Helena

Reunião

HELENA

Cheguei na padaria da Tio Haizeng e me joguei na sua bancada. Estava cansada, fiz um coque no meu cabelo e apertei a pequena campainha no balcão. Ele veio andando como se tivesse todo tempo do mundo e se apoiou no balcão para me encarar nos olhos.

_ Menina?!? Não devia estar no trabalho? - Nas suas palavras tinham um sorriso.

_ Hoje foi uma reunião Haizeng. - Expliquei - Tenho que reescrever meu projeto. - Joguei meu projeto cheio de postits amarelos na sua frente e abri o notebook para começar as alterações.

_ Em casa está tão difícil assim? - Haizeng pôs um café na minha frente.

_ Ele parece uma dona de casa Haizeng, briga por causa de um copo na pia!- Desabafei.

Haizeng riu alto.

_ Menina, casamento é assim mesmo. A convivência é um negócio de outro mundo! Por isso dizemos que o casamento é comer um quilo de sal com a pessoa. - disse piscando um olho para mim.

_  Ahhhh! Mas essa comida está muito salgada.- Ri.

_ Mas é assim, menina! O quilo de sal é comido ao longo dos anos ... Tem dia que vai estar salgado, tem dia que vai estar sem sal e tem dia que vai estar no ponto. É a vida.- E sorriu pondo um pano de prato no ombro e cruzando os braços.

_ Haizeng, nós nem casamos. - falei exasperada.

_ Tenho certeza que ele vai resolver isso.- E saiu para esquentar o leite.

Gente, mas que traíra, ele é meu amigo, afinal!

Em falar em amigo senti um aperto no peito, fazia um tempo que eu não via  Luca. Ahhh! Que falta aquele urso me fazia. Queria estar enfiada nos braços dele agora confessando o quando estava com medo de tudo dar errado com Leônidas, o quanto era estranho me sentir distante da minha mãe, o quando minha avó me fazia falta. 

Affff! Era tanta coisa. E o principal, queria saber dele, daquele menino que era meu melhor lado.

Agendei meu despertador para me avisar quando fosse dia no outro lado do mundo. Estava resoluta em ligar para o Luca. Iria matar a saudade do meu urso pardo dali a algumas horas ou eu não me chamava Helena!

Depois da decisão tomada, foquei no trabalho. O pesquisador chefe fez tantas modificações no relatório que apresentei que meu sonho de consumo   era fritar  aquele homem em  óleo de quente, filho da puta!  Se bem que ele era gostoso, só um soco bem dado na cara dele estava valendo, não vamos desperdiçar! Estou comprometida, não cega,  mundão!

Começo a gargalhar sozinha, se o Leônidas ouvisse esses pensamentos estrebuchava no chão.

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LUCA

A aeromoça veio em minha direção e me informou que ainda faltavam doze horas de voo, apenas assenti. Meu pai ficaria orgulhoso de me olhar agora, assumi a postura de homem de negócios que ele sempre desejou que eu fosse, mesmo que nunca me pressionasse efetivamente para isso. Estava mais sério, mais rígido, passei a usar ternos. Rio mentalmente e me olho no reflexo da mesa de madeira,   aquele terno se encaixava em mim como as minhas bermudas e regatas, confortavelmente. Confesso que para proteger Antonella assumi todos os ônus de ser um empresário bem sucedido, herdeiro da Lemos Construtora, agora eu era um oponente de peso para qualquer pessoa. Um predador. Forte o suficiente para destruir qualquer um que se pusesse no meu caminho. 

Nunca pensei que em dois meses  as coisas girassem 180° graus. Passo a mão nos cabelos que agora estão curtos e sem as ondas que a Helena tanto invejava. O que ela pensaria se me visse agora?  Nessas roupas? Desse jeito? Se eu soubesse que  sua partida  faria tanto estrago, teria ter buscado ela na Áustria a força, mesmo sabendo que levaria um chute no saco por causa disso.