Indo para a baladinha

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Já havia passado quatro dias desde o dia que eu havia chegado naquela casa e sinceramente, estava entediada. Joguei-me de braços abertos na cama, respirando fundo e Vinícius girou sua cadeira para minha direção:

- O que foi?

-Ah, não aguento mais ficar o tempo todo aqui. 

Ele voltou sua atenção para frente do computador, como quem não concordava. 

- Procura algo para fazer!

Sentei-me depressa, quase gritando com ele: - Me dá só um palpite.

- Sei lá! 

Entortei a boca, com desdém: - Ajudou bastante! 

De repente um estalo na minha cabeça me fez levantar e correr até Vinícius, puxando a cadeira para mim, para que me olhasse, entusiasmada.  Aqueles olhos azuis claros já não tão tímidos me fitaram, esperando a novidade. - Vamos sair? Vamos para alguma baladinha? Existe alguma por aqui?

Ao notar que a "novidade" não lhe interessava muito, girou a cadeira de volta para a máquina:

- Acho que existe sim, mas não vou com você.

Parecia óbvio que não teria interesse naquilo. Mas mesmo assim, fiquei frustrada. A esperança era minha fiel companheira.

- Ah, poxa, Vini! Vamos sair um pouco dessa casa. Vamos fazer algo diferente.

- Vai me desculpando, mas não tenho paciência para isso. Mas chame o Rodrigo. Acho que ele gosta dessas coisas 

Meu rosto iluminou-se em um sorriso. Que ideia genial. Aquilo seria ótimo para nos aproximarmos. Esses últimos dias tivemos alguns encontros pela casa cheios de investidas subentendidas, mas ele sempre dava um jeito de fugir. Até parecia que era um rapaz respeitador... Mas será que se eu não fosse sua sobrinha, já teria me pego?

- Tenho certeza! – Vinícius disse do nada, me assustando. Que isso, meu Deus? Ele estava lendo meus pensamentos?

- Certeza do quê? – quis saber, achando muito estranho

- Que ele gosta dessas festas. É capaz dele ir com você.

Franzi a testa diante aquilo, mas deixei passar. Já estava suspeitando dele ser um vampiro mesmo. Haha! Que louca!

- Você poderia ir também. Fazer algo diferente, sair desse quarto um pouco.

- Mas eu saio.

Entortei a boca, cruzando os braços: - O quê? Do quarto para a sala, da sala para o quarto, ou do quarto para o jardim e do jardim para o quarto?

Deu de ombros: - Sim e daí? Não é sair do quarto?

- Ai, você é muito chato! Vou procurar o que fazer.

Não se doeu nem um pingo com minhas palavras, vidrado no computador: - Tchau!

Com isso, saí daquele quarto, dando dedo para ele. Engraçado como já tínhamos uma certa intimidade. Em menos de uma semana, já havia conseguido fazer o que ninguém tinha conseguido. Pelo menos eu acho...

Quando anoiteceu, após o jantar em família, com direito a ruiva do meu pai, fui sentar na varanda. Olhando para a escuridão que estava o jardim, levemente iluminado pela lua cheia, comecei a pensar. Acho que essa mulher só vivia na rua ou então era que nem o filho: viviam trancados no quarto. Eram raras as vezes que eu a via e sempre estava muito bonita, como se estivesse voltando de algum lugar. Mas meu pai me disse que ela não trabalhava. Então, por onde andaria por esse tempo todo?

De repente, Rodrigo chegou naquele lugar, fazendo-me esquecer de tudo. Para a minha surpresa, sentou-se em uma cadeira próxima, sem me olhar. Por todos esses dias, parecia que estava me evitando. Fazia questão de não ficar mais sozinho comigo e isso me incomodava. Será que estava fugindo de mim? Tentei transmitir comodidade e me mantive calada, até ele falar:

IRMÃO DO MEU PAIOnde histórias criam vida. Descubra agora