Levada presa!

9.5K 624 39
                                    

Olhei pelo vidro do local e comprovei quem era pelo ronco característico do motor da moto. Senti um frio na barriga e ao mesmo tempo, um pouco de arrependimento por estar ali.
De manhã cedo, Rodrigo havia aparecido no meu quarto sem ser chamado, me pedindo para encontrá-lo na lanchonete próxima de casa para uma conversa em particular e que não poderia ser naquele local. Lhe mandei ir pra puta que pariu umas vinte vezes, mas todas essas vezes me pediu, pacientemente, para comparecer ou então estaríamos correndo um grande risco. Aquelas últimas palavras me estremeceram. Era uma ameaça ou um alerta?
Depois de hesitar bastante, disse que iria pensar no seu caso. Ele assentiu e como um estranho, saiu do meu quarto comprovando se não havia ninguém no corredor.
Passei o dia inteiro analisando as possibilidades . Será que me custaria algo ir ao seu encontro? E se quisesse me enganar mais um pouco, longe da vista de sua amante para conseguir mais algumas horas de prazer com a otária aqui. Ou será que era algo tão terrível que tinha receio de contar e ela acabar descobrindo? Tantas perguntas que só poderiam ser respondidas se eu fosse.
Era umas 17:00 quando lhe mandei a mensagem confirmando. Me arrumei basicamente, com short jeans, camiseta e tênis, solicitando um veículo por um aplicativo no celular. Fui até o portão de entrada, caminhando por entre as plantas e o carro já me esperava. Não demorou muito para chegar ao local e preferi sentar em uma mesa um pouco mais distante para tentar me livrar das conversações do ambiente. Era uma lanchonete simples, porém, cheia de jovens e famílias que possivelmente iam para alí a fim de livrar -se do trabalho de preparar uma refeição. Tocava uma música atual agitada mas em um volume não tão alto, proporcionando um conforto auditivo.
Não esperei muito. Rodrigo chegou adentrando como se fosse uma divindade que irradiava uma luz própria. Era inacreditável como poderia chamar tanta atenção... Confesso que homens tão bonitos assim são raridades por aqui, mas Rodrigo ganhava até dos mais belos.
As garotas, mulheres e até homens viravam para vê-lo.
Ficou um pouco parado na entrada, me procurando com as mãos na cintura. Nem me preocupei em fazer algum sinal para me perceber, mas assim que seus olhos bateram em mim, veio depressa por entre as mesas ocupadas, então se sentando na minha frente, sorrindo rapidamente. Mas depois ficou muito sério. O observei um pouco com os cenhos franzidos e comecei:
- O que você quer?
Então ergueu o rosto e me encarou. Estremeci quando isso aconteceu, mas me contive:
- Primeiro, quero dizer que tudo o que você viu não é verdade.
Um riso de deboche fugiu da minha garganta de forma inesperada. Com certeza estava brincando, curtindo da minha cara:
- Acha que sou burra, louca ou cega?
Ele balançou a cabeça em negação:
- Não. Sei que é confuso, mas vou te explicar.
Enfim entendi o porquê de ter proposto aquele local. Em um ambiente público, cheio de gente, dificilmente eu daria uma de doida. Como era esperto! Não sabendo ele que adoro um leve barraco... Mas me segurei.
- Bom, serei direto e sem rodeios.  A Vilma descobriu que estávamos ficando. Não sei quando suspeitou, mas chegou pra mim com uma foto em que nos beijávamos em algum canto da casa, sem nem suspeitarmos de algo. Com isso, tive que deixar a impressão que só queria te comer para que assim, podesse fingir uma certa compatibilidade. Isso acabou fazendo com que ela me visse como um cúmplice, afinal, eu monstrava concordar  com cada loucura que me contava. Mas minha real intenção era tê-la vagamente manipulada para ficar a par daquilo que almejava.

Ouvi aquilo atentamente, olhando fixamente em seus olhos. Já tinha ouvido falar que uma pessoa segura de suas palavras te encara sem desviar o olhar. Se fosse assim, Rodrigo parecia estar sendo sincero. No entanto, ele conseguia influenciar uma pessoa facilmente. Talvez manter-se emocionalmente estável diante de uma situação dessas era extremamente fácil.
Não sabia se podia acreditar. Já estava tão frustrada com tudo que havia feito comigo... O pior de tudo foi vê-lo beijar aquela desgraçada como se estivesse completamente envolvido. Não podia dá uma esperança para meu coração para ser enganada novamente em pouco tempo.
Mas, parando para pensar, aquela história tinha nexo. Provavelmente a foto foi tirada há pouco tempo, durante alguma vez que acabamos nos beijando rapidamente pela casa. Que vacilo!
Me esperou pensar com paciência, me olhando. Coloquei uma mecha do cabelo atrás da orelha e muito séria, perguntei:
- Como posso saber se está dizendo a verdade?
Ele acomodou-se melhor na sua cadeira e parecendo mais relaxado, começou:
- Ela tem um plano. Quando soube que você gostava de mim, propôs que mantivesse esse contato com você para que em um futuro próximo, eu pudesse manipulá-la para te fazer passar boa parte da sua herança para mim. Depois disso, era pra eu te deixar para poder viver com ela, assim somando a herança dela com a sua.

IRMÃO DO MEU PAIOnde histórias criam vida. Descubra agora