Sentada em um grande sofá que encontrava-se na varanda, olhava para as folhas das árvores pequenas que se moviam devagar com o vento, me sentindo em um videoclipe triste ao ouvir Love Hurts de Nazareth. Sim, gosto de músicas antigas... e talvez o amor seja apenas uma mentira, criada para nos deixar tristes, como diz a música.
Sem perceber por estar perdida em inúmeros pensamentos que se misturam virando uma incógnita que nem dá pra lembrar depois, notei alguém sentando ao meu lado, fazendo-me virar o rosto e sorrir com satisfação. Vinícius olhava para onde meus olhos estavam direcionados, bem tentando encontrar o que me distraía. Depois virou -se para mim, com cara de desdém:
- Onde está o fantasma que chamou tua atenção ?
- Na minha frente! - disse divertida, fazendo- o arregalar os olhos, boquiaberto e com uma surpresa proposital.
- Meu Deus, que preconceito. Posso denúncia-la!
Gargalhei muito com aquele teatro, me erguendo para abraçá-lo. Que bom Vinicius está ali ou então poderia ter morrido em meio à tanta tristeza.
Com o rosto apoiado perto do seu peito, senti sua mão acariciar meus cabelos:
- Está tudo bem? Por que está ouvindo essa música?
- Gosto de músicas antigas. Minha mãe sempre ouviu e acabei aderindo ao gosto.
- Legal! Sua mãe deve ser gente boa...
Gostei de ter ouvido aquilo.
- Sim, ela é muito gente boa. Você ia gostar dela.
- Possívelmente...
Vinicius então me envolveu um pouco mais, me apertando contra seu corpo. Eu fechei os olhos e senti uma sensação muito boa. Ficamos daquele jeito, ouvindo algumas músicas que passavam no meu celular por um bom tempo. Ele não falava e nem eu. Nosso contato já era suficiente.
Depois, me perguntou:
- Suas férias acabam quando?
Respirei fundo, mas lhe respondi:
- Volto pra casa na próxima semana. Hoje já é terça... Passou bem rápido.
- Como vou fazer pra te olhar?
Aquela pergunta me dispertou um sentimento tão carinhoso que me ergui para beijar-lhe o rosto:
- A gente marca de sair toda vez que bater a saudade. Acho que vou ficar vindo aqui em alguns fins de semana.
- Isso é bom, então. Fico mais aliviado.
Sorri, adorando aquilo, até que me toquei que a luz solar já estava forte e isso o incomodava a visão:
- Vini, vai colocar um óculos, garoto! Quer ficar cego?
Ao ouvir aquilo, gargalhou muito, talvez surpreso com minha preocupação. Se levantou do sofá lentamente, como quem não quisesse sair dalí:
- Tudo bem, volto logo!
Sorri, vendo-o se retirar. Era um amor de rapaz... Mais uma vez, me perguntei : Por que não me apaixonei por ele? Se isso tivesse acontecido, não estaria tão pra baixo agora...
Voltei a admirar o balançar das plantas. A música que tocava era outra, uma aleatória, mas que gosto muito por conta da letra, que não tinha nada a vê com a ocasião. A melodia é simplesmente linda. Me transmite uma paz muito grande que dava vontade de ir à praia e ficar pensando em como deveríamos dá importância aos mínimos detalhes da vida, ao mesmo tempo observando o sol se pôr. Mas as flores do jardim já me eram suficientes...Tranquila e pensativa, me animei quando ouvi a porta sendo fechada e ao virar pra trás sorrindo julgando ser Vinícius retornando, meu coração disparou tão rápido que pensei que ia morrer ao vê Rodrigo vindo até mim, sentando-se no sofá onde eu estava. Orgulhosa, fiz cara de nojo e fingi que não estava alí, virando meu corpo todo para frente, olhando para fora.
- "My mind is for sale", de Jack Johnson. Uma ótima música para refletirmos sobre o que estamos fazendo com a vida nessa merda de sociedade cheia de padrões idiotas...Respirei fundo. Apesar da sua análise sobre a letra da música ter sido muito inteligente, queria que sumisse. Sua presença me perturbava completamente. Fiquei calada, percebendo que me observava, possivelmente procurando algo para conversar. No entanto, foi direto:
- Você está namorando o Vinicius ?
Franzi as sobrancelhas. Por qual motivo aquilo lhe interessava? Fingi que nem havia ouvido e pensando que iria se retirar depois do vácuo, prosseguiu:
- Sei que está chateada comigo, mas sei que ainda gosta de mim. Sabendo disso, te peço pra não se envolver com ele. Ele é um cara bacana pra caralho e se eu não te amasse tanto, até diria pra vocês ficarem juntos, mas a mãe dele é...
Não conseguiu concluir porque Vinicius entrou naquela área, fazendo-o calar-se. Eu estava estarrecida ao ouvir aquelas palavras. O que será que queria dizer? A Vilma? A Vilma era o quê, afinal?
- E aí, Vini! Como é que está?
Vinicius se aproximou, usando um óculos de grau e dando a mão para meu tio em uma saudação:
- Beleza, Rodrigo! E a empresa? Tudo pronto?
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IRMÃO DO MEU PAI
ChickLitJá fazia um bom tempo que Samanta não possuía um vínculo afetivo com seu pai, Ricardo. Por conta disso, esperava ansiosamente pelas férias daquele ano para aproximar-se dele e ter um convívio entre pai e filha. Só não esperava que ao chegar na casa...