Capítulo 19

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"Porque a cada mentira que conto a eles. Eles me contam três." I Did Something Bad - Taylor Swift

O cheiro de esgoto era forte e o nariz de Kun ardia sempre que ele respirava. Sentou-se no chão gelado e molhado e não conseguiu segurar as lágrimas que vieram de uma única vez. Se encolheu todo abraçando as próprias pernas, com o cabelo sujo grudando em sua testa. Ele não sabia o que tinha feito para merecer aquilo, mas até a morte vinha parecendo ser uma opção melhor.

Nem Juho ele conseguia tirar da cabeça, mesmo que tivesse certeza de que agora o coreano deveria estar muito melhor sem ele por perto. Kun levantou a cabeça e encostou à testa na grade de metal que o mantinha preso dentro de algum porão ou algo do tipo, ele não tinha certeza já que quando chegou ali estava completamente inconsciente.

Ele então ouviu passos se aproximando, fazendo barulho sempre que pisava numa poça d'água causada pelas inúmeras infiltrações que ele conseguia ver. Seu peito subia e descia de forma descompassada, estava assustado, querendo poder sair dali e ir embora, sentia frio, estava cheirando mal e suas roupas estavam deploráveis, até o cheiro de Juho já havia deixado o moletom.

Uma figura parou em sua frente, do outro lado da grade. Kun levantou a cabeça, com os olhos marejando e a olhou. A figura alta e forte, vestida toda de preto e lhe encarando maliciosamente, com o demônio estampado no próprio sorriso.

_ Sempre que te vejo ai sinto vontade de fazer uma enorme festa! - disse Max. - Ainda estou com raiva que quem conseguiu te capturar tenha sido a Emma, mas você tem sorte pirralho, eu provavelmente teria quebrado a sua cara e daquele seu amigo cantor antes de te trazer para cá.

_ Você ainda vai se arrepender - Max caiu na gargalhada, se agachou e olhou Kun bem nos olhos.

_ É melhor você ficar caladinho, moleque imundo - ordenou. - Recebi ordens de deixar você vivo, mas pode ter certeza que eu não hesitaria em disparar um tiro bem no meio da sua testa.

Kun estremeceu. Não conseguia entender o porquê daquilo. Max e Emma eram quase que da família, ambos haviam crescido dentro do castelo e eram muito próximos de Chin-Hwa. O que Kun tinha feito para merecer aquilo? Ele já não fazia mais ideia de há quanto tempo estava preso, talvez um pouco mais de um mês, não tinha certeza e em todo esse tempo não teve uma única resposta do porquê estava ali. Já não tinha mais nenhuma noção de tempo já que não haviam janelas no buraco onde estava para que ele pudesse ter a mínima noção do período do dia em que estava. As vezes conseguia supor, quando lhe mandavam um prato de arroz todos os dias, era sua única refeição do dia, as vezes quando Max estava em um bom dia deixava que lhe trouxessem uma segunda refeição.

_ Foi um saco ter que fingir ser produtor musical e me aproximar do Juho - confessou. - E no final não valeu de nada, eu deveria supor que aquela vadia te encontraria primeiro.

_ O que você quer? - a voz de Kun quase não saía mais, estava cansado, com fome e se sentia fraco. - Você nunca vem aqui para conversar, o que você quer de mim então?

Max levantou-se, colocou as mãos no bolso da calça e começou a girar de um lado para o outro pensativo, um sorriso leve se formava no canto de seu rosto. Ele parou, olhou para Kun agachado e começou a falar:

_ Você queria respostas, hoje você terá todas elas - ele tirou uma chave do bolso e a enfiou na fechadura da cela, Kun o olhou sem entender. - Levante-se, o chefe finalmente quer te ver.

Kun não fez nada, permaneceu ali confuso e absorto em pensamentos de duvida. Max porém não era uma pessoa paciente, entrou onde Kun estava e o puxou pelo braço, o arrastando para o lado de fora e o empurrando pelo corredor.

_ Não temos o dia todo - falou. - E preciso dar um jeito em você, não posso leva-lo desse jeito, com você fedendo como um rato.

Uma lagrima escorreu pelos olhos de Kun. Ele não queria choras, não queria se sentir fraco e indefeso, mesmo que isso fosse exatamente o que ele era no momento.

Os dois saíram do porão e Kun foi levado para um novo andar. Tudo ali era muito bonito, o chão muito bem lustrado, candelabros maravilhosos em cada canto do casarão, e todas as pessoas que ele encontrava por ali usavam o mesmo tipo de roupa; sapatos sociais, calças com corte impecável, luvas e camisa, alguns usavam ternos. Todas as peças de roupa eram pretas, provavelmente um uniforme. A maioria ali pareciam ser seguranças ou agentes especiais, estavam armados e usavam uma insígnia com o desenho de uma serpente.

_ Que lugar é esse? - Kun perguntou de cabeça baixa. Max continuou a empurra-lo pelos cantos da mansão.

_ Já disse que todas as suas respostas serão respondidas, garoto - Kun estava se sentindo exposto com tantos olhares sobre si, nem mesmo no dia de sua coroação ele se sentiu daquela maneira. Deviam sentir pena dele.

Max o levou até o segundo andar e o colocou dentro de um quarto. As paredes pareciam as de um hotel caro de Paris, com uma verdadeira decoração de luxo, a cama era enorme e haviam roupas sobre ela, do outro lado uma parede de vidro que mostrava o banheiro.

_ Tome um banho e vista aquelas roupas, não tente nenhuma gracinha pois terão dois seguranças na porta - falou ele. - Volto para te buscar na hora do jantar.

Assim que Max saiu do quarto Kun começou a olhar tudo. Pegou as roupas na mão e viu que eram exatamente as mesmas que todas as pessoas ali usavam. Ele sentia falta de ar e a barriga doía, ansioso é claro. Era melhor de apressar se não quisesse se meter em confusões.

Sentiu-se uma pessoa renovada quando finalmente entrou embaixo do chuveiro. Era revigorante. Ele passou a mão pela cicatriz que tinha sob o braço e lembrou-se da noite em que Juho o encontrou. Parecia que aquilo havia acontecido há anos. As lembranças o machucavam mais do que qualquer outra coisa - principalmente a lembrança de seus lábios de encontro com os de Juho.

Olhou-se no espelho, os olhos fundos. Estava mais magro também, com os ossos da bochecha aparecendo e o queixo mais ossudo. Kun nunca imaginou a si mesmo em um estado tão deprimente. Penteou os cabelos, já com as raízes loiras aparecendo e se vestiu. Pelo menos as roupas lhe deixavam um pouco melhor, calçou as botas que haviam sido entregues para si e esperou sentado na cama, sentindo o tecido macio das cobertas. A pessoa que era dona desse lugar deveria ser muito rica é claro.

Um mafioso quem sabe? Era muito provável que sim.

Começou a bater a perna no chão rapidamente, ansioso para poder ter suas respostas. Quem estava fazendo isso com ele? E por quê? O que Max e Emma tinham de ligação com toda essa historia? Kun não aguentava mais esperar e ainda precisava pensar em como conseguiria ir embora dali. Ele não queria morrer, não podia deixar que isso acontecesse, entretanto o que poderia fazer? Ele mal tinha forças para se quer lutar contra alguém, e ali onde estava, seja lá onde era, havia muitas pessoas capazes de o pararem em segundos, todas armadas até os dentes.

_ Está pronto? - disse Max quando apareceu horas depois, Kun apenas balançou a cabeça, levantou da cama e seguiu o homem para onde quer que fosse.

Desceu as escadas do casarão, com dezenas de seguranças os observando - será que tudo isso era só para evitar que ele fugisse? Max levou Kun até um enorme salão ao lado do que deveria ser a sala de estar do lugar. Era lindo obviamente, como uma enorme mesa de dezenas de cadeiras, lustres de cristais e velas para todos os lados, parecia literalmente a sala da jantar do castelo onde morava.

_ Gostou da decoração, Kwang? Pedi para que fizessem uma nova depois que você chegou, igualzinha a da nossa antiga casa, para você ter boas memorias - uma voz ecoou atrás de si, uma voz familiar. Kun virou-se para trás, com Max o segurando pelo braço, e deu de cara com Chin-Hwa o olhando com um enorme sorriso no rosto. - Quanto tempo, irmão.

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