A viagem

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Acordo e vejo que a primeira classe está toda escura, uma ou duas poltronas estão iluminadas com as pessoas que assistem filmes, mas é só. Tento me mexer e percebo que tem um peso no meu ombro, dou uma olhada, meu queixo vai de encontro a uma massa de cabelos castanhos com um cheiro bem cítrico, Leônidas. Meu chefe está jogado para cima de mim, sua mão descansa no meu colo, e ressona como um bebê. Tenho vontade de cobrir ele de beijos e fazer carinho, mas me chuto mentalmente e uma voz ameaçadora começa a falar dentro da minha cabeça:

"Toma vergonha na cara, mulher! Este homem te colocou neste avião praticamente a força, tu comprou sua passagem na classe econômica e ele simplesmente rasgou na tua cara, ele perguntou se você tinha trago poucas coisas pelo medo do excesso de bagagem ou se que para quando voltasse pudesse trazer quinquilharias para a família toda. Enfim, pintou e bordou com a vossa fuça, se você quiser beija-lo eu, sua consciência, lhe desço a mão na cara."

Contra fatos não há argumentos, obedeci minha consciência e dei uma ombrada no rosto de Leônidas.

_Hummm. Helena! Você está louca? - Ele me olhava assustado, passando a mão no rosto.
_Foi sem querer. - fui sonsa, eu sei!

_Sei! - Ele desistiu de falar qualquer coisa que fosse e chamou a aeromoça, pediu alguma coisa para comermos ( sem me consultar) e me deixou em paz. Pensei em brigar, mas agradeci a paz momentânea à todos os meus anjos e santos.

O restante da viagem transcorreu bem, eu não matei o meu chefe, nem ele deu chiliques.


É estranho e alucinante ao mesmo tempo, é a minha primeira vez fora do País. O avião me deu medo, eu nunca voei, mas foi maravilhoso. Olhar para fora e estar entre as nuvens é algo indescritível. E eu posso querer dar uns sopapos em Leônidas, mas eu tenho que reconhecer que ele tagarelou o tempo todo e quando vi já tínhamos levantado voo, e eu nem senti o nervosismo da decolagem, desconfio que foi de proposito.

Agora que já estamos chegando no hotel, sei que realmente começou nossa viagem e eu juro que nunca pensei em conhecer a Itália, Leônidas pode ser um babaca cretino, mas está me proporcionando a realização de uma vida.

Entrar neste hotel me deixou no chão. Estou impactada. A entrada parece feita de ouro, as luzes iluminam o ambiente, há arranjos de flores por todos os lados e sofás magníficos. Pessoas elegantes andam pelo ambiente, e camareiros empurram carrinhos dourados cheios de malas. Num canto, próximo a área de sofás a um saxofonista solitário dando som a aquele ambiente calmo e que transborda riqueza. Se o Leônidas for descontar essa porcaria de hospedagem do meu salário vou trabalhar de graça o resto da vida!!!!

Meu chefe vai direto a recepção e fala tranquilamente em italiano. A loira elegante o olha com extremo interesse, e responde naquela língua melodiosa que é meu sonho aprender. Que ódio! Ela anotou a desgraça do número e colocou junto aos cartões chaves, quando já penso em virar as costas e sumir, Leônidas simplesmente devolve o telefone que ela anotou sem ao menos fazer esforço de ler o número. Vira, coloca a mão nas minhas costas e me conduz ao elevador. E eu juro que ainda estou tentando processar toda essa situação, mas se eu adorei? Eu adorei!

Chegamos em nosso andar, eu já estou de saco cheio desse silêncio. Desde que estramos na porcaria desse hotel ele não falou nada comigo! Será que ele está com vergonha de mim? Então porque dispensou a piranha loira?

_Leônidas, poderia falar onde vou ficar? Não tenho condições de ficar neste hotel. - A euforia estava passando e ás duvidas estavam surgindo.

Ele não disse nada continuou me empurrando, usou o cartão magnético e abriu a porta do quarto. PUTA QUE PARIU! Gente me belisca,aproveita e me levanta do chão por que eu estou desmaiada!!! Senhor, é dinheiro que fala, não é? Porque que eu nasci pobre? Me responde que eu não estou compreendendo!

HelenaOnde histórias criam vida. Descubra agora