Luca

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HELENA

Não quero levantar, não quero. É só isso que penso, enquanto aquele toque maléfico do despertador soa a todo vapor. Senhor, Sério?!? Eu sou uma escrava e  literalmente só falta um chicote nas minhas costas. Não aguento mais! Dou uma bufada e olho para o teto com cara de choro. Quero minha avó, minha mãe, minha tia, quero a porra da família toda. Estou cansada... cansada é apelido! Estou morta com farofa. Deus é pai de misericórdia!

Jogo as cobertas para o lado e levanto, me olho no espelho e acho que até perdi peso. Aquele Leônidas sem coração está me levando a loucura. Reuniões em cima de reuniões. Contrata tal empresa, cancela tal empresa. Me lembra disso e me lembra daquilo. Vai no Rh, volta do Rh. Vai no financeiro, volta do financeiro. Só jesus na causa! E se bobear, nem ele!

Eu quero um vale sola de sapato, porque nunca andei tanto naquela empresa, juro! Agora não existe um setor que não me conhece. E a verdade, é que não existe um setor que não conhece o Lêonidas também.

Menina, o homem em menos de duas semanas transformou aquele lugar. Ouviu todas as insatisfações, ideias, e solicitações dos funcionários. Com o mapa de clima realocou até a localização dos setores. Os pesquisadores que só ficavam nas fazendas agora tinham uma Central dentro da matriz para que suas necessidades fossem atendidas em tempo hábil. A empresa parecia ter alçado vôo.

E eu estou chocada, tenho que reconhecer também que o comportamento dele mudou totalmente comigo desde aquele dia em que Amelie apresentou o novo comercial. Eu nunca esperei aquela reação dele e pensando bem, achei até que ele ia gostar do projeto daquela imbecil... Mas quando simplesmente ele se levantou, comprimiu os lábios e falou o mais calmo possível, eu me arrepiei toda. Sabia que vinha chumbo grosso e tive pena daquela piriguete de grife. Pego um vestido social vermelho no armário e  um salto alto, suspiro alto e começo a rir. Se falar que não amei a situação eu vou estar mentindo. A cara dela foi impagável! Acho que imaginou que ele daria a ela um prêmio por aquela porcaria e não que iria humilha-la em frente aos principais executivos da compania.

Me arrumo rápido e saio de casa. Segundo o cronograma louco que o meu chefe inventou, hoje seria o dia da reunião geral. Todos os setores da matriz foram convocados, juntamente com os representantes das fazendas de café. E a escrava aqui ficou encubida do almoço para toda essa gente, das planilhas de gastos, e das lembrancinhas. Deus é mais!

Enquanto estou no carro ligo para o Luca, têm um tempinho que não nos falamos, combino de nos encontrarmos na VidalCofee mesmo e dali sairmos para qualquer lugar. É tão bom ouvir a voz dele, ele me acalma. Aquele monte de músculos com um cérebro espetacular é o melhor amigo que alguém pode ter. Se eu contasse a história de como conheci o Luca para alguém, a pessoa não acreditaria.

Há uns 5 anos atrás eu conheci um boyzinho que eu achava ser o grande amor da minha vida. Com dezoito anos qualquer um é o amor da nossa vida, vamos combinar! Nós saíamos juntos há uns quatro meses e ele falava que me amava, que casaríamos.  Até o nome dos nossos quatro filhos ele já tinha escolhido, pelo amor de jeová! Só que  a sonsa aqui acreditava. Que fase! Lembro que ia trabalhar em um casamento de dia, e queria muito sair com "meu amor" a noite, e fiquei triste quando o lindo me disse que não poderia ir, mas entendi.

 Bati no volante. Nossa! Até hoje aquilo estava engasgado.


Voltei para minha lembrança. Eu tinha acabado de preparar a noiva para jogar o buquê, ela iria fazer algo que estava super na moda na época, ao invés de jogar o buquê para a multidão de encalhadas ensandecidas, ia entregar o arranjo para uma amiga e a mesma seria pedida em casamento pelo seu namorado naquele momento. Gente, eu achava aquilo a coisa mais romântica do mundo, até aquele dia. Tudo preparado, a fofa da noivinha estava lá ameaçando jogar o buquê e como combinado foi e entregou para amiga. Juro, nunca tinha visto uma guria tão magra! Parecia um grafite! Acho que se ventasse nem voava, partia no meio mesmo. Só que adivinha quem entrou e se ajoelhou em frente ao grafitinho???? Isso mesmo, queridas! Meu namorado! Meu boyzinho romântico. Filho da puta! Praga! Se fosse hoje, eu humilharia ele com o olhar, mas naquela época fui embora chorando, me sentia tão arrasada. Não tinha como não pensar que ele estava com ela porque ela era magra. Ele assumiu ela para aquela gente toda, casamento, sabe? E eu nem sabia quem era a mãe dele. Doía tanto.

HelenaOnde histórias criam vida. Descubra agora