Capítulo 8 - Agradável Companhia

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Não sei muito bem como aconteceu nem por que eu a convidei, mas naquele momento ela estava ao meu lado em meu carro, conversávamos como duas pessoas que se conheciam a tempos. O que sentia por ela me era desconhecido, como quando eu vi aquele imbecil a tratar daquele jeito eu não pude me controlar, a necessidade de defende-la foi mais forte, o que estava acontecendo comigo?
-Então me conte um pouco mais sobre essas crianças a quem estamos indo visitar. - Ela disse quebrando o breve silêncio entre nós.
-Você vai adorar! São crianças órfãs, vou até essa clínica para atende-las. Imagino que a vida de um órfão não deve ser nada fácil, mas apesar de ir para fazer com que elas se sintam melhor, sou eu quem sai de la melhor, é incrível como elas são fortes.
-hum...
Ela ficou em silêncio, pareceu ter ficado triste....Claro seu idiota, ela disse que não tem família, ela deve ter pedido os pais recentemente.
-Desculpe, agora me lembrei que você perdeu seus pais não é? Me perdoe ter tocado nesse assunto e ter te deixado triste de alguma forma.
Ela respirou como se segurando o choro.
-Não é isso.... é que .... eu cresci em um orfanato.
Silêncio. Eu não sabia como responder a ela, eu era realmente um IDIOTA!
-Mas não se preocupe não fiquei triste, apenas emocionada em lembrar da minha infância, dos meus amigos, e das cuidadoras do orfanato.
-Clara, eu não sabia, sinto muito.
-Não se desculpe, eu vou adorar, poder ver essas crianças e fazer algo por elas.
-Ótimo, elas vão adorar você.
Continuamos nossa conversa até chegarmos, era uma clínica simples e pequena, descemos do carro e seguimos até lá. A diretora da clínica me esperava quando cheguei.
-Boa tarde Lucas, seja bem vindo novamente.
-Boa tarde Roberta.
Ela era uma mulher jovem, loira, muito bonita, mas tinha um leve defeito ao meu parecer, dava em cima de mim descaradamente. Alguns homens até gostariam disso mas no meu caso eu detestava, ainda mais na frente das crianças. Quando ela viu Clara do meu lado, faltou bufar, então vi uma chance de afasta-la. E cochichei no ouvido de Clara.
-Quer me devolver o favor de hoje de manhã? -Disse esperando que ela entendesse. Ela sorriu e piscou pra mim, como entendido.
-Roberta deixe me apresentar Clara.
-Ola - Clara a cumprimentou.
Roberta a olhou de cima em baixo, e concluiu.
-Ela é sua nova assistente?
-Não, Clara é minha namorada.
A puxei pra perto e segurei a vontade de rir ao ver a cara de Roberta após tal revelação, bom quem sabe assim ela me deixa em paz. Olhei para Clara que ao me olhar sorriu, o seu sorriso aqueceu meu coração, mais uma vez me perguntei o que estava acontecendo comigo?
-Bom, cadê as crianças?
-Ainda não chegaram.... Mas vocês podem aguardar no consultório...quando elas chegarem vocês serão avisados. -Disse ela saindo de um transe.
-Vamos? - Puxei Clara comigo pelo corredor.
Dentro do consultório fechando a porta atrás de mim.
-O que foi aquilo? - Ela me perguntou aos risos.
-Sabe só cobrei um favor a uma amiga. - mais risos.
-Nossa pensei que ela ia pular em mim quando você falou que era sua namorada. Ela é ex problemática da vez?
-Não, não, não tenho ex, nunca namorei.
Vi quando ela me olhou estranho.
-Você é.... Gay? -Me surpreendeu com sua pergunta.
-Não , na verdade eu nunca tive tempo pra um relacionamento.
-aaa tudo bem. -Pareceu aliviada.- Então quem é a fera que ia me devorar?
-É a diretora da Clínica, não gosto como ela dá em cima de mim, todas as vezes que venho aqui, muito menos na frente das crianças, então...
-Uniu o útil ao agradável. Você acha que vai funcionar?
-Pelo menos por hoje sim.
Eu expliquei a ela todos os procedimentos que iríamos realizar com as crianças seriam apenas consulta de rotina nada de mais.
-Então é isso, você só precisa organiza-las por idade iremos atender as mais novas primeiro pois são mais impacientes, e depois chamar cada uma delas quando for a sua vez.
-Entendido Doutor. -Disse ela com ar de brincadeira.
A forma como ela pronunciou doutor fez meu coração pular.
-Vamos ver se elas chegaram?
-Sim, vamos lá!
Ela estava empolgada em atender as crianças, pelo menos em ver as crianças, acho que estava tão empolgada que não viu a prateleira que estava próxima a porta e tropeçou, eu a vi quase caindo e a segurei em meus braços, nossos olhares se encontraram por um momento e por um segundo mesmo sendo médico não consegui explicar minha respiração falhou e minhas mãos começaram a suar.
-Obrigada... - ela disse meio sem jeito e se afastou muito rapido interrompendo nossos olhares.
-Você está bem?
-Sim, eu sou desastrada mesmo. Vamos? - Falou séria.
Fomos até a entrada e lá estavam elas, as meninas do Orfanato Esperança, tanto meigas quanto travessas, grande foi minha surpresa quando uma das cuidadoras, acho que a mais velha delas, vendo Clara veio correndo em sua direção e a abraçou, as duas ficaram ali abraçadas em prantos. Então eu compreendi era o Orfanato onde Clara havia crescido.
-Com licença. - Eu as interrompi.
-Se vocês quiserem ir a um lugar mais reservado pra conversar eu levo vocês.
-Não não querido - me disse a agradável senhora.- Não há necessidade isso é apenas saudade.
Olhando para Clara ela disse enxugando as lágrimas.
-Oh querida como você está linda! Quanto tempo eu não há vejo.
-Tia Nancy a senhora não mudou nada, e pode ver que como a senhora sou uma manteiga derretida.
-O que faz aqui?
-Bom vim com um amigo, ajudá-lo a atender as crianças, depois descobri que se tratavam de crianças de um orfanato.
-E olha justo o nosso.
-Sim.
As interrompi novamente.
-Clara se quiser eu peço ajuda a Roberta para vocês conversarem a vontade.
-Não Lucas, podemos conversar enquanto eu te ajudo. -Ela sorriu pra mim, um sorriso radiante e sincero. Ela estava feliz.
Começamos os atendimentos, Clara estava muito a vontade com as crianças cada uma que atendiamos saia sorrindo de lá até mesmo aquelas que sempre choravam, ela as acalmava era como se fosse um dom natural.
Em fim atendemos a última menina era uma mocinha de uns 14 anos, muito simpática e tagarela.
-Muito bonito seu namorado - ela dizia a Clara quando ia entrando no consultório.
-Voce acha mesmo? - Ela disse dando risada- Eu acho ele um pouco Loiro de mais.
-O que você tem contra loiros? Eu disse a surpreendendo.
-Iiiii Ferro.... - Disse a tagarela.
-Nada , eles apenas não tem senso de direção. Sabe, eles costumam esbarram em garotas indefesas nos corredores.
Merda, ela lembrava de mim sim, do nosso esbarrão, pelo menos quer dizer então que ela me desculpou.
-Bom em minha defesa a garota em questão não era tão indefesa assim, ela sabia se defender muito bem.
Ela sorriu.
-Bom doutor, agora temos uma garota indefesa que precisa de atendimento.- E deixou a sala.
Após todos os atendimentos, fomos com as meninas do Orfanato ao parque, enquanto Clara conversava com Nancy em um lugar mais reservado, eu aproveitei pra brincar com as meninas, nos divertiamos muito quando as vi se aproximarem de nós, Clara estava com o olho vermelho com certeza tinha chorado, aquilo me deixou um pouco triste. Nancy se aproximou de mim.
-Ela é uma boa menina Lucas, não a faça sofrer.
Confesso que fiquei meio confuso com aquelas palavras, primeiro pensei que ela falava de seu tratamento, então entendi o que ela queria dizer.
-Desculpe Nancy, eu inventei a história do namoro para afastar a Roberta ela se insinuava pra mim descontroladamente. Precisava dar um fim nisso.
-Acho muito difícil esses seus olhares pra ela serem só disfarce. Cuide bem dela, eu sei que você é um bom rapaz mas ela já sofreu muito na vida, e ainda mais agora nesse momento precisa ser cuidada e amada.
Não consegui responder a ela, as crianças vieram correndo e pularam em cima de mim todas juntas. Aquele dia foi incrível, pude notar que Clara estava um pouco cansada e então a chamei para ir embora, nos despedimos das crianças e das cuidadoras, Clara deu seu último abraço em Nancy e fomos para o carro.
Ela entrou no carro calada, parecia que a alegria havia sumido de sua face, seguimos em silêncio até o seu apartamento.
Quando parei o carro notei que ela estava chorando.
-O que houve ? Se eu fiz alguma coisa errada me desculpe por favor.
-Lucas você não fez nada pelo contrário, hoje você foi um verdadeiro amigo e eu fico muito feliz por isso. Mas eu estava tão feliz que esqueci dos meus problemas e agora tudo caiu novamente sobre mim. -Abaixou a cabeça pude vê-la chorar, ali tão frágil não pude fazer outra coisa, soltei meu sinto de segurança e a abracei, pude sentir todo o peso que ela carregava em suas lágrimas.
-Clara você é mais forte que possa imaginar, eu vejo isso você. Nós vamos juntos vencer essa batalha. Eu prometo a você farei o possível na medicina.
Fiquei ali com ela nos meus braços até ela se acalmar, ela olhou em meus olhos parecia uma criança indefesa.
-Obrigada Lucas. Por tudo.
-Você não tem que agradecer é o meu dever como medico fazer tudo para salvá-la.
-Você está se mostrando além de médico um ótimo amigo.
Ela se despediu, agradeceu novamente e entrou em seu prédio. Vendo ela se afastar me lembrei do que Nancy disse e pude constatar ela era mais que paciente, mais que amiga, meu coração estava experimentando algo novo e genuíno e por mais que eu tivesse medo de assumir era amor.



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Música: Wherever you will go - The Calling

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