2018
|Beatriz estava nua, as roupas estavam jogadas pela sala de música e seu corpo estava deitado sob o de Guilherme, sua mão esquerda girava sobre os ombros largos do professor. O casal estava em silêncio e a comunicação era feita apenas por carinhos constantes, o tempo não existia mais. O chão acolheu os dois, lençóis antigos serviram de proteção, e o piano, o velho Steinway, vigiava os amantes que rolaram por ali por longas horas. O desejo deu lugar à serenidade, o cheiro agora estava misturado e os dois conseguiam reconhecer o perfume que jamais seria esquecido.
A silhueta do quadril de Bia foi notada quando Guilherme abriu os olhos, ele passou a mão quente sobre ela e mordeu a orelha da menina, ela estremeceu deixando um sorriso doce penetrar a alma do rapaz. O jovem Guilhar queria mais, Bia também e, com a madrugada, vários orgasmos poderiam ser explorados ali, não importava nada lá fora; nem o tempo de dor, nem as piores histórias sobre aquele lugar e as pessoas que já não estavam mais entre eles.
— Você me assumiria? — Perguntou Bia ao tocar os lábios de Guilherme.
— Eu tenho trinta anos Bia, sou seu professor. — Ele beijou a menina.
— Então você foi apenas mais um na minha vida? — Beatriz girou o corpo e se pôs frente a frente ao homem que desviava o olhar.
— Não sou mais um em sua vida, temos todo o tempo do mundo. Existe um mundo lá fora... — Ele buscou em algum lugar na escuridão os olhos negros de Beatriz. — Você sabia?
— Sabia sim... — Ela o beijou lentamente colocando sua língua disponível ao professor. — Vamos criar nossa ilha?
— Ilha? — Ele quis rir.
— Sim. — Beatriz se arrumou e apoiou o cotovelo no chão para girar sobre o peito de Guilherme. — Um lugar só nosso onde ninguém poderá interferir ou atrapalhar. — Ela esperou ele pensar e beijou seu pescoço duas vezes. Guilherme afagou os cabelos negros de Beatriz com calma. — Acho que você não consegue mais viver sem mim.
— E a recíproca é verdadeira, Bia. — Os dois riram.
— Os amantes deveriam morrer no auge do amor... — Disse ela ao encolher o corpo nu ao de Guilherme.
— Deveriam... — A voz dele escapou mansamente.
— E quem morre assim é privilegiado. — Continuou Beatriz.
Guilherme a apertou forte contra o peito.
— Onde você estava esse tempo todo, professor?
— Uma pergunta clichê? — Perguntou Guilherme segurando o riso. Beatriz levantou os cílios destacados e mandou uma cara de poucos amigos.
— Uma menina de 16 anos não é uma menina de 16 anos sem os clichês. — Ela deixou escapar o sorriso mais lindo do mundo e prosseguiu. — Nossa relação não é um clichê professor.
— Concordo... — Disse ele rapidamente.
— Se eu ficar, você promete me proteger? — Bia mandou outro olhar de baixo pra cima.
— Do quê? — Guilherme realmente não conseguia ver medo nos olhos dela.
— Das pessoas...
— Prometo para sempre te proteger. Você é minha segunda chance e eu não posso perder de novo. — O silêncio entre carinhos voltou à velha casa.
Aos poucos, a mão esquerda do professor desceu pelas costas da garota e seus dedos encontraram uma vagina molhada. Em círculos ele copiou com a língua os movimentos que eram feitos lá em baixo, Bia foi cedendo aos poucos e suas pernas responderam se abrindo lentamente.||...||
2007
•Onze anos antes.|Iris sentou sobre o sofá bege da sala ampla que era decorada com móveis dos anos 80. Na cozinha, sua avó terminava de assar alguns biscoitos caseiros e fazer um café quentinho para comemorar aquele dia. Na sala, se espremiam alguns amigos da escola, professores, parentes, e meia dúzia de moradores da Rua dos Sonhos, a mansão antiga daquela rua estava em festa.
"Ela passou em primeiro lugar na seleção de escolas públicas".
"Parabéns! Além de bela, inteligente".
"Eu sempre soube que seu futuro estava garantido".
"Ela só completa 18 em Maio e já vai para a universidade".|O avô de Iris estava sentado sobre sua cadeira de balanço olhando através de uma janela, sentindo toda a alegria de alguém que assumiu a neta muito cedo e fez tudo que pôde para que ela conseguisse um bom espaço naquela cidade onde as pessoas se vendiam e compravam umas as outras todos os dias. Ele preferiu ficar só, ao seu lado um jornal mostrava a lista dos aprovados no curso regular de Direito da melhor universidade do Estado. Iris iria longe, todos sabiam, a beleza não a fez esperar pelas ondas, a menina resolveu ir para o mar, correr atrás dos seus sonhos e mostrar que era mais do que a coroa que ganhara no último verão como a jovem mais bonita daquela cidade. Walter observava cada uma das pessoas que parabenizavam a neta tímida que distribuía sorrisos e um sinal positivo para cada nova pessoa que entrava.
Guilherme foi o ultimo a chegar, Clarice se prendia ao lado da amiga.
— Eu sempre soube que os resultados viriam. — Disse Salvador, o professor de biologia. — Clarice, você poderia bater uma foto de Iris comigo?
— Claro que sim, professor. — Salvador entregou à Clarice uma câmera Sony de cinco megapixels.
— Vamos lá, Guilherme! Venha também! — Salvador puxou o amigo para perto e os três sorriram para as três fotos em sequência que Clarice tirou.
Guilherme estava calado o tempo todo, apenas sentou ao lado da namorada enquanto recebia alguns apertos de mão.
— E você, Gui? — Perguntou uma amiga de Iris que tinha uma franja que cobria a testa larga e oleosa.
— Eu? Ah sim, eu... — Ele se arrumou no sofá e sorriu para Iris, que não retribuiu. — Eu vou de matemática. Fui aprovado na chamada regular também.
— Que coisa maravilhosa... — Disse a menina perdendo a voz.
— Mesma universidade, setores diferentes. — Disse ele sem tirar o brilho de Iris.
— Faz cinco anos que nossa escola não aprova ninguém em um curso de referência como esse. — Disse Salvador trazendo Clarice para perto. — Eu imagino a felicidade de todos da sua família, Iris.
— Sim, professor. Não poderiam estar mais felizes. — Iris deixou escapar um leve sorriso e voltou ao seu mundo interno.
— Eles amam você, Iris! Não é mesmo, Gui? — Salvador bateu com as mãos fechadas no ombro de Guilherme, que parecia dormir. Iris olhou de lado e novamente não se envolveu no assunto que poderia se alongar.
— Sem dúvida! Estamos todos felizes. — Deixou escapar Guilherme. — Iris tem um mundo pra ganhar.
— Gente... Vocês poderiam nos dar licença? — Iris tocou as mãos de Guilherme e o convidou a segui-la. Clarice, a menina de franja e Salvador acompanharam o casal subir as escadas.
— Ela não está bem... — Disse Clarice recebendo a confirmação da menina ao lado.
— Tudo se resolve! — Disse Salvador ao pegar um dos bolinhos que circulavam pela sala da casa. — É muita informação para ela e Guilherme. A vida real começa agora, eu sempre disse isso a vocês.
Iris e Guilherme subiram até o primeiro andar, ela abriu a porta do quarto e sentou, convidando o rapaz a fazer o mesmo.
— Não estamos bem. — Começou a menina. — Acho que é visível isso.
— Sim... Concordo. E qual seria a solução se eu amo você? — Guilherme se aproximou e beijou com delicadeza a testa da namorada.
— Precisamos nos afastar um pouco e decidir se é esse tipo de relação que queremos para sempre. — Ela não olhava nos olhos dele.
— Tudo bem... O meu primeiro amor, que mora na minha rua, estuda comigo e me fez viver dias incríveis está confusa e quer que eu acredite que essa mesma dúvida também é minha. — Guilherme levantou. — O mesmo amor que senti quando entrei aqui na primeira vez ainda guardo aqui. — Guilherme apontou o indicador para o peito e esperou algo que o fizesse acreditar que tudo poderia voltar a ser como antes.
— Eu não sei o que dizer... — Disse ela ao baixar a cabeça e colocar as mãos sobre os joelhos. Guilherme respirou fundo, observou a paralização dos movimentos de Iris que o fez entender que estava convidado a sair.
— Tudo bem. Vou deixar você pensar sobre todas essas coisas legais que te aconteceram. — Ele passou as mãos no cabelo dela e parou ao lado dos olhos claros do seu primeiro amor. — Olha, Iris, pessoas são substituíveis, histórias não. — Iris jamais esqueceria aquela frase costumeira dita tantas vezes pelo Padre da paróquia em seus sermões dominicais.
Os dois ficaram calados por algum tempo e lágrimas escorreram dos olhos da menina, molhando a mão de Guilherme. Ele enxugou o rosto de Iris e notou que os olhos da menina à frente não se abriram mais. O jovem Guilhar deu meia volta e caminhou para a porta.
— Guilherme! — Chamou ela antes que ele concluísse a partida.
— Oi? — Falou Guilherme com a voz embaçada por trás dos ombros desejando palavras que o fizessem abandonar a ideia de desistir de toda aquela história.
Iris não abriu os olhos e seu rosto estava coberto em lágrimas.
— Por favor... pede ao seu amigo pervertido que pare de me seguir. — Exigiu ela.
— Eron?
— Sim... pede para aquele doente me deixar em paz. — Guilherme ouviu cada palavra lentamente e saiu do quarto de Iris.
— Pode deixar.
VOCÊ ESTÁ LENDO
"ONTEM TE VI NA RUA"
Misterio / SuspensoBaseado em dois crimes que chocaram a opinião pública e a imprensa nacional, "Ontem te vi na rua" é o primeiro trabalho de Diego Chermont como escritor. - OBRA COMPLETA DISPONÍVEL -