Capítulo 39

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Narrador

O silêncio que se seguiu foi quebrado apenas pela respiração dificultosa de Lena e, em seguida, pelo vidro sendo estilhaçado ao chão.

Nem Kara e nem Lena conseguiam processar aquela informação, não podiam acreditar que estava realmente acontecendo. Em momento como esse, tudo que se sente é impotência, fraqueza e desespero. Assim que a loira escutou a voz chorosa da babá dos seus filhos, o copo escorregou de suas mãos e assim como ele se partiu em vários pedaços pelo chão de madeira da sala, seu coração também havia se partido. Lilian tinha levado seus filhos, não se sabe para onde e nem se sabe o porquê. De tudo o que ela esperava de sua futura sogra, essa era a única coisa que não havia passado pela sua cabeça, afinal quem seria capaz de machucar crianças?

No entanto, Kara estava com medo. Sua mente não estava colaborando e temia pela segurança e saúde do Josh e da Elisa. Onde eles estariam agora?

Lena parecia estática, como se tudo a tivesse atingido de uma vez e ela não sentia nada. Entorpecida, essa era a palavra. Porém, a verdade era que sim, a morena estava sentindo tudo. Sentia dor, angústia, ansiedade, desespero, temor e principalmente, se sentia perdida. Seus pensamentos era acusativos, como sempre foram. Repetiam em voz alta dentro de si que ela não era e nem nunca seria capaz de proteger seus próprios filhos, que teria sim que se subjugar a mãe, aos seus desejos e caprichos. Lena não havia nascido para ser feliz a sua maneira. Não. Ela tinha nascido para fazer Lilian feliz.

Ao olhar para Kara e encontrar seus olhos azuis, percebeu o tamanho da dor que eles também carregavam. Seria o certo desistir e deixá-la levar sua única filha para longe? Sim, seria. Enquanto Elisa continuasse perto, Lilian não iria dar paz, não iria sossegar. Lena não era a favor de sacrifícios quando isso a machucava demais, mas o que poderia fazer agora? Ela sacrificaria tudo pelos seus filhos, morreria por eles se fosse preciso. E Kara... ela não merecia se casar ou estar ao lado de alguém que sempre a colocaria em perigo.

A loira, como se pressentisse toda a negatividade vinda daquelas íris esverdeadas, puxou Lena para seus braços, a apertando com toda força que tinha. A morena a envolveu com possessividade e chorou copiosamente nos ombros da sua futura esposa, sentindo as lágrimas dela também molharem sua blusa.

─ O que... o que vamos fazer ─ murmurou, sua voz sendo abafada nos cachos loiros da outra ─ Kara...

─ E-eu não... ─ ela fechou os olhos e tudo parecia girar ao seu redor ─ eu não sei...

Imra e Diana observavam com cuidado e paciência. A senhorita Jackson sabia do que estava acontecendo, Diana havia lhe contado tudo na última vez que havia ficado extremamente bêbada. Nunca imaginou que uma família pudesse ser tão quebrada dessa forma, mas respeitava. Todavia, algo em si dizia que nada daquilo era realmente a verdade, que talvez elas estivessem lidando apenas com a ponta do iceberg e que o verdadeiro problema estava submerso em águas escuras. A morena encarou a outra ao seu lado, ainda com os curativos simples e as marcas evidentes pelo corpo, e sorriu. Diana tinha que contar o que sabia.

─ Precisamos chamar a polícia, vamos... vamos pedir ajuda, qualquer coisa ─ Lena falou ainda chorando ─ qualquer pessoa...

─ Lena, não vai ser bom envolver a polícia assim ─ Imra comentou docilmente e se levantou ─ primeiro que Lilian é rica e é avó dos seus filhos...

─ Lilian não é nada dos meus filhos ─ Kara sibilou nervosa, passando freneticamente as mãos pelo rosto. Estava no seu limite.

─ Ela pode não ser afetivamente, mas biologicamente é ─ a morena continuou ─ o que acha que a polícia vai pensar? Seus filhos teoricamente não estão desaparecidos e outra, que prova temos que de ela os raptou?

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