ANTONELLA
Descer aquelas escadas era algo que eu não queria fazer. Sabia o que me esperava e também não esperava nada diferente do que iria acontecer. Fugi a minha vida toda, até mesmo emocionalmente criei barreiras, mas agora era minha vez de acertar contas com o passado.
Era estranho saber onde ir, para onde correr, saber em quais corredores passar... Pode ser um dejavu, um dom de arquiteta ou apenas, como todos, ter decorado a planta do prédio. Não sei, essa é verdade, só sei que algo me fez descer até os porões... Sinto que se Phillip fosse esconder algo seria num lugar onde a luz não alcança. Todos buscamos o sol, é uma forma de alimento... Tanto espiritual como físico; E Phillip é como um ser maléfico que tenta tirar a luz de qualquer lugar para o mal reinar... inclusive da gente.
Finalmente alcanço o fim das escadas e vejo corpos... Não me espanto, não me emociono. Estou morta por dentro, talvez seja por isso que a morte não me afeta. Aquele sangue, aqueles olhos sem vida não são nada.Ouço a voz do Luca e dentro de mim surge um calor. Algo bom. Ele é meu lado bom e eu sou o seu mal, a sua doença. Eu o amo tanto,mas ele merece um amor puro, limpo e não algo quebrado como o meu.
Sinto o cheiro do incenso e continuo em direção a porta, passo por ela e não absorvo a principio os detalhes da sala e talvez seja a primeira vez que isso aconteça. Tudo é fora de foco e a única coisa que vejo é a mulher das fotos da sala de estar do Luca. A mulher negra. A mulher tão feliz e bonita. A mulher que eu queria ser. Olho para ela e vejo algo que me dói, vejo a certeza que ela é tudo que eu desejei para o Luca antes de entrar nessa sala ou pelo menos tudo que eu gostaria de ser. Mesmo suja e descabelada ela é forte. Os olhos são ameaçadores ainda que com uma arma na cabeça. Ela é altiva, mesmo machucada. Linda. Estranhamente linda. Só alguém doente como eu consegue ver beleza neste momento.
Olho para o Luca, aonde estou é um ponto cego e ele ainda não me viu, ele tenta convencer Phillip de algo parecido com entregar Helena. Tenho vontade de rir, aquele enviado do demônio só quer duas coisas, a Vidal e eu. Nada do que meu anjo falar irá mudar isso. Nada.Saio em direção ao ambiente mais iluminado para que todos me vejam.
_ Olá. - Minha voz saiu alta e tranquila.
Eu era a única pessoa tranquila ali. As mulheres no canto me olhavam assustadas, temiam por mim. Pobre delas.
_ Antonella, pelo amor de Deus!!!! O que faz aqui?!? Você é louca.- Luca gritou desesperado indo em direção a mim e parou.
_ Nella... - sussurrou o meu anjo. - Abaixa a arma.
Eu apontava a arma para ele e olhava com meu olhar vazio, não havia exitação em mim.
_ Antonella, puta que pariu! Que porra! O que está acontecendo? - A veia do pescoço do Leônidas saltava enquanto ele estava ao lado de Luca. - Caralho! Solta essa arma e se esconde!
_ Foi a primeira vez que você xingou perto de mim. - Disse inclinando o pescoço e olhando para Leônidas.
_ Minha irmã, não é hora para isso!!! Vai e te dou cobertura! Mas vai! - Ele foi vindo em minha direção.
_ Se afasta dele! Ele é meu! Para se não eu mato essa escrava vagabunda!!! - Phillip parecia que havia esquecido da sua Guerra Fria com o Haizeng e gritava por mim.
_ Você não vai encostar em ninguém, seu desgraçado!!! - Leônidas se moveu em direção a Phillip.
_ Experimenta... - Dizendo isso com a voz esganiçada ele olhou em direção a Leônidas e passou a língua no pescoço de Helena de um jeito nojento, babando-a.
Andei em direção Phillip e ouvi ao longe os gritos de Luca e Leônidas. Minha mente estava absorta, mas os dois não podiam se aproximar, então me virei e fiz o uso das minhas aulas de tiro.
Atirei, ouvi o baque, o barulho de correntes e aquela tinta vermelha embebedar o tapete. Não senti remorso por aquela mulher morta no canto da sala, talvez aquela alma estivesse tão quebrada quanto a minha, salvei o mundo de mais alguém como eu.
Leônidas ficou petrificado, já Luca correu em direção a mulher achando que poderia salvá-la. De um tiro no meio testa? Seria difícil.Em um instante todos me encaravam e Phillip sorria.
_ Leôn, fique onde está e você também. -Luca me olhou. - Há mais uma para eu matar caso se aproximem.
Andei em direção a Phillip e troquei o olhar vazio por um olhar que dizia mil coisas ao encarar Haizeng.
Ele sabia que eu não podia continuar com Luca, a destruição causada por Phillip foi tamanha que não me recuperei. Tem almas que se regeneram. Tem almas que continuam apesar dos pesares. Tem almas que não. E é só. Não tem cobrança. Não tem nada. E eu preciso acabar com a dor. Acabar com o mal. É para isso que me preparei.
_ Você voltou, Pablo. - Ele tinha o sorriso podre.
_ Não, você só quer ela. - Voltei para o meu olhar vazio e agora tinha uma voz monótona._ Não!!! Essa escrava não é você. - Ele pareceu se sentir culpado e nervoso.
_ Prove. - Minha voz sem emoção fez o estrago que eu esperava.
_ Quer que eu a mate? - Sua ansiedade era medonha.
_ Quero que fique comigo. - Meu rosto não transpareceu nada.- Solte-a.
Ouvi gritos, ouvi barulho, provavelmente Haizeng os impediu de chegarem perto.
_ Não posso.- Philip falou receoso, suava.
Helena me olhou. E foi o meu olhar que a calou, minha alma estava nele. Precisava que ela visse, que ela me visse. Enquanto Phillip debatia consigo mesmo, eu lhe mostrei minha alma quebrada, sei que ela não entendeu o porquê daquilo e nem aceitou,mas eu vi nela o amor dos homens da minha vida. E , em parte por eles naquele minuto não cabia ela julgar o que para ela era um sacrifício e o que para mim seria minha redenção.
_ Você não me quer. - Soltei minha cartada final e dei um passo atrás. Phillip me olhou com desespero.
_ Eu aceito. - me transformei em uma casca vazia e andei em direção a ele.
Helena foi arremessada em direção aos homens da minha vida e de relance roçou os dedos na minha mão. Seu toque era a coisa mais doce que eu teria na vida e também uma promessa.
As mãos nojentas me abraçaram e me prenderam. Fiz o que precisava fazer. Apontei minha arma para o meu peito, sabia que o tiro daquela arma conseguia atravessar corpos. Apertei o gatilho. Morríamos ali os dois. E a meu último pensamento é que Luca me perdoasse.
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Helena
РазноеHelena é uma mulher maravilhosa que ama o que faz. Tem em sua avó sua maior companheira. Seu tamanho 46, seus cabelos cacheados e seu conhecimento de mundo a fizeram uma mulher perspicaz. O problema agora é lidar com seu novo chefe...