Uma nova chance para amar

Noah

Dia estressante no trabalho, com dezenas de demandas que meu irmão Colin como sempre deixou de cumprir. Provavelmente, irá justificar na segunda, que já era final de expediente da sexta e não ia segurar os funcionários, além de já ter combinado de ir para praia com a Eli, sua namorada.
E naturalmente, meu pai ia sorrir, balançar a cabeça e dizer :" Colin, você precisa ser mais responsável. "
E a resposta será a mesma: " Vou ser pai. Prometo."
Depois ele irá até a minha sala e irá me agradecer por ter lhe dado cobertura.
Seria até engraçado toda essa situação, se eu fosse o mais velho dos irmãos e não ele. Sendo assim, considero trágica e profundamente irritante.
Porque mesmo tendo conversado com ele sobre as consequências das atitudes dele, o mesmo não se emenda. E meus pais fazem vistas grossas para essa situação.
Contudo, tenho meus planos e para concretiza-los, preciso que Colin assuma suas responsabilidades. Quero abrir meu próprio escritório de arquitetura e urbanismo, inovar com as minhas ideias, caminhar com minhas próprias pernas.
Mas como se fico preso ao escritório do meu pai ?
Sou muito grato a tudo que aprendi e tudo o mais, mas sinto que chegou o meu momento de alçar voos mais altos.
Fui interrompido das minhas reflexões por Jenny, minha namorada há dois anos:
- Ei, bonitão !!! Desse jeito o jiu-jtsu não vai aliviar o estresse, mas sim provocar alguma lesão. Você não estava prestando atenção a nada que estava fazendo, Noah.
Fiquei olhando para ela, ignorando o que dizia e tentando lembrar o porquê eu mantinha o nosso relacionamento. Obviamente, ela é muito bonita, dentro dos padrões esperados pela sociedade atual. Magra, alta, cabelos longos loiros, acho que naturais ( nunca tinha pensado nisso).
Enquanto eu a fitava nesse exame demorado, ela também me observou :
- O que foi, Noah ?Está tudo bem ? Você está estranho ...
- Eu ... Tudo bem. É impressão sua, Jenny. - respondi sem encontrar a resposta que me fizera anteriormente- Eu vou tomar uma ducha e depois vamos ...
- Sair para jantar e dançar !!!- me interrompeu animada - Quero ir àquele japonês delicioso !!!
- Ah, estou tão cansado e quebrado desse treino. Nós podíamos ...
- Nem pensar Noah !!! - retrucou emburrada- Não vou ficar em casa de jeito nenhum !!! Vai lá, tome um bom banho, que você vai se sentir revigorado.
- Ok . Com esse incentivo ...
- Vou combinando com as meninas da Zimbábue e te encontro na saída.
Saiu gingando o quadril magro sem olhar para trás, na certeza de que tinha conquistado o que queria.
E eu me arrastei para o vestiário. Ultimamente os treinos vinham me deixando muito mais cansado do que o normal é dolorido também. Eu preciso de férias de tudo isso e, provavelmente, mudar por um tempo de atividades. Por mais que ame as lutas em geral.
Demorei no banho, para ver se as dores nas articulações amenizavam, porém depois de meia hora desisti. Além da dor, agora eu tinha o mal humor de Jenny para aturar .

Depois do jantar, em que sinceramente não ouvi metade do ela disse, já que se tratava sobre a vida da maioria das amigas da Zumba ou do Pilates (não tenho certeza), fomos dançar.
Na verdade, Jenny já tinha combinado tudo com um grupo de amigos dela dos quais eu não gostava muito e, quando chegamos lá fez aquele ar de surpresa. Decidi fingir que acreditei, para evitar um mal-estar e tentei mais uma vez, me enturmar. E mais uma vez, fui ignorado ostensivamente, enquanto ela se esbaldava na pista.
Dei uma volta e fui para a área dos camarotes, onde encontrei uma amiga de longa data comemorando o aniversário do noivo.
- Não posso acreditar, Noah !!!  Nunca imaginei te encontrar justamente aqui !!!
Cíntia era e é uma amiga muito especial. Daquelas que entram para a família e se Colin não fosse um idiota, garanto que ela não teria se afastado de nós.
A abracei, tirando- a do chão e girando, fazendo com que gritasse acima do som e, chamando atenção das pessoas ao redor.
- Pimenta, estou muito feliz em te rever !!! Como você está ?
Antes que ela pudesse responder, um rapaz alto, de cabelos escuros e bem apessoado se aproximou de nós.
- Amor, está tudo bem? - questionou sem tirar os olhos de cima de mim.
-  Tudo ótimo, amor !!! Esse é o Noah, meu melhor amigo da vida toda !!! - respondeu eufórica.
Imediatamente o grandão relaxou e me estendeu a mão:
- Então, você é o famoso Noah !!! Cara essa garota te ama e eu já gosto de você de graça !!! Muito prazer, meu nome é Márcio.
- Márcio, o prazer é todo meu !!! E fico feliz em ver que cuidou bem desde a Pimenta. Só quero saber, quando sai o casamento ?
- Ah, Noah ... estamos ajeitando as coisas. Precisamos de tempo e ...
- Você percebeu que ela está me enrolando não é ? - Márcio questionou rindo.
- Com certeza.
- Podem parar vocês dois !!! Deixa eu te apresentar minha amiga ...
- Pimenta, estou namorando.
- Ainda àquela purgante da Jenny ?! Não acredito !!!
- Amor !!!
Mesmo com a repreensão do namorado, ela não se desculpou. E percebi que não era a única a não simpatizar com Jenny.
- Eu ... hum ... gosto dela. Por favor, não fale assim.
- Noah nem você acredita no que disse, mas tudo bem. Me desculpe. De qualquer forma, vou te apresentar minha amiga por educação, ela não se interessa por brancos.
Humm, em pleno século XXI alguém ainda classifica as pessoas por raça para ter ou não interesse ?!
Meu Deus, quem era é essa criatura?! Preciso cuidar melhor das amizades da minha Pimenta.
Nesse instante, Cíntia vem trazendo pela mão uma negra  linda !!!
Cabelos cacheados na altura do ombro, curvilínea, com o rosto mais bonito que já vi. Ah e, o que são aqueles olhos profundos e castanhos, que me encaram tão sérios ?!
- Noah, essa é minha amiga Vivian. Trabalhamos juntas por muito tempo e agora que nós nos separamos no trabalho, eu não consigo deixá-la em paz.
- Vivi, esse é aquele Noah que eu tanto te falei.
- Muito prazer em te conhecer, Vivian a melhor amiga, presumo.
Me adiantei e segurei a mão dela entre as minhas. E senti um choque de energia me percorrendo da cabeça aos pés.
- Prazer, Noah o consolador.
Ela tinha uma língua afiada e o raciocínio rápido. Gostei.
Nossas mãos ainda estavam unidas, então ela pigarreou e soltou discretamente.
Eu não conseguia parar de encara - la e tinha esquecido completamente da existência da Jenny.
O silêncio se tornou estranho, então ela o rompeu :
- Bem, com licença. Vou voltar para a pista. Foi ... legal te conhecer, Noah.
Aquela pequena hesitação, me fez ferver. Qual era a dúvida ?
Bom, talvez não tenha sido "legal " mesmo conhecer um cara que ficou boquiaberto e não conseguiu falar um " a".
Ouvi o riso da Pimenta e me virei furioso.
- Posso saber o motivo da graça ?
- Você !!!
- Eu ?! Por que ?! - questionei mesmo sabendo a resposta.
- Porque ficou embasbacado diante dela, parecia um adolescente !!! Por pouco não babou.
- Amor, pára de perturbar!!!
- Eu conheço ele muito bem, Márcio.- insistiu - Ele nem lembrou de existência da purgante. Que aliás, vem vindo aí .
Cíntia fechou a expressão e com Jenny ao reconhecer com quem eu estava não foi diferente.
- Pensei que você tinha ido embora e me deixado aqui !!! Eu estou te procurando há um tempão, porra !!! - disse dando as costas para os meus amigos e me enfurecendo - Que falta de consideração do caramba ...
- Jenny, acho que não viu a Cíntia e o noivo dela , Márcio, parados bem atrás de você, não é meu bem ? -  disse fazendo com virasse e ficasse de frente para eles - Cumprimente meus amigos querida.
- Fodam- se seus amigos, Noah !!! Você não liga para os meus !!! - retrucou alterada - E essa aí nunca gostou de mim, desde a época da escola. Estou indo, isso aqui já deu no meu saco !!!
Jogou a comanda no meu rosto e saiu mais uma vez, como se fosse a dona do mundo.
Meu sangue fervia de ódio é humilhação, ela tinha passado de todos os limites.
Me desculpei com Cíntia e Márcio e, saí como um pouco atrás dela.
Na fila para pagar as comandas, tive mais uma  surpresa desagradável, a tal Vivi que Cíntia afirmou categoricamente não se interessar por homens brancos, estava aos beijos com um na pista.
E se eu já estava nervoso, não sei porquê cargas d'água, presenciar essa cena acabou com a minha noite de vez.

No caminho para o apartamento de Jenny, enquanto remoía minha frustração a imagem daquela deusa de ébano não saía da minha mente.
Decidi ir para casa e descansar, era melhor não falar com a explosiva namorada no momento.
Nervoso, confuso e com essa dor estranha e persistente em minhas articulações, a conversa não iria render. Amanhã depois de ter descansado, colocado a cabeça no lugar e com certeza sem dores, nós conversamos.
Amanhã.