18°- CAPÍTULO ✝

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Fico mais alguns minutos, parada no meio do jardim aberto, sendo atacada pelo turbilhão de más memórias que voltam para mim. As coisas estão ficando cada vez mais complicadas, e não acho que posso voltar atrás. Na verdade, não tem como voltar. Há quase três anos, estive jogando tudo para debaixo do tapete, e tenho me enganado e fingido que nada aconteceu, mas isso não muda os fatos.

– Mae, você está bem? – O som suave e calmo da voz de Valerie normalmente me assustaria por estar desprevenida, mas, desta vez a olho sobre meus ombros, vendo sua figura alta parada na entrega do jardim, enquanto coloca aqueles olhos castanhos para trabalharem tão bem nas minhas falsas desculpas.

– Não, Valerie. Eu não estou bem. É impossível estar bem nesse lugar. – Dou um giro em meus calcanhares e paro de frente para ela, soltando um longo e pesado suspiro.

– Estive aqui por quatro anos, sei muito bem disso. – Val solta uma risada nasalada. – Mas me diga, – Ela se aproxima em passos curtos e arrastados. – o que te incomodou naquela aula? Eu sei que não queria usar o banheiro. – Seus passos param quando ela fica a passos de onde estou.

Chega a ser ridículo a maneira como Valerie e eu nos envolvemos em coisas ruins que ela é capaz de ver através do meu desespero silencioso, enquanto Eve continua emburrada dentro de uma sala de aula estranha com um lunático no comando.

– Valerie, eu tenho sido atormentada pela alma da Angeline desde que ela morreu. Eu não sei o que é isso, mas só Mark e eu a vemos. Angeline costuma falar coisas estranhas, ou tentar e mostrar coisas ainda mais estranhas, e eu nunca entendo.

– Eu não matei ela e, mesmo assim, sou atormentada. E depois daquele incidente na loja do pai do Zayn, desde daquele dia, me sinto ainda mais estranha, e você viu o que o professor disso.

– Você acha que ter matado aquele cara está te afetando de alguma forma? – Valerie pergunta, com as sobrancelhas arqueadas em surpresa.

Assinto.

– E ainda tem aquela coisa estranha, Sammy. Aquela que já tentou atacar todo mundo. – Mordo o canto de dentro da boca.

– Você sabe alguma coisa sobre Sammy?

– Eu tenho um palpito... – Engulo em seco. – ando pensando que talvez Sammy seja alguém do meu passado... alguém que eu fiz mal. E agora ela está prestes a acertar as coisas entre nós duas. Eu não sei muito sobre isso, só fiz uma suposição depois do que escutei na sala de aula.

– Então, Sammy é mais um que precisamos acrescentar na nossa lista de "tomar cuidado com..."? – Valerie suspira.

– Mas, de alguma forma, eu sinto que você já sabia de tudo isso, não é? – Pergunto de supetão, a fazendo estreitar os olhos. – Você disse que tem estado aqui por quatro anos, acho que já deve saber mais do que nos contou até agora.

Ao contrário do que deveria, Valerie não se mostra surpresa com as minhas palavras, talvez, já estive esperando por esse momento. Eu andei pensando sobre muitas coisas ultimamente. Sei que os moradores de Setealém não falam muito com Valerie, mas se ela tem frequentado essa escola por quatro ano, já deveria saber de tudo que descobri hoje.

– Você está certa, Mae. – Ela solta outro suspiro, apesar de seus olhos manterem a seriedade. – Eu sei sobre as consequências de se matar alguém deste lugar ou sobre o que acontece com as pessoas que morrem antes do previsto.

Ela faz uma pequena pausa, e concentro toda minha atenção nela.

– Vejo por meus olhos um pouco. Eu já te disse antes, eu tinha medo de contar certas coisas e você e sua irmã se desesperarem. Vocês eram minhas únicas esperanças nesse lugar. Se eu contasse que matar alguém de Setealém traria tamanha consequência, talvez, vocês nunca fizessem nada e nossa chance de fugir desse inferno iria embora junto com as minhas palavras.

SETEALÉM || H.SOnde histórias criam vida. Descubra agora