Celeiro

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LEÔNIDAS

Entro no nosso apartamento e encaro a sala de estar vazia, está tudo vazio e ainda esperando ela voltar. O desespero toma conta de mim descontroladamente e às lágrimas escorrem e eu nem tento limpar, são quatro meses sem notícias.Foram cinco invasões! Cinco I.N.V.A.S.O.E.S. minha mente grita, para nada.

Deixo um pouco do desespero, para nada é mentira. A cada incursão resgatamos mulheres vítimas de tráfico humano, muitas viraram testumunhas e o caso ia ganhando corpo perante as agências de inteligência, mas não havia notícias de Helena. Philip sempre estava um passo a frente, se achávamos um possível esconderijo ele levava Helena a outro num jogo de gato e rato terrível. Só não perdíamos as esperanças, pois as vítimas a citavam em seus depoimentos. Descreviam Helena e que ela sempre estava algemada e mantida com medicamentos. Na primeira missão uma das mulheres disse drogada com drogas ilícitas e eu quase morri, mas quando mais informações obtemos foi se confirmando que eram sedativos.  O que me deixou mais aliviado em relação a isso.

A verdade é que meu desespero crescia a cada dia, porque eu sabia que tudo era culpa minha. Tudo. Era o meu pai que estava fazendo isso.Quis quebrar o abajur, mas Helena iria me matar quando voltasse, sorri diante deste pensamento.

Olhei para a janela com a cortina aberta me mostrando o verão austríaco, como se aquele final de tarde perfeito debochasse de mim, me perco em lembranças daquele dia horrendo que a perdi.

Cheguei no prédio do meu escritório em Graz com uma sensação ruim, mas não queria me dar ao trabalho de pensar muito no assunto, hoje meu dia seria cheio.Passei pelas mesas dos funcionários e me tranquei em minha sala,  meu escritório estava silencioso e e todos lá fora estavam super concentrados no seu trabalho.

Ter montado um lugar para concentrar junto a mim as principais mentes pensantes da Vidal havia me dado tranquilidade para estar perto de Helena.  Helena. Sorrio de lado. O nome dela tem um gosto bom na minha boca, mesmo que ela esteja bravinha comigo. Gargalho sozinho e chamo atenção das pessoas que olham para a minha porta de vidro. Eu nem sei o que eu fiz dessa vez, mas desde que moramos juntos eu sempre estou errado. Aquelas pessoas falando " Sim, senhor Vidal" mal sabem que eu falo "Sim, Helena " em casa e não tenho vergonha. Há que ponto um homem chega?!? Paro de rir de mim mesmo e vou para a minha mesa, desligo o celular e me concentro no trabalho.

Meia hora depois, estava analisando no computador  um relatório sobre a crise no setor cafeiero devido a entresafra. Um barulho irritante saia da segunda gaveta na mesa, a abri e um número desconhecido chamava repetidamente no meu celular empresarial,  Merda! Descartei a chamada pela quarta vez, não tinha tempo para atender agora. Cocei os olhos e voltei ao notebook, uma reunião me aguardava em poucas horas, aproveitei e desliguei o celular, focando em meu trabalho. Alguns minutos depois o telefone da minha mesa tocou, merda! Quem foi o idiota que repassou a ligação?

_ Vidal. - Falei seco.

_ Aqui é Haizeng Vanzing, compareça a minha casa, você tem 5 min .- Seu tom de voz não deixava espaço para questionamentos.

_ Tio Haize... - Ele não me ouviu, já havia encerrado a ligação.

Meu coração doeu, eu e Haizeng só tínhamos uma pessoa em comum, Helena. Sai do escritório desesperado, a reunião podia esperar.

Entrei na padaria achando que Helena tinha se cansado de mim e partido. O celular dela só dava desligado, se fosse isso e seja lá o porquê que ela estivesse me condenando Tio Haizeng deveria me explicar.

Apertei a campanhia e esperei Haizeng aparecer. Me assustei quando ele surgiu atrás de mim silenciosamente, foi intimidante. E, olhando em seus olhos,  uma coisa me chamou atenção, algo nele havia mudado,  não parecia mais um velho bonachão risonho, as costas estavam mais eretas, tinha uma postura de comando e olhar lembrava um falcão.

HelenaOnde histórias criam vida. Descubra agora