Quando ela se faz cais - Parte 2

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Acalentar (v.): é um abraço que esquenta mais do que o normal. É sentir o toque do seu cabelo no meu pescoço. É acalmar as batidas do meu coração. É o colo da mãe. É dormir sozinho com três travesseiros. É quando sua voz nina a minha insegurança e eu consigo respirar melhor. É um segurar de mãos com a pessoa certa.

É quando estar nos seus braços me dá força.

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E estar nos dela o dava.

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- Eu não sou seu filho, senhor Lockesley! – a voz de Regina ressoou dura, fazendo com que o mais velho levantasse a cabeça, encontrando um olhar tão duro quanto suas palavras em outrora.

A passos firmes, Regina adentrou a sala ampla e impecavelmente decorada – digna do presidente de uma das mais renomadas construtoras da Inglaterra, não tão digna assim da pessoa que a ocupava -, permanecendo no centro da mesma, a alguns passos de onde o senhor encontrava-se sentado atrás de uma majestosa mesa de mogno, olhando-a com uma notória curiosidade nas orbes cristais.

As grandes janelas de vidro, no lado esquerdo do ambiente, davam, as pessoas presente ali, uma visão privilegiada de toda a vista sem igual da cidade Londrina. Por alguns segundos o silêncio tomou conta do lugar, a mulher o analisava com uma seriedade sem tamanho, talvez quisesse, de alguma forma, entender o porquê de tanta rispidez com o filho mais velho.

- Vejo que não. – com as duas mãos sobre a planície de mogno ele levantou-se. – Bom, sente-se, Senhorita Mills. – apontou para a cadeira a sua frente. – Posso oferecer-lhe uma bebida?

- Não se faz necessário, senhor Lockesley. – negou, ajustando ainda mais sua postura, erguendo os ombros. – O que vim falar não irá demorar.

- Então se é assim, vamos direto ao ponto. – proferiu o mais velho, sentando-se novamente.

- Como eu disse, o que vim fazer aqui não tomará muito do seu tempo. – reintegrou a morena. – Certamente o senhor tem em mente sobre o que vim falar, ou melhor, sobre quem. – ele assentiu de leve. - Quando Robin me falou do relacionamento com o pai, há um tempo, eu não pude mensurar o dano que o senhor causa a ele. – começou a morena. – Mas vendo a forma que o trata fica mais que claro. Fiquei me perguntando se existe algum motivo para o senhor ser tão arrogante e autoritário dessa forma. Porém, isso é uma coisa que o senhor deve-se perguntar a si mesmo. – proferiu, com o semblante duro.

- A senhorita não acha que meu filho é grande o bastante para se defender sozinho? – perguntou, querendo mostrar que as palavras da morena não o afetaram.

- Sim, acho! Mais eu acho também que seu filho é o homem mais incrível que eu já conheci, ele é doce e gentil, tem um coração enorme. Ele é competente em tudo o que se propõe a fazer, e o mérito é todo dele, o esforço é todo dele. Só dele. Seu sobrenome não influencia em nada a pessoa que ele se tornou, e não é justo com ele toda essa sua cobrança desmedida. Essa sua busca patética pela perfeição! E eu o amo demais para vê-lo sofrer e não fazer nada. – bradou de uma vez, ofegante pela raiva que a consumia aos poucos. Fechou os olhos por alguns segundos, tentando digerir as quatro únicas palavras que fizeram eco em sua mente, fazendo seu coração sobressaltar. Não se dera conta delas até agora, saíram com tanta facilidade que parecia que sempre estiveram ali, esperando uma oportunidade para serem pronunciadas, mesmo que não fosse para a pessoa a quem o sentimento era destinado. Respirou fundo antes de continuar. - Eu sinto lhe informar que ninguém é perfeito, senhor Lockesley. Nem mesmo o senhor.

John levou a mão à gravata, por alguns instantes sentira que estava apertada demais, as palavras pareceram fugir de sua garganta, não tinha uma resposta ácida para as palavras da jovem destemida a sua frente, que estava disposta a defender seu filho a qualquer custo. Sua garganta estava seca, a saliva descia rasgando, mas a pose continuava a mesma de sempre, o empresário que não tolerava menos que o perfeito. O mesmo John Lockesley de sempre.

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