• Sobre as memórias da Rua dos Sonhos: Pervertido.

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|Ruanna deixou o professor sozinho outra vez, agora Guilherme tinha um endereço. Seu velho amigo e principal acusado do desaparecimento de Iris estava nos arredores da cidade, morando distante das lembranças daquela Rua e daquelas casas que serviram de suporte para um crime.
— Que desgraçado! — Pensou Guilherme ao olhar para a velha casa de Eron em Ruínas. Guilherme ficou vários minutos olhando para dentro do imóvel, querendo encontrar os olhos negros de Eron por trás das cortinas, mas era impossível, os tempos eram outros, e talvez o pervertido da Rua dos Sonhos estivesse planejando outro crime perfeito, outra saída contra outra jovem indefesa. Em meio aos pensamentos e o distanciamento da realidade, o jovem Guilhar viajou em suas lembranças sobre o primeiro caso em que Eron, ainda jovem, foi acusado de assédio.

||...||

Dois anos antes do
desaparecimento de Iris .

|Guilherme estava em meio às suas atividades extras junto à paróquia, o céu estava tão azul que o branco das nuvens desapareceu. Hernandez, o Monsenhor e gestor da paróquia, acompanhou o jovem até um pequeno quarto que existia fora da igreja onde pegaram algumas ferramentas para a manutenção do jardim na lateral do prédio.
O velho padre tentava ensinar algo novo ao garoto, mas Guilherme viajava nas palavras do seu velho amigo. A cabeça do garoto estava no automático, e vez por outro um sinal positivo de Guilherme encontrava os olhos de Hernandez. O trabalho não era agradável, o sol queimava o rosto e os braços, as costas de ambos estariam queimando em poucos minutos, mas o velho Sereno aguentaria e logo teria algo novo e mais interessante para compartilhar. A cada minuto, enquanto aparava a grama e revirava a terra, o pequeno Guilhar levantava os olhos para a casa número sete, e assim quem sabe poderia encontrar os olhos perdidos de Iris.
Hernandez entendia tudo, sua percepção ia além do que Guilherme pudesse transparecer.
— Os dias estão entediantes, Guilherme?
— Não, senhor. — Disse Guilherme levantando a cabeça mais uma vez em direção à mansão número sete.
— As aulas estão acabando e creio que você não vá querer permanecer na igreja me ajudando durante toda às férias do colégio. — O velho Sereno enxugou o suor que corria da testa rasteira. Guilherme revirou os olhos.
— Se precisar, eu venho. — Deixou escapar o menino rezando para que Hernandes não levasse aquelas palavras a sério. — Sabe padre, dizem que existem umas cavernas a dois quilômetros daqui. — Continuou Guilherme.
— Eu conheço o lugar, a área é aqui perto, é de preservação ambiental. São vários hectares de árvores, plantas, animais, cavernas e um lago bem bonito que cruza o lugar. Tudo protegido e com a segurança do exército. — O velho padre levantou o quadril e fez uma cara de dor. — Creio que vocês vão precisar de um guia, pois mesmo com a presença do exército por ali, são poucos homens para um espaço tão grande para cuidar. — O Monsenhor voltou a por as mãos na massa sem esconder a preocupação por Guilherme querer se aventurar nas cavernas que ficavam fora do bairro.
— Tenho um amigo que conhece bem o local.
— Vocês vão dormir? Acampar? — Perguntou Hernandez.
— Não, padre, não. Vamos apenas passar o dia. Talvez toda nossa turma da escola vá junto.
— Melhor assim...

||...||

|Graças às tarefas na paróquia, a manhã passou voando, e Guilherme analisou como era prazeroso esperar pela hora certa de colocar seu único jeans e ir para a escola. Ainda com a pele irritada graças às aulas de jardinagem, ele já estava pronto, colocará a melhor camisa e tomava um segundo banho com o perfume simples que mais gostava, e tudo isso num curto espaço de tempo. O menino estava crescendo, dezesseis anos e um mundo todo pela frente, no quarto bem arrumado o violão estava pendurado na parede bege, e várias notas das músicas baratas do início dos anos 2000 estavam sobre a cama.
— Vá com cuidado. — Disse Dona Sarah ao observar a evolução do filho ao se olhar no espelho grande que estava ao lado do violão. — Nada de paradinhas por aí, você vê o que anda acontecendo na televisão. — Alertou ela com mesma frase dita pela milésima vez. — Guilherme encarou a mãe pelo canto dos olhos.
— Tudo bem... — Guilherme deixou a testa à mostra, a mãe mexeu em seus cabelos e beijou o menino com carinho.
Guilherme não viu Sereno outra vez, baixou a cabeça e começou a caminhar, antes de subir a ladeira deu uma espiada para dentro da casa número sete, gravou as janelas e as portas, tentou adivinhar o quarto em que Iris dormia. Com o pescoço virado ele tentou olhar para dentro, sem êxito, não viu nada, nem ninguém, foi sempre assim em anos, mas quando o momento a trazia para um encontro surpresa em frente ao portão, tudo fazia sentido, e todos os pedidos à noite, antes de dormir valiam à pena.
Ele continuou os passos, meio desatento, quase que tropeçando nos próprios pés. Do outro lado da Rua Eron carregava uma velha mochila pesada, sempre olhando para o chão. O menino magro percebeu mesmo distante a presença de Guilherme e logo aumentou o ritmo dos passos, não queria ser um alvo fácil.
Guilherme demorou, mais logo viu Eron às pressas.
Guilherme passou para o outro lado da rua e seguiu em direção a Eron, aumentando também o ritmo dos passos. Mesmo querendo manter distância, os passos de Eron não ganhavam em tamanho para os de Guilherme e logo a diferença era mínima, e quando o menino Guilhar estava a menos de um metro de distância, Eron parou e encostou-se de costas na parede de forma repentina olhando para Guilherme assustado.

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