HELENA
Estava andando pelas ruas de volta para casa. Vestia umas 5 toneladas de roupa, então ainda não sentia o frio de gelar os ossos que dominava Graz neste inverno rigoroso. Gente, pensa num lugar frio da porra, então.... Ás vezes me pergunto se eu vim para o Ártico e não estou sabendo?!? Três graus negativos, sensação térmica de sambando no polo sul com um pinguim e um urso polar bem peladinha da silva, meus queridos!E do nada vem aquele ventinho geladinho que entra pelas frestinhas das roupas da gente que arrepia até a alma. Senhor, desisto de ir direto para casa e vou entrando na padaria de Tio Haizeng para me aquecer. Sim, eu tenho café em casa, leite também... Mas me falta companhia. Não quero aquecer só frio do corpo, é o frio da alma. Piegas, bem brega, mas verdadeiro.
Haizeng está todo animado e ouço suas risadas enquanto abro a porta, é como estar no polo Norte e encontrar a casa do papai Noel. Pães, chaleiras, um cheiro de café fresco e biscoitos, além da decoração que parece de décadas atrás e permanece intacta, a palavra que define é acolhedor. Cá para nós, Tio Haizeng é um papai noel de boina disfarçado. Ele é fofo demais, minha gente!
Quando passo pela porta o sino que fica acima da entrada soa, Haizeng sorri, diz alguma coisa e aponta para mim, então tudo fica em câmera lenta. Sinto um arrepio, o homem sentado na banqueta e que parece tão familiar se vira sorrindo, seus olhos se fixam nos meus, neste momento fico sem reação. Leônidas. Puta que pariu! A Santa das Cornas me abandonou neste momento! Meu raciocínio me abandonou, minha fala... Preciso sair daqui. Preciso fugir. Minha respiração falha, vem tudo de novo... O sofrimento, a morena (e ele sendo feliz com ela), o beijo dos dois, ela me dizendo que ele é seu noivo; giro nos calcanhares e corro rua abaixo, quero esquecer tudo. Quero esquecê-lo!
Corro sem rumo, minhas botas afundam em meio a neve, minha vista está turva pelo choro e meu peito dói. Já passei por várias ruas, árvores congeladas me cercam, as casas ficaram para trás e sei que estou longe, todavia não consigo parar. Me vejo em meio a ponte que leva a cidade e acabo pisando em falso no gelo, só sinto o baque surdo no chão, a dor e minhas roupas molhadas, vou escorregando para lateral e não consigo segurar em nada, sei que vou cair no rio congelado e essa queda de 24 metros não será nem um pouco divertida.
Sinto um puxão e sou levantada! Glória, Jesus Cristinho! Te devo uma, Santa das cornas! Me preparo para agradecer ao meu salvador, por que só um brutamontes para me içar daquele jeito como se eu não pesasse nada.
_ Não se mexe! - Leônidas. - Sente dor, está bem? - passou a mão pelo meu rosto, olhou minhas pupilas. -Meu carro está muito distante, vou ligar para o motorista. Calma, vai ficar tudo bem.
Meu coração parou de bater, ele estava ali e o seu cheiro inebriante de café e limão, fecho os olhos e aspiro, como eu rezei por isso... Ele tentava me acalmar no meio daquela ponte mal iluminada e eu queria agradecer, abraça-lo, cheira-lo, mas também queria que ele sentisse metade do sofrimento que senti e a solidão. Estava tudo misturado aqui dentro, tudo revirado, nem o Papa me entenderia neste momento!
_ O que faz aqui? Volta para sua noiva! - Falei como uma criança de cinco anos, tentando me desvencilhar de suas mãos, ele simplesmente apertou mais forte, bufei.
Leônidas pegou o celular e chamou o motorista. Em meio a protestos meus e sem me soltar, retirou o sobretudo colocando-o sobre mim, e em todo o restante? Fui ignorada. O motorista chegou e ele me arrastou até o carro, sua postura me dizia que não valia a pena discutir, então me deixei ser levada. Ao entrar no carro desabei e chorei como se tivessem aberto uma comporta, pela primeira vez não justifiquei o porque de estar chorando para mim mesma, pois sabia o motivo. Quem não sabia? Eu ansiava por aquele momento, por estar com ele, por sentir aquela arrogância ridícula. Sorri mentalmente, não precisava enganar a mim mesma mais uma vez, e nem conseguiria. Mas ao mesmo tempo em que chorava igual a uma condenada por ter meu desejo atendido, pensava que Helena Sampale tinha orgulho de sobra e se este ordinário pensava que era só chegar e eu ia pular no colinho dele, estava muito enganado! Esse filho de uma égua, me perdoe Dona Marieta, vai comer o pão que eu vou amassar com meu salto Gucci que comprei na promoção! Ahhh se vai! Por que sou dessas, querido!
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Helena
RandomHelena é uma mulher maravilhosa que ama o que faz. Tem em sua avó sua maior companheira. Seu tamanho 46, seus cabelos cacheados e seu conhecimento de mundo a fizeram uma mulher perspicaz. O problema agora é lidar com seu novo chefe...