Bailarina

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ANTONELLA


Assim que voltei da casa de Luca, marquei um encontro com Genevive Larvet ,uma psicologa conceituada na cidade . Pela primeira vez na vida quis conversar com um profissional. A verdade em que todas as vezes que minha tia me levou em algum tratamento eu nunca me abri, nunca disse nada. E agora eu sentia a necessidade de ajuda. Acho que é por culpa do Luca. O que ele me disse , sua bondade e algo mais, devo dizer, aqueceu algo dentro de mim. 

Eu estava ansiosa, nervosa... Me sentia estranha. Luca estragou tudo, tudo mesmo. Como um homem podia ser tão bom? Como um homem como ele podia me amar? Sei que pareço confusa e estranha, mas só Genevive poderia me entender. Entender meu ódio, minha vontade de destruir.


Eu odeio minha família. Odeio. Odeio Marize. Odeio Leônidas. Odeio Luca.  Odeio Marjorie. Odeio todos eles!!! Arremesso minha bailarina de aço na parede, e ela é tão forte que não se espatifa, queria ser como ela. Queria tanto ser como aço, ser igual ao homem de lata de Oz que não possuía sentimentos. Mas não sou, sou fraca, sou humana, sou ridícula. Escorrego na parede e bato em minha cabeça. Quero tirar tudo do meu coração, quero ser livre!

 Quando eu era pequena, eu acreditava em fadas, nas estrelas cadentes e eu me lembro de sempre fazer pedidos. Pedia para minha mãe me amar, pedia para a Marjorie parar de ter vergonha de mim na escola e me dizer que não era seu irmão, que era estranho. Suspiro e solto o ar tão forte que é bem audível. Mas depois de um tempo parei de pensar como criança, e parei de acreditar. Parei de acreditar em fadas, em estrelas que realizavam desejos e no amor. 

Olho para o teto e a sensação é tão ruim  como se estivesse acontecendo agora... O Philipe, meu tio, entra pela porta do meu quarto e me vê vestido com as roupas de Marjorie, eu tinha só quatorze anos, ele me perguntou se eu queria ser mulherzinha. Eu não respondi nada, sabia que era errado me vestir com as roupas de Marjorie. Então ele me olhou, veio em direção a mim e rasgou o vestido que estava no meu corpo e me jogou na cama. Eu era tão pequeno e ele tão grande. Eu gritei e gritei até minha garganta estar tão seca que não saia um fiapo de voz, e aquele homem em cima de mim perguntando se eu estava gostando. Ele me destruiu. Meu anus sangrava. E quando terminou, eu estava sujo, com seu gozo e fezes espalhadas pelo corpo, e uma dor que me tomava todo , desmaiei. Perdi a fome e a vontade de viver, ninguém notou.

Ele fez isso comigo por mais três meses, e um dia minha mãe descobriu. Eu juro que achei que eu estava salvo, que tudo ia acabar, mas ela me jogou para fora de casa. Me escorraçou como um cachorro e me espancou.  E nesse dia prometi acabar com todos.  

Tia Marize me acolheu, mas eu sei que foi por piedade e não por amor. Para mostrar a todos o quanto era boa, o quanto era melhor que Eveline. Que podia acolher o sem teto do sobrinho. Rio um sorriso de escarnio. Reconheço que ela lutou por mim, que enfrentou o mundo, que acariciou-me e secou lágrimas. Mas eu não aceito que ela tenha me amado. Duvido que ela poderia amar um ser doente como eu. Eu a odeio por tentar fingir amor! Eu a odeio, mais que odeio minha própria mãe. Pois pelo menos minha mãe nunca fingiu algo que não sentia.

Já Leônidas... Leônidas é um caso a parte. Ele igual ao pai. Completamente igual a Philip fisicamente. Toda vez que o vejo lembro do que Philip fez comigo.  Ele me trata com tanta doçura, como se eu fosse algo delicado, meigo. Se esforça para me agradar, para ser o irmão perfeito. Me olha com amor, mas sei que ele não é capaz de amar. Ele vai pagar por  minha dor. Preciso destruí-lo para acabar com minha dor. Bato de novo com as mão na cabeça.  Só assim terei paz.

Fui eu quem financiei Varsales. O Desgraçado sumiu, há boatos que se aposentou.  Aquele merda! Eu não queria o dinheiro da empresa, deixei-o com tudo. Mas queria dilapidar a herança de Leônidas, o sonho vovozinho dele. E olha como sou uma incapaz? A empresa vai de vento em poupa.
E aquele idiota  me apoia! Ele me apoia em tudo que eu faço! E logo eu que o odeio, eu que sou o pecado. 

Ás vezes me pego achando que eu estou louca, que a verdade é que eles me amam de verdade. Que eu tenho uma família e que Deus me deu uma segunda chance. E agora o Lucas? Ele quer me amar. Eu coloquei na minha cabeça que ele só me queria como um fetiche barato, mas não! Ele quer mão dadas. Ele quer me apresentar para o pai no domingo... Suspiro. Não sei o que pensar. Não sei como encarar minha vida. Será que sou amada? Será que tudo o que eu estou fazendo movida por um ódio incomum não está direcionado as pessoas erradas?

Preciso pensar. E se for? Se eles realmente me amarem. O que fiz não tem perdão. Tia Marize nunca confiaria em mim novamente, e Leônidas... Não quero nem pensar.

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HELENA



Faz uma semana que nos beijamos e eu tenho fugido de Leônidas como diabo foge da cruz. Jesus  misericordioso de graça e alento, O QUE FOI AQUELE BEIJO????? Eu me entreguei de corpo e alma e umas  "cositas mas", se é que me entendem! Gente, se aquele droga de celular não tivesse tocado bem enquanto ele subia a mão por dentro da minha saia e chegava ao centro da minha feminilidade, eu nem sei o que teria acontecido. A quem eu quero enganar? Sei sim! E eu não estaria preparada. Minha primeira vez teria sido no arquivo da Vidal numa poltrona de couro que só cabia uma pessoa. Genteeee! Deus que me dibre! Começo a gargalhar sozinha no meio da lanchonete da empresa e as pessoas me olham curiosas. A vergonha bate e me contenho. Está vendo, Santa Cher?!? Até longe, esse homem destrói o meu psicológico!

Subo direto para a presidência, sei que Leônidas está em  uma reunião e isso me deixa tranquila. Tenho marcado reuniões e compromissos para ele sempre fora da empresa,  a expansão da VidalCofee tem sido meu super escudo. E quando a expansão não segura o Leônidas, arrumo compromissos para mim. Sei que tenho sido ardilosa e Deus que me perdoe, mas não quero encarar as consequências daquele beijo. Tenho medo dele falar que é um erro. Essa é a verdade que não gosto de admitir. Saio do elevador e olho para minha mesa, e entro em choque.

_ Helena. - Gente, essa porcaria de reunião já terminou?

_ Senhor Vidal. - Sorrio.

_ Gostaria de saber porque marcou uma reunião para mim, e disse que era indispensável a minha presença, sendo que a reunião poderia ser levada sem problemas pelo chefe da segurança júnior?

_Meu Deus! Acreditei que a segurança da empresa fosse importante, senhor. - Cínica.

_ Eu não preciso participar das reuniões que falam sobre os relatórios da rondas da madrugada, ou dos jardins,  Helena!

_ Gente! Achei que precisasse. - Olho para o além, e mordo os lábios para não rir.

_Porquê, Helena? Tem por acaso um samurai dançando machichê na ronda da madrugada? O Jack Chan veio passear na Vidal? O Batman está caçando o coringa na Vidal? - Ele foi chegando perto e me encurralou na parede. - Você estava só de calcinha de renda preta andando pela Vidal, Helena? Se a resposta é não, então não me interessa o que se passa na ronda da madrugada dentro desta empresa.  A não ser que haja um crime.

Engoli em seco e cruzei os braços.  Ele chegou mais perto e eu senti aquele halito de hortelã e café.

_Helena, eu te dei uma semana. Contei os sete dias no dedo. - agora ele sussurrava.- Mas acabou. Acabou essa sua fuga, essas reuniões idiotas. Você vai ser minha, Helena. E agora eu sei que você também me quer.- Falou isso olhando dentro dos meus olhos.

Estava sem ar e com a calcinha molhada, quase rocei as minhas pernas uma na outra, mas me controlei.

_Vou viajar essa semana, e você irá me acompanhar. Vou te dar meu cartão crédito pessoal, você vai precisar de um vestido de gala. Bom dia!

E assim ele virou as costas e foi embora assoviando uma música qualquer. Filho de uma boa mãe! Me apoiei na parede, estava com as pernas bambas. 

Jesus Cristinho,  eu devo estar louca ou ele falou em viajar? Falou! Alguém me salva, ou eu juro que vou bancar a Britney careca! Esse homem está me deixando doida!





HelenaOnde histórias criam vida. Descubra agora