HELENA
Ele me encarava com aqueles olhos intensos e o que me restava era encara-lo de volta. Não conseguia desviar. Sabia que ele era bonito, muito bonito, mas estava focada nos olhos. Aqueles olhos que se aproximavam cada vez mais e sabia que ele ia me tocar, todo o meu corpo ansiava por isso, estava arrepiada e...Uma Sirene. Droga! O bonitão se desfez como mágica, acordei.
Continuei de olhos fechados curtindo mais um pouco aquele meu maravilhoso cobertor fiopudo e fixei uma nota mental sobre trocar aquele bendito toque do despertador do meu celular. Queria saber de quem foi a ideia torta de colocar aquele toque maldito?!? Simples, minha! Queria me chutar, eu juro!
Levanto da cama me arrastando, me sentindo decepcionada, aquele despertador horroroso urrando me acordou justo quando eu ia beijar aquele Deus Grego com D maiúsculo! Balanço a cabeça como que para afastar isso da minha mente. Tenho que parar de me imaginar com homens e focar no meu dia. Mesmo que esses pensamentos lascivos sejam um ótimo passatempo e me proporcionem ótimas noites de sono. Me abano mentalmente e sem querer esboço um sorriso.
De volta a realidade, me lembro que ontem era dia de lavar meu cabelo e não o fiz, então o danado está pedindo socorro. Para piorar, quando durmo costumo rolar na cama igual a uma condenada, ou seja, só jesus na causa! Entro no banho, lavo o cabelo com shampoo, e ao invés de passar a máscara vou direto para o condicionador. Tenho vontade de bater com a cabeça na parede, pois sabia que iria ter que passar o shampoo para abrir a cutícula de novo, estou ficando atrasada, meu jesus cristinho! Aqueles quinze minutos a mais me recuperando do sonho inacabado estavam pesando no relógio. E o cabelo cacheado é difícil de cuidar, já prevejo a opacidade vindo me dar um "olá" bacana durante o dia. E porque digo isso? Simples! É a quarta vez que esqueço daquela porcaria de cronograma capilar.
Termino o banho, já vou me secando e vestindo aquele tubinho preto que como diria minha madastra Cristina, está mais para um cano que transportar o gás para Gasmig Petróleo e Gás. E, como me odeio por lembrar dela, já penso em trocar de roupa, entretanto não é hora para autopiedade, é hora de tomar minha xícara de café e sair. Coloco o pé para fora do meu lar e sei que estou preparada para mais um dia de trabalho.
Atravesso a cidade com o meu carro que já viu dias melhores. É uma D20 preta que comprei em um leilão faz um tempo, e sei que precisa de uma boa pintura e um novo polimento. Além de ter que retirar um amassado que um motoqueiro desatento deixou na traseira. Só que sou apaixonada nesse meu calhambeque, juntei cada centavo trabalhando em baladas e festas para tê-lo. Ao invés de frequentar as festas noturnas como cliente sempre fui a que servia, com isso fui conquistando cada uma das minhas vitórias e não me arrependo de nada. Faculdade, carro, um lugarzinho para morar.Tudo isso me dá um orgulho muito grande. Sei que muitas pessoas me ajudaram também e não fiz nada sozinha, por isso minha palavra de ordem é gratidão para a vida. Vou pensando nisso enquanto estou presa nesse trânsito das sete da manhã e tenho uma rádio que só toca flashbacks como pano de fundo.
Chego a VidalCofee e estaciono. Trabalho nesta empresa tem 2 anos entre estágio e efetivação, todavia não me canso de olhar a fachada e o hall de entrada. Sinto uma paixão totalmente sem limites por cada detalhe. O estacionamento é feito de paralelepípedos e ao redor tudo é gramado e com roseiras, palmeiras e várias plantas que nem imagino os nomes, como também árvores frutíferas que ficam mais afastadas para não danificar os carros quando caem os frutos. As lixeiras, bancos e mesas são todas de madeira e ferro fundido dando um ar bucólico e trazendo a sensação de se estar no interior de uma fazenda, mesmo se estando num centro tão urbano como Maldonor.
Quando entro no prédio com meu salto preto batendo naquele piso de cimento queimado, olho as paredes com seus painéis de madeira, sofás marrons que criam uma sensação de conforto, mesinhas postas com xícaras e bules de café quentinho, pés de café com seus frutos pedendo do teto como um jardim suspenso, e quadros sobre o processo de preparo do café ao longo de todo aquele ambiente gigantesco com aroma de café moído e limão; e sei que estou em um paraíso, sinto que aqui é o meu lugar.
Dou mais alguns passos e já sinto sobre mim os olhos do Senhor Adelo, porteiro há mais de 20 anos na VidalCofee, e preparo o meu sorriso:
_ Seu Adelo, Bom dia! Mas não era para estar de atestado?
Já o olho com expectativa, sei que vai dar uma desculpa bem boba, mas estava ficando velho e a última vez que me disse que tinha um resfriado era uma suspeita de pneumonia._ Não foi nada grave menina. Bom dia!
Mas me olha todo encabulado, e sei que está me enrolando.
_ O seu nada grave geralmente é um ataque cardíaco. Nem vou discutir com Vossa Senhoria, Capitão!
E ouço sua gargalhada gostosa. Aquele homem baixinho deveria ser o avô que todo mundo queria ter. Olhos risonhos, sorriso fácil, e uma força de caráter impressionante. Era bem difícil não se apaixonar. Saio sorrindo e apressada, pois estou atrasada. Mas tenho certeza que tirarei dele o que teve mais tarde.
Subo o elevador me encarando naquele espelho condenador. Sou tão jovem, mas parece que vivi demais, apesar de só os meus olhos condenarem isso. Sempre fui fora dos padrões. Gorda. Gosto de falar gorda, pois as pessoas querem fingir que você não é, falam fofinha, cheinha, gordinha como se realmente eu fosse uma criança de seus cinco anos. Eu sou gorda. Não peso cento e oitenta quilos, não é isso, mas meu maquenim é quarenta e seis e já foi cinquenta e quatro. Sempre fui muito criticada por isso, sempre fui gorda desde que me entendo por gente. E ser fora dos padrões que a sociedade intitulou como normal não é fácil. Para piorar e me tornar uma fortaleza ao mesmo tempo, sou negra. Negra em um país pequeno que teve em sua principal fonte de riquezas o café, a cana de açúcar, o tabaco e a escravidão.
Então vamos lá, negra, gorda, pobre e filha de mãe solteira criada pela avó. Tudo que a sociedade olha com olho tortos. Pronto, era para ser um somatório ruim, mas não foi. Minha avó era maravilhosa. Minha mãe sempre quis o melhor para mim, por isso emigrou para a França e nos deixou. Mamãe trabalhava e mandava dinheiro todo o mês para que eu pudesse estudar e ser alguém melhor. No começo minha avó juntava o dinheiro para que eu pudesse fazer a faculdade, depois deixou que eu mesma administrasse, com isso quando tinha 18 anos comprei o sitio lírios do valle para ela. Não era bem um sítio, era só um terreno com seus trezentos metros quadrados num lugar sem rede de esgosto. Mas minha avó, Dona Nadir, resolveu chamar assim, lírios do valle, e transformou aquele lugar num sonho de felicidade. Isso me realizou.
Eu não deixei de ir para a faculdade, mas fiz isso com o meu trabalho noturno em festas. Não foi fácil, entretanto estamos aqui.
Volto dessas lembranças que passaram tão rápidas pela minha mente, e vejo que ainda faltam quatro andares para chegarmos ao vigésimo sexto andar. Miro novamente no espelho, meus cabelos cacheados ainda molhados formam um alo ao redor do meu rosto, minha maquiagem está impecável, e tirando o meu peso que às vezes me incomoda, me sinto uma mulher confiante. Verifico meu crachá e saio do elevador no vigésimo sexto andar pronta para pegar minha agenda e começar as tarefas programadas para o dia e bato direto em uma rocha. Espalmo minha mão para me equilibrar e sinto um tecido macio. Vou levantando meus olhos e me encontro com um par de olhos na cor mel me encarando de volta ameaçadores, e penso o óbvio, esses olhos nao estão felizes.
Gente!!! Meu nome é Rayssa e sou super nova por aqui! É minha primeira história e gostaria de contar com o apoio de todos, então podem criticar à vontade!!!! Quem achar erros, e o que mais for, me ajuda!!!!!
Beijos e espero que gostem!
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Helena
RandomHelena é uma mulher maravilhosa que ama o que faz. Tem em sua avó sua maior companheira. Seu tamanho 46, seus cabelos cacheados e seu conhecimento de mundo a fizeram uma mulher perspicaz. O problema agora é lidar com seu novo chefe...