Aquele da infinitude de um arco-íris

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Robin cochilava no sofá, os olhos já pesados pelo sono em que estava entregando-se. Há poucos minutos tinha a mulher deitada ao seu lado, aproveitando da companhia um do outro, aproveitando do calor que seus corpos, já tão conhecidos, emanavam quando estavam juntos. Um barulho alto o fez sair de perto de Morfeu de forma abrupta, olhando para o lado a esposa já não estava mais ali. Estranhou. Logo, preocupou-se com a ideia de que poderia ter acontecido algo.

Levantando-se do móvel aconchegante, Locksley chamou a mulher, que nada respondeu. Adiantando os passos, já sentindo seu peito acelerar, sem nenhum motivo aparente – e mesmo assim com toda a preocupação do mundo – ele rumou até a cozinha, onde Lola latia sem parar. Sem entender, o homem voltou a chamar a esposa e questionando-a o que teria acontecido para provocar tamanho estrondo. Chegando ao local, seu coração afundou dentro do peito, da forma mais violenta que algum dia chegará a pensar que aconteceria. O medo, que estava ali há tempos, o atingirá como um gancho de direita extremamente forte. Regina estava paralisada, os âmbares refletiam medo e a expressão facial não estava tão diferente daquilo. Ao seu redor cacos de vidro espalharam-se no piso de porcelanato, mas fora quando os azuis fixaram-se no lugar onde a destra dela tocava de um modo tão protetor, que ele sentiu o sangue esvair-se de seu corpo em um estalo de dedos. Estava batendo muito mais rápido agora. Muito mais.

Sem preocupar-se com os cacos, sem os conseguir enxergá-los, na verdade, o britânico atravessou a distância que a separava dele, pedindo aos céus que tivesse autocontrole na sua própria voz, antes de falar: — O que você está sentindo, Regina? — ele sabia que ela o estava enxergando, mas, ainda assim, parecia que encontrava-se em um estado de torpor. — Fala comigo.... — pediu aflito. E dessa vez a voz vacilará um pouco.

— Está doendo, Robin.... — ela conseguiu dizer em um murmúrio. — Tem alguma coisa errada com o bebê! — e esse foi o último golpe. Locksley olhou outra vez para o ventre, com uma pequena protuberância enfeitando-o, sentindo-se pequeno demais diante de todo aquele medo que o tomou nos braços. Se ele sentia-se assim, imagina o que sua mulher não estava passando? Teria que mantê-la calma, e depois veria como lidar com seus próprios temores.

Tudo estava acontecendo em questões de segundos na cabeça de ambos. O loiro a examinou mais uma vez atrás de algum indício do líquido quente e vívido, que colocaria fim ao sonho em que estavam vivendo. Nada. Seria um bom sinal, certo? Ele preferiu agarrar-se àquilo. Ainda assim, Regina estava sofrendo, e não tinha nada mais doído para ele, do que vê-la naquele estado de agonia. Robin juntou o corpo esguio ao seu, murmurando um "vai ficar tudo bem, não se preocupe", sentindo o corpo trêmulo diante de si.

— Vamos sair daqui, meu amor! Você pode se machucar com todos esses vidros. — ele proferiu. Pegou Mills no colo, que enfiou o rosto na curva do pescoço dele, a tirando dali imediatamente. Chamou Lola antes, e seguiu rumo para onde estavam em outrora, tão em paz e alheios a tudo o que aconteceria minutos depois. — Respire fundo, tudo bem? Respire fundo.... — a voz que tentava se manter calma sempre estava ali, tentando confortá-la até que pudesse fazer algo.

Regina gemeu em angústia ao sentir mais uma pontada lhe atingir o ventre. A mão não sairá um só minuto da região, como se daquela forma ela pudesse manter seu bebê seguro no lugar que tinha que estar. Como se daquela forma ela não pudesse perdê-lo. Porque a mataria se aquilo viesse acontecer. Ainda não havia chorado, mas, certamente, logo o faria. Sentia os olhos queimando com as lágrimas acumuladas e a garganta doía pelo nó que crescia a cada segundo. A dor fizera com que paralisasse, que o medo que tanto vinha tentando vencer retornasse com tudo.

Se perguntava se em algum momento viveria sem ele.

Estava assustada, era fato, e não conseguia imaginar o que seria se algo ruim acontecesse com aquele pedacinho de amor que amava mais que sua própria vida. Queria se apegar a qualquer coisa positiva que tivesse no momento, olhou para pernas nuas pedindo, com o coração sangrando, que não tivesse nada que confirmasse o que sua cabeça estava infernizando-a a acreditar. Seu queixo tremeu ao constatar que nada havia. Alívio, talvez? Ela poderia se agarrar aquilo, não é? Da última vez em que tudo acontecerá tinha tanto sangue que ela mal conseguia raciocinar. Mas agora não tinha nada.

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