Capítulo 01

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"Eu estou bem, então se quiser me machucar. Baby, me machuque de uma vez", Shoot Me - Day6

Certa vez um jovem rapaz deu as costas para a sua cidade natal e toda a vida que ele tinha construído até então e foi levado para um mundo completamente novo. As coisas nunca mais seriam as mesmas. Ele jamais poderia imaginar que a partir daquele exato momento, quando foi colocado dentro do avião contra a sua vontade, tudo o que ele era iria desaparecer - ele seria uma pessoa completamente nova, alguém que nem ele mesmo sabia quem era. Ele tiraria de dentro de si a força que jamais pensou que tinha.

Mas ela estava lá, guardada no fundo de sua garganta, e com um grito de desespero ela despertou e tomou conta de seu corpo.

O suor escorria pelo pescoço de Kun, o cabelo levemente ondulado completamente encharcado caía sobre a testa, sua respiração desregulada começava a falhar enquanto seu coração parecia que iria saltar pela boca e atravessar a rua como um animal selvagem que acabara de fugir de algum circo. Ele já não sabia por mais quanto tempo aguentaria correr, seu braço latejava e sua roupa provavelmente deveria estar cheia de sangue.

Ele não podia parar, não ainda. Não depois de ter arriscado sua vida para poder escapar daquele maldito aeroporto. Provavelmente os capangas de seu maior inimigo ainda estavam atrás dele. Corra, Kun. Apenas corra.

Possivelmente já se passavam dá uma da manhã, e o rapaz não fazia a menor ideia de onde estava. Seus sapatos velhos pisavam em poças d'água imundas, Kun atravessava becos e mais becos, não havia ninguém além dele por aquelas ruas. As placas estavam em um idioma que ele não conhecia, pareciam aqueles desenhos que as pessoas usavam para escrever nos filmes asiáticos que ele assistia quando menor - como os do Jackie Chan.

Droga, ele nem ao menos sabia em que país estava. Tinha sido privado até disso pelo maldito que o tinha colocado naquela situação.

Kun parou, coloco as mãos no joelho e respirou fundo, tentando recuperar um pouco mais de fôlego. Seu braço latejou outra vez no exato momento em que ele ouviu o barulho de um carro se aproximar, aquele foi o sinal que ele precisava para voltar a correr.

Deveria ser tarde o bastante para toda aquela vizinhança estar dormindo, se ao menos alguém aparecesse ele poderia enfim pedir ajuda. As casas não eram como as de sua cidade, todas pareciam ter saído de uma vila da antiga China. Será que era lá que ele estava? Na China? Talvez fosse.

Kun entrou em mais alguns becos.

_ Merda! — gritou ele sentindo o braço ferido doer ainda mais.

E então parou. Aquele beco era apertado de mais para qualquer carro passar, e escuro de mais para que qualquer pessoa o enxergasse ali. A essa altura com certeza estariam atrás dele.

Kun era mais valioso do que imaginava. Era um tesouro humano, com o grande "X" vermelho marcado bem sobre sua cabeça, e com um exército de saqueadores atrás dele.

Corra, Kun. Apenas corra.

Mas ele não tinha mais forças para fazer isso, e caiu ali mesmo, não desmaiou, mesmo assim não conseguia mais ficar de pé. Era como se os músculos de suas pernas tivessem deixado de funcionar, não só os da perna, ele não se sentia nem mesmo capaz de erguer o próprio braço.

Naquele mesmo momento, outro garoto se aproximava de onde Kun estava. Alguém que também não imaginava que sua vida estava prestes a mudar para todo o sempre.

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