Perfume doce

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LEÔNIDAS

Deixei Helena em casa com o coração pesado, ela passou a volta para o sitio inteiramente em silêncio. Daria minha fortuna para saber no que ela estava pensando, e confesso que meu medo era ela se afastar logo hoje que de fato começamos a nos aproximar. Sei que havia forçado um pouco a barra, mas tinha acreditado que ela havia reagido bem àquele contato com a minha família. Agora não sabia bem o que pensar.

Ontem, enquanto eu subia para a minha sala, Amelie entrou no elevador e o perfume extremamente enjoativo dela tomou conta do espaço inteiro. Pensei em descer no andar mais próximo e subir de escada, mas lembrei que a viagem até o vigésimo sexto andar depois daquele dia extenuante seria bem longa, e não estava nos meus planos.

O engraçado é que ela não descia do elevador, passávamos os andares e nada. A essa hora com a empresa totalmente vazia achei isso muito estranho. Porra! Eu nem sabia qual o andar era o dela, pois se eu soubesse apertava logo e me via livre daquela praga. Enfim, cheguei ao vigésimo sexto andar e ela ainda estava no elevador, devia estar querendo passear pela empresa, cada um é estranho a sua maneira e sei lá quais manias essa louca têm. Saio a passos largos e sem me despedir. Aquele perfume estava me sufocando, amanhã se for necessário peço desculpas, ou não.

Pra falar sério, amanhã vou proibir esse tipo de perfume. Já vou chegar para Helena com um memorando, circular, sei lá! Ela vai me achar mais louco, me xingar, mas vai repassar mesmo que pareça ridículo. Aquela mulher me apoia em quase tudo e é a melhor companheira que já tive. Sei lá de onde isso veio de companheira... Mas confesso, eu estou me confessando muito ultimamente, que não tenho refreado nenhum pensamento em relação a Helena. Já me peguei imaginando metendo nela bem na minha mesa, ou presa pelas minhas mãos na parede enquanto eu estou com os dois dedos bem fundo dentro dela. Cara, e isso é o que as crianças podem ouvir! Fico duro. Estou fodido, essa mulher vai me destruir.
Passo a mão na cara, vou até o meu barzinho e pego um vidro de uísque, verto o liquido em um copo, e quando estou pronto para beber sinto a porcaria do perfume da Amélie. Merda, merda, merda! Vou mandar lavar minhas roupas com cloro, aquela catinga que a danada da mulher estava usando era tão forte que deve ter impregnado em mim. Enquanto tiro o terno para me livrar do cheiro, registro o barulho da minha porta se fechando e fico alerta.

_ É um showzinho particular? - fico estático.

Mas que porra de voz irritante é essa? Me viro e dou de cara com Amélie encostada na porta de madeira de lei. Gelo passa a correr por minhas veias.

_ Amélie, em que posso te ajudar? - Vou em direção a minha mesa, preciso impor distância, mesmo ela estando do outro lado da sala.

_ Eu acho que sou eu quem posso ajudá-lo Leônidas.- Declarou e andou até parar em frente a minha mesa. Se tivesse rebolado mais deslocava a coluna! Eu sei o que ela estava oferecendo, mas queria que ela falasse, assim era mais fácil demiti-lá. Não é que eu não quisesse comê-la, descarregar a frustração que a Helena estava me causando seria ótimo, mas o problema que teria por comer esse tipo de mulher não valia o preservativo que eu ia gastar. Além daquele cheiro, alguém tinha que proibir este perfume.

Olhei para ela e arqueei a sobrancelha esperando sua próxima declaração.

_ Você me quer, eu sei. Posso fazer coisas que nem sonha, tenho certeza que você vai me implorar para não sair do seu lado. Vai até dispensar aquele elefante que você chama de secretária para me colocar em seu lugar e me ter a hora que quiser. - E enquanto falava se inclinava sob a minha mesa, forçando o decote e deixando os seios a mostra.

Eu não estava entendendo a quem ela estava chamando de elefante. A única secretária que a presidência tinha era a Helena, a Briane era estagiária ainda... Puta que pariu!

_ A quem você chamou de elefante? - Fiz uma pausa. - Eu estava pensando em outras coisas. - Eu sei que se Helena estivesse ali saberia que era hora de correr, mas aquela piranha mostrou os dentes e gargalhou.

_ Aquela baleia ocupa metade da antessala e você nunca reparou? - Chega! Minha paciência havia se esgotado.

_ Você está falando de uma Analista plena da presidência e meu braço direito. Além dela ser sua superior direta, também é uma das mulheres mais competentes que eu conheço e que não tem a necessidade de vir vender seu corpo ao chefe, pois não conseguiu fazer a merda de um simples escopo de comercial bem sucedido. - Nessa hora alguém bateu na porta e forçou a maçaneta, deveria ser a faxineira. - Quero que você saia da minha empresa, e isso é um convite. Caso não aceite, não medirei esforços para acabar com a sua carreira de todas as formas que eu puder imaginar. - Ela me encarou e com ódio virou as costas, parecia uma víbora.

_ Amélie. - Ela virou esperançosa. -É uma pena que você só seja criativa na cama. Talvez devesse mudar de profissão. - Ela correu em minha direção e tentou me dar um tapa, segurei sua mão.

_ O que ela têm? O que uma gorda pode ter de tão especial? Me diz ? - Ela estava descontrolada.

Eu fui baixo, eu sei. Não deveria tê-la ofendido daquela forma, mas queria fazê-la sofrer por ter falado de Helena.

_ Ela é o que você nunca vai ser, competente. - E naquele momento eu tinha arrumado uma inimiga e sabia.

_ E aquela que transa com o chefe, pelo visto? - Eu sorri.

_ Não, mas bem que poderia, outra coisa que você nunca vai ter. - Soltei o pulso dela e ela foi destrancar a porta para sair.

_ Mais uma coisa.. - Ela se virou na soleira da porta. - Helena é a mulher mais bonita e elegante que eu já vi, e se ela é gorda ou não é isso é indiferente para mim. - só ouvi o estrondo quando a porta da presidência bateu.

Me levantei e fui até a janela, o carro de Helena estava no estacionamento, peguei meu celular para ligar para ela, talvez pudéssemos nos encontrar. Eu não sei bem o que iria falar com ela, mas iria inventar alguma coisa, o que ela quisesse, quem sabe um jantar? Nem reparei no cara que descia do táxi, até ele ir ao carro da Helena e bater na janela, e aí meu coração parou quando a porta foi aberta e ele entrou. Ela namorava e nunca me contou, peguei o copo de uísque e arremessei na porra da porta na qual Amélie havia saído. Ela tinha outro, passei a mão nos cabelos, e eu a queria tanto chegava a doer.

Na noite de ontem, simplesmente, sentei em frente ao meu computador e entrei direto no cadastro da Helena atrás de seus dados pessoais. Iria estragar a noite de romance deles, inventar algum trabalho, qualquer coisa. Era idiota, eu sei, mas precisava sentir que estava lutando. Meu celular bipou e era uma mensagem da minha mãe me convidando para o almoço de domingo, na minha cabeça o plano se formou. Camarada, minha secretária seria convidada de honra para o meu compromisso de amanhã.

E agora, já havia deixado Helena em casa há algumas horas e estava me preparando para dormir em meu quarto. E só uma coisa me incomodava, não saber se hoje eu estava mais próximo ou mais distante do meu objetivo de conquista-la.


HelenaOnde histórias criam vida. Descubra agora