Capítulo 35

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"Há uma tempestade se formando e eu estou no meio disso tudo. E isso toma o controle da pessoa que eu pensei ser, da garota que eu costumava conhecer. Há uma luz na escuridão e eu sinto seu calor em minhas mãos, em meu coração. Isso vem e vai em ondas; é sempre assim. Nós assistimos enquanto nossos jovens corações desapareciam na inundação."

Lena Luthor

Acordei com a luz do sol se esgueirando pelas frestas da cortina. Kara continuava adormecida e nada no mundo conseguia me transmitir mais paz do que vê-la ali com a respiração calma e o rosto relaxado. Tinha sido um dia difícil, uma noite horrível, mas nós tínhamos que encontrar um equilíbrio para o que viria a seguir. Meu coração ainda lateja quando penso em cada palavra que ouvi e em cada verdade que foi posta a minha frente. Tudo tinha desmoronado em tão pouco tempo, com tão poucas palavras. A montanha russa de sentimentos que enfrentei e que ainda vou enfrentar vai fazer com que muita coisa se torne mais palpável para mim, inclusive o fato de que minha filha estava viva.

Eu sequer consigo colocar o que sinto em forma de frase. Quatro anos e eu velei a morte dela, quatro anos e eu deixei seu quarto intacto, quatro anos e eu visitei todos os domingos seu túmulo vazio. A sensação é de que nada fez sentido e tudo foi em vão. Querendo ou não é como se eu tivesse enfrentando um sentimento de perda novamente, a perda da estabilidade emocional que conquistei, a perda da minha rotina e a perda do controle que eu tinha sobre cada fato da minha vida. Não é que eu não esteja feliz e aliviada por saber a verdade, por poder ter a minha filha de volta, mas ainda sim eu sinto como se os quatro anos que se passaram fossem apagados e tirados de mim de forma brusca. Como se nunca tivessem me pertencido.

Não, não será nada fácil daqui para frente e eu sei que tanto eu quanto Kara teremos muito o que conversar e ajustar. Espero apenas que sejamos fortes o suficiente para aguentar. Não consigo imaginar uma vida onde eu tenha que abdicar de alguém que amo, não agora e nem nunca; nem de novo.

Me aproximei mais do corpo de Kara e inalei seu perfume adocicado, deixando que cada partícula daquela fragrância invadisse meus pulmões. Como se conseguisse me sentir, ela me puxou para um abraço e escondeu o rosto no meu pescoço. Era sim todas as manhãs. Afaguei seus cabelos embaraçados por terem ficados úmidos a noite toda e suspirei aliviada por saber que a loira continuava ali comigo, que ela não tinha ido embora. Kara gemeu baixinho ao sentir meus dedos acariciarem seu couro cabeludo e soltou uma lufada de ar quente, me fazendo arrepiar.

─ Bom dia ─ sussurrei.

─ Hummm ─ murmurou ─ bom dia ─ se afastou apenas para me encarar. Seus olhos tão azuis ainda estava opacos, com todas as cores ainda turvas e as bolsas negras ainda presentes ─ você ainda está aqui...

─ Eu ainda estou ─ confirmei sorrindo.

─ Me desculpe.

─ Pelo o que? ─ franzi o cenho.

─ Por tudo isso ─ suspirou, deixando todas suas inseguranças transparecerem ali ─ queria poder fazer mais.

─ Kara ─ coloquei minha mão sobre sua bochecha ─ você faz o suficiente. Eu não preciso de mais ou de menos, preciso apenas de você ─ ela concordou ainda temerosa e eu pressionei nossos lábios, sentindo falta do seu gosto misturado ao meu.

─ Que horas são?

─ Não sei, mas acho que temos que descer e buscar as crianças ─ observei Kara ficar pensativa por alguns segundos ─ algum problema?

─ Não ─ mentiu. Eu sabia que ela estava mentindo ─ quero dizer... talvez?

─ Tenho certeza que tem algo te incomodando ─ suspirei ─ é sobre a Alex, não é? ─ ela assentiu que sim. Ambas nos levantamos e começamos a recolher nossas roupas. Sorte a nossa que tanto eu quanto ela tínhamos roupas a mais na mansão.

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