, sentindo uma estanha sensação com a presença da velha senhora.

– Não sou ninguém, só mais uma das muitas almas perdidas desse lugar. – Ela sorri, olhando de Harry para mim.

Um arrepio corre por meu corpo, me fazendo passar as mãos pelos braços.

– Vamos embora, Harry. – Sussurro, querendo sair de perto dessa senhora o mais rápido possível.

– Escute ela, meu jovem. Essa floresta está infestada de coisas ruins até mesmo para moradores de Setealém. – A velha senhora alerta, antes de passar por nós dois e seguir seu caminho por entre as árvores.

Harry fica parado no mesmo lugar, observando a senhora se afastar. Com certeza, eu não fui a única que ficou incomodada com a presença estranha dela.