Será o destino meu amigo?

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''O destino, como os dramaturgos,

não anuncia as peripécias nem o desfecho.

-Machado de Assis.''

A noite fora difícil para ambos. Cabeça e coração trabalhando juntos, incansavelmente, para lembrá-los do quanto o dia que passara mudou a vida e os sentimentos de cada um. E o que eles não faziam ideia, era do quanto ainda iria mudar.

A conversa entre Regina e Zelena fizera com que a morena lidasse melhor com tudo que estava sentindo. Ou ao menos tentasse. Não é de uma hora para outra que coisas dessa complexidade são resolvidas, certo? Pelo menos é o mais compreensível. Lidar com sentimentos que nenhum dos lados esperava é demasiadamente complicado. Lidar com sentimentos, por se só já é bem complicado.

Regina dormia em um sono recém-adquirido, de quem passara a noite em claro. Um sono que chegou para sessar toda a batalha que seu âmago estava vivenciando. Era tudo que sua mente barulhenta pedia, silêncio! Mas, ao que parecia, o tempo não compartilhava do mesmo desejo da morena. O tempo ou qualquer força maior não estava de acordo com aquele sessar de pensamentos. Com a calmaria.

Regina foi desperta pelo barulho estridente e extremamente irritante de seu despertador, e naquela mesma hora desejou ter poderes mágicos e fazê-lo sumir com um simples estalar de dedos. Mas, infelizmente, no mundo real esse desejo não poderia ser atendido, para que o barulho pare as pessoas precisam fazê-los parar.  A morena levou alguns travesseiros ate seu rosto afim que o barulho diminuísse, coisa que não adiantou muito. Ela se aproximou do aparelho, desligando-o, fazendo com que o silêncio da manhã voltasse a reinar. Tudo que ela queria era dormir para não pensar, mas nem isso conseguiria. Regina permaneceu um bom tempo debaixo das cobertas e sua mente voou diretamente para certo loiro de olhos azuis intensos. Bateu os dois braços na cama em sinal de irritação. Resolveu levantar-se, abrindo as cortinas e pode se deparar com um céu tão azul quanto às orbes que estavam rondando seus pensamentos há um instante atrás. ''por que tudo tem que ser azul? Droga!''

Com a animação de quem não queria estar de pé, dirigiu-se ao banheiro para se arrumar, afinal, o dia tinha que começar alguma hora. Permitiu-se relaxar com a água quente que caia sobre seu corpo, torcendo para que limpasse também seus pensamentos. Foi ate seu closet, vestindo uma roupa leve e logo em seguida seus pés se direcionaram para a cozinha, atrás de um bom café da manhã.

Sua cozinha seguia a mesma linha de decoração de sua sala, amava como tudo tinha sido decorado, como tudo ali tinha sua cara. É uma cozinha espaçosa, com uma grande janela de vidro que dava pra ver toda a plenitude de Nova York, os eletrodomésticos eram de um cinza metálico e o restante dos moveis são pretos, sua cor preferida, além de um balcão no meio coberto por mármore na cor cinza chumbo. Ela realmente amava preto.

Preparou sua comida e sentou-se ali mesmo no balcão, não era de usar muito a mesa de jantar, preferia as coisas mais praticas. Lembrou-se que no dia anterior, naquela mesma hora, estava indo ao encontro do desconhecido. Questionou-se se não poderia fazer isso de novo, se não poderia apressar o destino, se não poderia ela mesma ser a escritora daquela cena. Tudo que ela queria era poder encontrá-lo outra vez, mesmo que aquilo fosse quase impossível.  Decidiu por fim se agarrar a aquela possibilidade.

Se quisesse encontrá-lo teria que sair naquele mesmo instante. Colocou o prato e a xícara na pia e foi até a sala pegar sua bolsa e as chaves do carro que deixara no dia anterior na mesinha de canto. Ela sentia seu coração dar leves sobressaltos, como se aquilo fosse à atitude que ele mais estava esperando. Como se a cada batida desregulada viesse junto à confirmação que o caminho que ela escolhera fora o certo.

Mas, essa certeza não durou muito tempo. O som de seu celular veio como um banho de água fria. Um puxão para a realidade.

Ela atendeu como se sentisse que seus planos escorrendo pelo ralo.

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